Repórter da RTP destaca que palavras dos Papas Francisco e Leão XIV introduzem «ética e moral» que faltam neste momento à política

Lisboa, 26 jun 2025 (Ecclesia) – O jornalista José Manuel Rosendo, mestre em Relações Internacionais, afirma que as Nações Unidas são a organização que tem de mediar a guerra de Israel na Faixa de Gaza, e definir os dois Estados, o israelita e da Palestina.
“Os palestinianos estão ali, há uma alma que permanece e é preciso resolver esse problema. Do lado israelita, os líderes que temos, e que temos tido nos últimos anos, não há nenhuma vontade de construir essa solução, aliás, é um paradoxo porque ouvimos os líderes ocidentais falarem na solução de dois Estados e ouvimos os líderes israelitas a dizer que isso já não existe, nomeadamente o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu”, disse José Manuel Rosendo, esta quinta-feira, 26 de junho, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O jornalista português da RTP1, que tem realizado reportagens no Médio Oriente, recorda que O ‘Acordo do século’ de Donald Trump, apresentado pelo presidente dos EUA no seu primeiro mandato, – uma proposta de paz entre Israel e a Palestina – que propunha “uma troca de territórios, não tem viabilidade”, porque “não é isso que os palestinianos querem”.
“Aquilo parecia, em termos económicos, muito vantajoso para os palestinianos, mas uma coisa que sempre ouvi do lado palestiniano relativamente a este conflito é que não querem uma manjedoura e um sítio para comer, querem dignidade. E isso constrói-se de outra forma”, analisou.
José Manuel Rosendo, mestre em Relações Internacionais, considera que solução dos dois Estados – um israelita e um da Palestina – “tem de ser as Nações Unidas” a definir, e lembrou que a ONU foi “corrida” deste território, nomeadamente a UNRWA, a sua agência que trabalha com os refugiados palestinianos.
“Estamos aqui numa espécie de beco sem saída, mas é um beco sem saída que não vai trazer segurança para Israel, e como é que na prática se vai construir um Estado Palestiniano é outra questão, porque também é muito difícil. Por exemplo, na Cisjordânia tem colonatos por todo o lado, cerca de 700 mil colonos israelitas em território palestiniano vai ser muito difícil criar condições para construir um Estado com continuidade territorial, sem estar salpicado por colonatos, que irão sempre ser um fator de destabilização”, desenvolveu.
O jornalista recorda que a guerra na Faixa de Gaza, entre Israel e Hamas, começou após um ataque ao sul de Israel, a 7 de outubro de 2023, e “são imagens terríveis” que chegam deste território palestiniano “completamente destruído”, com “mais de 55 mil mortos, mais de 120 mil ou 130 mil feridos, as infraestruturas praticamente desapareceram”, e as pessoas “empurradas de um lado para o outro, alegadamente para zonas de segurança”, e morrem quando vão à procura de ajuda, nomeadamente alimentar.
“Israel ainda não conseguiu nenhum dos objetivos a que se propôs, ainda agora, sete militares israelitas morreram na Faixa de Gaza: Não desmantelou o Hamas, não libertou os reféns, e ainda não conseguiu tomar conta do território completamente”, acrescentou.
“Quer as palavras do Papa Francisco, quer do Papa Leão, são importantes porque introduzem aquilo que falta neste momento à política, ética e moral, isso falta. Este conflito precisa muito disso para ser resolvido, e há aqui uma coisa que me parece evidente, não vai haver segurança na região enquanto não houver um Estado palestiniano, não há volta a dar.”
José Manuel Rosendo começou a entrevista de análise aos conflitos do Médio Oriente, “o centro do mundo”, com a guerra entre o Irão e Israel que “para já parou”, após 12 dias, e com a intervenção direta dos EUA.
“O presidente Trump tem essa particularidade de arranjar sempre este tipo de designações, que por acaso tem uma semelhança com a ‘guerra dos seis dias’ [junho de 1967, ndr], que foi Israel quem desencadeou; portanto, com o Irão as coisas parece que acalmaram, há, agora, uma dificuldade que é de saber o estrago concreto provocado pelos ataques norte-americanos aos sítios nucleares”, observou o jornalista, por causa das “radiações”, no Programa ECCLESIA, na RTP2.
A confederação internacional da Cáritas denunciou a fome que afeta a população de Gaza e o uso dos alimentos como arma de guerra, por parte de Israel, e juntou-se ao apelo do Papa Leão XIV para “silenciar as armas e restaurar a paz no Médio Oriente”.
HM/CB/OC
Médio Oriente: Cáritas Internacional denuncia fome em Gaza e uso de alimentos como arma de guerra