Missionário português, que concelebrou em Nagasáqui, testemunha «uma grande alegria, um grande entusiasmo» da população nipónica
Lisboa, 25 nov 2019 (Ecclesia) – O superior-geral da Sociedade Missionária da Boa Nova afirmou hoje que “o testemunho do Papa Francisco e a presença é a mensagem mais profunda” que fica da visita ao Japão e a “compaixão ficará profundamente no coração do povo”.
“As pessoas continuarão a viver este momento com grande esperança. A palavra-chave é esperança”, disse o padre Adelino Ascenso em declarações à Agência ECCLESIA.
O missionário português que chegou hoje a Portugal do Japão, onde acompanhou a visita de Francisco, conta que encontrou algumas pessoas, “principalmente que não estavam ligadas à Igreja”, e uma senhora revelou que as pessoas “estavam desejosas que o Papa chegasse como mensageiro da paz e o Japão aprendesse a lição da paz para que a pudesse espalhar pelos países da Ásia”.
“Posso testemunhar que havia uma grande alegria, um grande entusiasmo precisamente porque o Papa é muito respeitado e admirado por cristãos e não cristãos. No Japão notei isso perfeitamente”, desenvolveu.
Neste domingo, o Papa Francisco rezou junto ao Monumento dos 26 Mártires de Nagasáqui, entre os quais o santo português Gonçalo Garcia, mortos na cidade japonesa em 1597.
“Uma parte da cultura da cidade de Nagasáqui está concertada nesse monumento. É bastante significativo como símbolo para cristãos e não cristãos. A perseguição aos cristãos faz parte da história do Japão”, explicou o padre Adelino Ascenso que passou pelo monumento antes da chegada do Papa, de madrugada pelas 06h00, e “já havia lá pessoas e um grande interesse”.
Foi nesta cidade nipónica que o Papa presidiu à sua primeira Missa com a comunidade católica do Japão, uma minoria que é menos de 0,5% da população, e apresentou a compaixão como “verdadeiro modo de construir a história”.
“Compaixão será uma palavra que entra mais no mundo conceptual japonês do que a palavra amor, tem um carregamento mais budista, embora seja também uma palavra profundamente cristã”, destaca o missionário da Sociedade Missionária da Boa Nova que partiu para o Japão – Paróquia de Fuse, Diocese de Osaka – depois da ordenação a 21 de fevereiro de 1998 e regressou a Portugal em maio de 2015; entre 2004 e 2008 estudou Teologia Fundamental, em Roma.
O padre Adelino Ascenso, que concelebrou na Eucaristia, recorda que o Papa “parecia comovido” com a receção que teve e as pessoas “muito contentes”, a sentir que “estavam a receber uma pessoa mensageira de paz e esperança”.
Para o entrevistado tem também “uma força imensa pelo testemunho e pela presença” os encontros do Papa com vítimas diretas ou indiretas das bombas atómicas de Nagasáqui e Hiroxima, onde visitou o Memorial da Paz, e do triplo desastre – terramoto, tsunami e acidente nuclear – de 2011, em Fucuxima.
Num país onde os católicos são minoria, o antigo missionário destaca a “importância do testemunho e das obras”, que “é algo de fundamental”, a Igreja presta um serviço “sem olhar à religião do outro” e ai está o testemunho.
“A Igreja tem de aprender que só pode sobreviver como Igreja se tiver consciência de que é periferia, sair do centro. O Papa visita Igrejas periféricas, mas que são fermento, dá exemplo do que deve ser a Igreja na periferia e a igreja periferia”, concluiu.
A única visita de um Papa ao Japão, até hoje, tinha acontecido em 1981, no pontificado de São João Paulo II.
CB/OC