JMJ Lisboa 2023: João Valério fala do sonho de uma Igreja «de pessoas», «com uma mesa de encontro» e espaços exteriores para «a surpresa»

Jovem divide-se entre a música e a arquitetura, que o leva a projetar as casas do futuro para as famílias que se conhecem e vivem em comunidade

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 10 mai 2023 (Ecclesia) – O arquiteto João Valério, músico na orquestra que vai tocar nos momentos celebrativos da Jornada Mundial da Juventude Lisboa (JMJ) 2023,  sonha com uma capital “partilhada”, “de pessoas” e construída por todos, nos dias do grande encontro do próximo mês de agosto.

“Gostaria que fosse uma cidade de pessoas não só nessa semana – e por isso esta é uma fase essencial para o crescimento para as paróquias, para os grupos – que seja uma cidade que se vai construindo, mas que o que se construa durante essa semana possa ser partilhado, levada pelo mundo, e que fique cá uma parte. Que essa cidade possa representar um crescimento para a Igreja”, refere à Agência ECCLESIA.

João Valério fala de uma cidade construída por todos, como uma oportunidade para cada um “assumir um papel mais ativo na construção de comunidades” e onde se possa “ir ao encontro dos outros”.

“Gostaria que a cidade se tornasse num espaço de convite: que as Jornadas possam ser não só algo chato, porque os transportes vão ficar difíceis e estarão cheios, mas que seja uma oportunidade de viver uma experiência do religioso – por vezes é algo com que as pessoas não se identificam, e isso será de respeitar, mas havendo a oportunidade de descobrir algo, então que o seja de facto. Por vezes nunca será esse o caminho, outras vezes será depois de muitos anos, outras vezes será apenas um caminho de humanidade”, sublinha.

Habituado a dividir a sua vida entre a arquitetura e a música – João Valério é organista na igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa – o jovem de 29 anos encontra uma “gramática comum” entre um projeto arquitetónico e uma partitura, distanciando-se, no entanto, as duas artes quando o improviso acontece.

Ambos são desenhos técnicos: um que irá ser construído com materiais físicos e outro que será construído sobretudo com som. Será uma outra pessoa a construir, e por isso será um meio de comunicação: comunica ritmos, dimensão, proporção, escala. Há um vocabulário que serve as duas artes -essa dimensão do autor arquiteto ou compositor que é interpretado por outro será talvez a situação mais comum”.

A paixão pela arquitetura, como plano e projeto sobre o seu futuro, nasceu primeiro, tendo a música sido uma companhia no seu percurso formativo, primeiro com o violino e depois com o órgão.

João Valério entende o espaço casa mais “como numa experiência”, que lhe deu “acolhimento, confiança”, onde se “desenvolveu e cresceu”, entre “poucas paredes”, apresentando a casa familiar como um espaço “com muita liberdade mas uma liberdade com regras, naturalmente”.

Na experiência familiar nasceu a experiência de Deus: “Um Deus próximo, que se faz próximo de nós em Jesus, de um Deus que no fundo é uma opção, não uma obrigação, mas é sequência de um incentivo da família para essa descoberta. Sendo uma opção, permite que exista um sentido crítico, um apurar da reflexão sobre o que é ser cristão. A fé tem uma dimensão de fé, e não terá, em alguns aspetos, muitas questões para discutir, mas é importante ter a curiosidade de procurar”, reconhece.

João Valério foi construindo a sua “casa interior”, onde a experiência de estar sozinho, com livros, ou no jardim, privilegiando a contemplação e a fruição da natureza, lhe deram, paralelamente ferramentas para uma construção individual.

“Mas a casa interior não cresce se ficar apenas dentro de casa: para isso, os amigos são muito importantes, os grupos onde nos vamos inserindo, quer na dimensão mais eclesial com grupos de jovens ligados a paróquias, como grupos onde a Igreja praticamente não tem parte – e isso também é muito importante para nos questionarmos, sendo também a oportunidade para levar a Igreja a outros que não a conhecem ou a percecionam de forma distorcida. Essa casa interior que cresce fora é essencial, naturalmente compreendendo um regresso para arrumar ideias e fazer sínteses”, explica.

Na conversa com João Valério, o arquiteto fala ainda de um “sonho” de construção de cidade, sociedade e comunidade, derivado de um estudo que recebeu o prémio Fernando Távora 2021, sobre habitação familiar em sistemas de habitação coletiva em alta densidade/baixa altura, como “possibilidade de maior de encontro com os outros”.

João Valério é o convidado do programa Ecclesia emitido esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando posteriormente disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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