Francisco confessa admiração pela história do catolicismo no arquipélago nipónico
Nagasáqui, Japão, 24 nov 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco rezou hoje junto ao Monumento dos 26 Mártires de Nagasáqui, entre os quais o santo português Gonçalo Garcia, mortos na cidade japonesa em 1597, afirmando que estas figuras são uma “fonte profunda de inspiração” para si.
“Estava ansioso pela chegada deste momento. Venho como peregrino para rezar, confirmar e também ser confirmado na fé por estes irmãos, que nos mostram o caminho com o seu testemunho e dedicação”, declarou.
O segundo Papa a visitar o Japão – país que recebeu São João Paulo II em 1981 – falou da “multidão doutros mártires”, que revelaram na sua vida e morte que “o amor que triunfou sobre a perseguição e a espada”.
“É verdade que, aqui, há a obscuridão da morte e do martírio, mas anuncia-se também a luz da ressurreição, pois o sangue dos mártires torna-se semente da vida nova que Cristo nos quer dar a todos”, precisou.
O seu testemunho confirma-nos na fé e ajuda-nos a renovar a nossa dedicação e compromisso de viver o discipulado missionário que sabe trabalhar por uma cultura capaz de proteger e defender sempre toda a vida, através do ‘martírio’ do serviço diário e silencioso prestado a todos, especialmente aos mais necessitados”.
Francisco referiu que, na sua juventude, enquanto religioso jesuíta, encontrou “uma fonte profunda de inspiração e renovação na história dos primeiros missionários e mártires japoneses”.
“Não esqueçamos o amor do seu sacrifício”, apelou.
O Papa evocou ainda os cristãos que hoje “sofrem e vivem o martírio por causa da fé”, os “mártires do século XXI”.
“Rezemos por eles e com eles, e ergamos a voz para que a liberdade religiosa seja garantida a todos nos vários cantos do planeta; e ergamos a voz também contra toda a manipulação das religiões”, apelou, antes da recitação da oração dominical do ângelus.
Uma família entregou a Francisco um ramo de flores, que colocou em frente ao Memorial, acendendo depois uma vela que lhe foi oferecida por um descendente de cristãos perseguidos.
No final da cerimónia, o Papa recebeu uma imagem do Beato Julian Nakaura, jesuíta que morreu como mártir católico, em 1632.
Como jovem jesuíta, Jorge Mario Bergolgio tinha o sonho de ser missionário no Japão, seguindo os passos de outro membro da Companhia de Jesus: o país foi evangelizado por São Francisco Xavier, entre 1549 e 1552, a pedido da Coroa Portuguesa.
Os portugueses foram definitivamente expulsos do Japão em 1639 e o Cristianismo nipónico entrou numa vivência de clandestinidade, que se prolongou até à reabertura do império ao Ocidente, na segunda metade do século XIX.
205 mártires do Japão foram beatificados em 1867, entre eles sete portugueses: João Baptista Machado, Ambrósio Fernandes, Francisco Pacheco, Diogo de Carvalho e Miguel de Carvalho (todos da Companhia de Jesus), Vicente de Carvalho (religioso agostinho), e Domingos Jorge (leigo, cuja esposa japonesa e filho também foram martirizados).
Privados do clero e das igrejas, e apesar dos massacres, alguns leigos japoneses conseguiram sobreviver, transmitindo a fé em segredo de geração em geração, sendo hoje conhecidos como “kakure kirishitan” – cristãos escondidos.
OC