Brasil: Jovens da Amazónia pretendem apresentar na JMJ Lisboa 2023 um musical sobre a abolição da escravatura

Benevides, no Estado do Pará, foi a primeira cidade a abolir a escravatura, e acolhe desde 1970 um Centro Mariápolis, do Movimento dos Focolares 

Jovens de Benevides com o bispo auxiliar de Belém do Pará, D. António Assis, e o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, D. Américo Aguiar, no Santuário Nossa Senhora da Nazaré, em Belém do Pará

Paulo Rocha, enviado da Agência ECCLESIA ao Brasil

Benevides, Brasil, 11 set 2022 (Ecclesia) – Um grupo de jovens de Benevides, no Estado do Pará, está a preparar um musical sobre a abolição da escravatura para apresentar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa.

Benevides, conhecida como a cidade “berço da liberdade”, foi a primeira da região do Brasil a abolir a escravatura, onde o processo de libertação dos escravos no município aconteceu no dia 30 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea, publicada em 13 de maio de 1888, data oficial da abolição da escravatura no país.

“A nossa região foi a primeira a libertar os escravos. A ideia de um musical vai contar um pouco da nossa história, lembrando que a Igreja teve um papel fundamental na libertação dos escravos nesta cidade”, afirmou Lucas Begot, da paróquia de Benevides, que está a preparar o musical.

O musical pretende também denunciar novas escravaturas na região amazónica, nomeadamente “a escravatura sexual, de menores e também de trabalho”.

Lucas Begot afirma que “cantar é a primeira liberdade” e que pretendem levar a “bela história que é a libertação dos escravos, em Benevides, para todo o Brasil e para todo o mundo, através da JMJ”.

A criação de musicais na paróquia de Benevides começou com a participação de 4 jovens na JMJ 2019, no Panamá, e como forma de motivar os jovens para as atividades da Igreja Católica na região, envolvendo atualmente mais de 50 jovens.

Luciana Dikson faz parte dos cantores do musical e afirma a “emoção muito grande” por poder sair do Pará e levar a cultura da região para outro país.

“Quando falamos da nossa cidade, muita gente pensa que é uma cidade pobre e que não tem nada e não valorizam a nossa cultura”, afirma, acrescentando que a cultura “tem de ser resgatada”.

Margarida Freitas, portuguesa do Movimento dos Focolares que está em missão em Benevides há 6 anos, declara um “grande fascínio pela Amazónia”, não só por causa do que no geral as pessoas pensam, e está relacionado com a natureza, a flores ou os animais, mas por causa das pessoas, que “são fantásticas”.

“São pessoas com muita dignidade. Zelam muito pela liberdade, pela afirmação da liberdade, por serem pessoas com muita dignidade. Talvez sejam muito subjugadas e reprimidas, mas têm muita dignidade no seu ser”, referiu a Margarida Freitas, indicando que terá sido por causa dessa defesa da liberdade que Benevides foi a primeira cidade a abolir a escravatura.

Diante de novas formas de escravatura praticada por grandes empresas, a missionária do Movimento dos Focolares lembrou que muitos indígenas são mortos por se oporem e desmascararem situações de exploração, uma vez que na região “o agronegócio é mais forte do que o próprio ser humano”.

Margarida Freitas faz missão a partir do Centro Mariápolis Glória, em Benevides, que foi criado em 1970 e acolhe 30 famílias, onde se recria a realidade amazónica nomeadamente o “respeito pela natureza” e a recuperação de lendas e tradições culturais.

Os jovens de Benevides participaram na apresentação que o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, D. Américo Aguiar, e uma delegação do Comité Organizador Local (COL) está a fazer no Brasil, nomeadamente em Belém do Pará.

PR

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