Irmã Lúcia (1907-2005)

Na abertura do programa celebrativo do Centenário do Nascimento da Irmã Lúcia, na manhã de 28 de Março, o director do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário, P. Luciano Cristino, apresentou, na Basílica do Santuário de Fátima,  antes da Eucaristia, uma conferência com algumas notas biográficas da vidente de Fátima Foi na igreja paroquial de Fátima, no dia 19 de Novembro de 1890, que se constituiu o lar de Manuel dos Santos (n. 3.01.1868 – + 31.07.1919), natural do lugar de Aljustrel, da mesma freguesia, com Maria Rosa, natural da Perulheira, da actual freguesia de S. Mamede (n. 6.07.1869 – + 16.07.1942). Deste matrimónio, nasceram Maria dos Anjos, a 13 de Agosto de 1891; Teresa, a 22 de Maio de 1893; Manuel, a 22 de Agosto de 1895; Glória, a 5 de Outubro de 1898; e Carolina, a 17 de Outubro de 1902; e Lúcia, a 28 de Março de 1907, faz hoje 100 anos. O assento baptismal de Lúcia, nº 31 de 1907, regista: “Aos trinta dias do mês de Março do ano mil nove centos e sete, nesta paroquial igreja de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém, patriarcado de Lisboa, baptizei solenemente um indivíduo do sexo feminino, a quem dei o nome Lúcia, nascida em Aljustrel desta freguesia, às sete horas da tarde de vinte e dois de Março corrente, filha legítima de António dos Santos e Maria Rosa, trabalhadores, naturais desta freguesia, onde foram recebidos, são paroquianos e residentes em Aljustrel. Neta paterna de Joaquim dos Santos e Maria Vitória, e materna de Joaquim Ferreira e Rosa da Encarnação. Foram padrinhos, que sei serem os próprios, Anastácio Vieira, proprietário, e Maria Rosa. Para constar, lavrei em duplicado este termo, que, lido e conferido perante os padrinhos, dos quais só o primeiro escreve, com ele assino. Era ut supra. O padrinho, Anastácio Vieira. O pároco, Manuel Joaquim de Oliveira” [Pe. Manuel Joaquim de Oliveira, tio paterno do Pe. Dr. José Galamba de Oliveira, que veio a falecer em 1909]. O Dr. Manuel Nunes Formigão, aquando do seu primeiro interrogatório aos videntes, no dia 27 de Setembro de 1917, na casa dos pais de Lúcia em Aljustrel, depois de interrogar o Francisco e a Jacinta, e antes de Lúcia, conversou com a Srª. Maria Rosa, da qual ouviu os nomes e idades dos filhos. Sobre Lúcia registou: “Completou dez anos de idade em 22 de Março do corrente ano [1917]”. (DCF 1, doc. 7, de 27 de Setembro de 1917, p. 52). Talvez tenha sido nesta mesma ocasião que o Dr. Formigão ouviu da Senhora Maria Rosa o esclarecimento, posto por escrito pela Irmã Lúcia, em 1989, mas que já comunicara, talvez desde a década de 1950 a outras pessoas, como as irmãs Carmelitas do Carmelo de Santa Teresa, de Coimbra, e, pelo menos, uma familiar, um pouco mais tarde:   “Meu Pai era muito assíduo em levar os filhos à pia baptismal. Quando eu nasci – ouvi contar a minha Mãe, numa entrevista com o Dr. Formigão, que a interrogou, perguntando em que dia eu fazia anos –, a Mãe respondeu: “Nós dizemos que é no dia 22 de Março, porque ela foi registada como tendo nascido neste dia, mas, na verdade, não é bem assim. Ela nasceu no dia 28 de Março de 1907. Era Quinta-Feira Santa; pela manhã, fui à Santa Missa e comunguei, pensando voltar de tarde, a visitar o Santíssimo, mas já não pôde ser, que, nessa tarde, nasceu ela” (só então tive conhecimento de qual era o verdadeiro dia dos meus anos, o que não admira, porque, nesse tempo em Fátima, não se ligava nenhuma importância ao dia dos anos, nem se fazia festa; por isso, era um assunto de que se não falava); “no entanto, como está registada como nascida no dia 22, continuamos a dizer que faz anos nesse dia. O Pai tratou logo do baptizado. Não lhe convinha na próxima semana, por motivo dos seus trabalhos, mas, como estava mandado que os pais levassem os filhos a baptizar aos oito dias, depois de nascidos – que, de contrário, pagavam multa -, o Pai resolveu dá-la como nascida no dia 22, para que o pároco a baptizasse no Sábado de Aleluia, que era o dia 30 do mesmo mês. De passagem, lembro aqui que, relativamente à data do nascimento da Jacinta, deve ter sucedido coisa semelhante. O mesmo Dr. Formigão, no dia 11 de Outubro, antevéspera da última aparição, registou  nos seus apontamentos duas notas sobre a idade de Jacinta: “Jacinta 5 de Março” e “Jacinta de Jesus, fez 7 a 5 de Março” (DCF 1, doc. 11, de 11 de Outubro de 1917, p. 92 e 97). A data de 11 de Março terá sido referida pelo pai da Jacinta, para que não pagasse multa, pois que o baptismo foi realizado a 19 de Março do mesmo ano, oito dias depois. O assento nº 19, do baptismo da Jacinta tem uma particularidade curiosa: está repetido integralmente, no livro de registo (fls. 8 e 8v), porque o Pároco, deixando uma linha em branco, inutilizou, com dois traços em cruz, o que escrevera, e voltou a repeti-lo, colocando, à margem e no texto, a nota: “Sem efeito”. (DCF 1, doc. 11, de 11 de Outubro de 1917, p. 8, nota 8). Voltando ao esclarecimento da Irmã Lúcia, na sua Quinta Memória: “Convidou para madrinha do meu baptismo uma jovem vizinha, afilhada da minha Mãe [Maria Rosa, afilhada da mãe de Lúcia, era filha de José Pedro Marto, irmão do pai dos videntes Francisco e Jacinta, e de Maria Antónia. Vivia em frente da casa dos pais de Lúcia]. Ela aceitou, contente, e foi pedir autorização ao pai. Como era naquele tempo, as jovens não podiam tomar nenhuma responsabilidade sem a autorização dos pais. O pai perguntou-lhe que nome iam dar à menina. Ela disse-lhe que o de Maria Rosa, porque a mãe já tinha quatro filhas [Maria dos Anjos, Teresa, Glória e Carolina] e nenhuma com este nome, que era o seu; ela também se chamava Maria Rosa e a pequenina que me havia precedido e que Deus tinha levado para o Céu, também se chamava Maria Rosa [Maria Rosa, mãe de Lúcia, no interrogatório oficial feito em 28 de Setembro de 1923, disse que “teve sete filhos, morrendo um à nascença” (DCF 2, doc. 4, de 28 de Setembro de 1923, p. 84). Tanto Lúcia como sua irmã, Carolina de Jesus, dizem que a criança que morreu, à nascença, foi uma menina. Manuel dos Santos, irmão de Lúcia, contou ao Padre Joaquim Maria Alonso, em 1968, que se tratava de um menino. Os pais iam num carro para uma fazenda, chamada Estrumeira da Conceição e, à saída da Casa Velha, o carro voltou-se. Maria Rosa, que andava grávida, regressou imediatamente a casa e deu à luz um menino morto (apontamento inédito do P. Alonso, no Arquivo do Santuário de Fátima). Talvez tenha sido baptizado ou baptizada em casa, sob condição. Mas o baptismo, se foi realizado, não ficou registado no livro de assentos de baptismos. Este facto verificou-se entre 1903 e 1906]. “O pai [da madrinha] respondeu: Não! Tendes de pôr-lhe o nome de Lúcia! Se assim não for, não te autorizo a seres madrinha [Carolina de Jesus, irmã de Lúcia, disse-nos que também foi José Pedro Marto que escolheu o nome de baptismo para ela, pois era marido da madrinha, Maria Antónia. O padrinho desta foi o mesmo de Lúcia, Anastácio Vieira; cf. também “Voz da Fátima”, Leiria, 34 (405), 13 Jun. 1956, p. 4, cols. 3-4; “Voz da Fátima”, Leiria, 65 (775), 13 Abr. 1987, p. 3, cols. 3-5]. Ela foi dizer a meus pais que, surpreendidos, se perguntavam: Mas, onde foi teu pai buscar tal nome? No entanto, por condescendência, aceitaram que me fosse posto o nome de Lúcia. Assim, por graça de Deus, fui baptizada no sábado (de) Aleluia, dia 30 de Março de 1907, quando os sinos da igreja paroquial anunciavam a Ressurreição do Senhor Nesse tempo, não havia registo civil, era só na igreja). [Conservatória de Registo Civil de Ourém, Registos Paroquiais, Fátima, Baptismos, 1907, nº 31, fls. 5-5v: DCF 1, doc. de c. 27 de Msio de 1917, p. 6, nota 5] (Memórias da Irmã Lúcia – vol. II – V Memória “O meu Pai”, 3ª edição, p. 13-14).  O Dr. Formigão escreveu na redacção literária do seu interrogatório de 27 de Setembro de 1917, a respeito de Lúcia: “Tinha oito anos quando fez a primeira comunhão”  (DCF 1, doc. 7, de 27 de Setembro de 1917, p. 52), isto é, teria sido em 1915. O Rol de confessados da paróquia de Fátima de 1915-1919 só regista a confissão e comunhão de desobriga, a partir de 1916. Nada impede, no entanto, aceitar as informações, segundo as quais a primeira comunhão foi em data anterior (ibidem, p. 52, nota 228). Numa das mais belas páginas da sua Segunda Memória (1937), a Irmã Lúcia escreveu que a sua primeira comunhão foi aos seis anos, isto é, em 1913, por ter sido considerada preparada pelo Padre Francisco da Cruz, nessa ocasião a confessar na igreja paroquial de Fátima. (6ª edição, 1990. p. 54). De facto, já em 1912, com cinco anos, Lúcia era atenta ouvinte da mãe, quando esta ensinava a catequese aos seus filhos e a outras crianças mais velhas. Contou-nos a senhora Carolina que, um dia, sua Mãe explicava a doutrina da Santíssima Trindade, e perguntou: “Quem morreu?”. E Lúcia respondeu, triunfante: “Foi o tio Agostinho!”.  Quem era este Tio Agostinho? A própria Lúcia explica na sua Quinta memória (1989) que seu pai a mandava, por ocasião da matança do porco, a levar pedaços de carne ao pároco, a outras pessoas amigas e aos vizinhos mais pobres, uma das quais, era Josefa de Jesus, “a viúva do ti Agostinho, que também vivia só, desde que o marido morreu”. Ora Agostinho de S. José faleceu em 13 de Outubro de 1912. (Quinta Memória, 2ª edição, 1993). Há anos, foi oferecido ao Santuário de Fátima um pequeno livro intitulado Cartilha da Doutrina Cristã, composta por A. J. de Mesquita Pimentel, Abade de Salamonde, que seguramente existia na casa de Lúcia, pois está indiscutivelmente “autografado” pela Lúcia, nos anos de 1918 ou 1919 e que, na referida doutrina da Santíssima Trindade, apresenta aquela pergunta e a respectiva resposta deste modo: “P. Qual foi o que morreu, onde e por quê? R. Foi o Filho, na cruz, para nos remir, salvar e dar exemplo. P. Morreu enquanto Deus ou enquanto Homem? R. Enquanto Homem, por que enquanto Deus não podia morrer nem padecer; pois morrer é fraqueza e Deus é Todo Poderoso”. Chegamos a 1915, possivelmente entre Abril e Outubro. Lúcia, então com oito anos, vê, por três vezes, juntamente com algumas companheiras e companheiros, já identificados em 1917, “uma  figura como se fosse uma estátua de neve que os raios do sol tornavam algo transparente”, sem nada dizer. Como não soube explicar o que seria, Lúcia disse à mãe, quando interrogada por ela, que “parecia uma pessoa embrulhada em um lençol” (2ª Memória, 1937), aparecida em 1916. Estas estranhas visões foram lembradas, logo em Maio de 1917, aquando da primeira aparição de Nossa Senhora, na Cova da Iria. Que Lúcia considerou essa figura como um anjo, vê-se pela expressão que usa, quando descreve, logo a seguir, na mesma Segunda Memória, as aparições de 1916: “Eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que se passava, pois o dia estava sereno. Vemos, então que, sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei”. Na primavera, verão e outono de 1916, Lúcia e seus primos Francisco, de oito anos, e Jacinta, de seis, vêem o Anjo da Paz, da Guarda de Portugal e da Eucaristia, respectivamente na Loca do Cabeço, poço do Arneiro, no quintal da casa paterna de Lúcia, e novamente na Loca do Cabeço, com a mensagem que já conhecemos. As aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, verificaram-se, como é do conhecimento de todos, de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917, no dia 13 de cada mês, excepto em Agosto, em que as crianças foram impedidas de estar na Cova da Iria, por terem sido levadas para Ourém, onde estiveram retidas de 13 a 15. Por isso, a aparição foi a 19, no sítio dos Valinhos. O Pároco de Fátima, depois de cada aparição, interroga-os e o mesmo fazem muitas outras pessoas, a partir dos princípios de Setembro. Entretanto, na segunda quinzena de Setembro de 1917, a Lúcia e a Jacinta passam oito dias em casa de Maria do Carmo Marques da Cruz Meneses, na Reixida, freguesia das Cortes, concelho de Leiria, onde são interrogadas pelo pároco, Pe. António dos Santos Alves, que deixou um relato breve de cada uma das aparições até àquela data verificadas, acrescentando posteriormente um resumo da aparição de 13 de Outubro. Da sua estada na Reixida, tem a Irmã Lúcia uma boa lembrança: “Aí fui com a venerável Jacinta e aí passámos uns dias de mais tranquilidade. Íamos à noite, com essa Senhora e sua família, rezar o terço a uma capelinha que estava muito perto da sua casa. Juntava-se muita gente de ali da terra, enchia-se a capela que não era grande, e todos rezavam com fé e devoção. Levou-nos um dia às Cortes, a casa de uma família que não sei se era sua parente. Aí nos encontrámos com o pároco dessa freguesia que nos fez algumas perguntas. E voltámos para Aljustrel, já um pouco refeitas do nosso cansaço” (Sexta Memória, 3ª edição, p. 148). Depois do regresso das Cortes, verifica-se o primeiro interrogatório do Dr. Manuel Nunes Formigão, aos três videntes, no dia 27 de Setembro de 1917 e vão-se repetir, nos dias 11, 13 e 19 de Outubro, 2 e 3 de Novembro de 1917. D. João Evangelista de Lima Vidal, Arcebispo de Mitilene, governador do patriarcado de Lisboa, na ausência do Patriarca de Lisboa, que tinha sido expulso em Julho para fora da sua diocese, incumbe, a 19 de Outubro de 1917, os vigários de Ourém e de Porto de Mós de “receber(em) os depoimentos do maior número possível de pessoas fidedignas que tenham sido testemunhas presenciais dos factos ocorridos em Fátima, no dia 13 do corrente mês de Outubro”. O pároco de Fátima, logo a seguir à última aparição e depois de ouvir a Lúcia, no dia 15 de Outubro de 1917, oficia ao arcebispo de Mitilene, propondo a “nomeação de uma comissão para averiguação do que há” e implorando “urgentes e acertados conselhos para o governo desta freguesia”. O arcebispo responde a 3 de Novembro, incumbindo o pároco de Fátima de proceder, também, a um “inquérito consciencioso sobre os factos ocorridos […] no dia 13 do passado mês de Outubro, ouvindo testemunhas fidedignas, e principalmente as crianças que se dignem favorecidas de graças singulares do Céu”. Aproveitando os apontamentos dos interrogatórios, feitos depois de cada aparição, o Pároco de Fátima organizou um processo, que se prolongou até Abril de 1919, com os depoimentos dos videntes, a que pôs a data de 6 de Agosto de 1918; de quatro testemunhas, ouvidas a 20 e a 31 de Dezembro de 1918, e a 2 de Março de 1919, e juntou cinco anexos. Concluiu o processo, a 18 de Abril do mesmo ano, com um aditamento sobre o Francisco, que havia falecido no dia 4, o qual “confirmou que tinha visto uma Senhora, na Cova da Iria e Valinho”. E Lúcia na sua Quarta Memória, descreve os últimos momentos do seu primo: “agarrando-me a mão direita, apertou-ma com força, olhando para mim com as lágrimas nos olhos[…]: “Adeus até ao Céu”! E o Céu aproximava-se. Para lá voou no dia seguinte, nos braços da Mãe Celeste” (Quarta Memória, 6ª edição, 1996, p. 148).    A 30 de Julho de 1919, também o pai de Lúcia adoece gravemente com uma pneumonia, vindo a falecer, no dia seguinte, “nos braços de minha mãe e de sua irmã Olímpia – como escreveu a Irmã Lúcia, na sua quinta Memória -, repetindo as jaculatórias que elas lhe iam sugerindo e se usavam, naqueles tempos, em tais casos. […]. Assim – continua a Irmã – eu me sinto inteiramente tranquila, a respeito da eterna salvação de meu Pai, certa de que o Senhor acolheu a sua bela alma, nos braços da sua infinita misericórdia, e o introduziu na posse plena do Ser imenso de Deus, nosso Pai” (Quinta Memória, 2ª edição, 1996, p. 34). Depois da morte do Francisco e do seu pai, Lúcia vai assistindo também à doença da sua prima Jacinta e à sua retirada para Lisboa, onde veio a falecer, no 20 de Fevereiro de 1920, no Hospital de D. Estefânia. Lúcia guardou para sempre o enternecedor momento da despedida: [Jacinta] permaneceu muito tempo abraçada ao meu pescoço e dizia chorando: “Nunca mais nos tornamos a ver! Reza por mim, até que eu vá para o céu. Depois, lá, eu peço muito por ti. Não digas nunca o segredo a ninguém, ainda que te matem. Ama muito a Jesus e o Imaculado Coração de Maria e faz muitos sacrifícios pelos pecadores”. De Lisboa – continua Lúcia -, mandou-me ainda dizer que Nossa Senhora já a tinha ido ver; que lhe tinha dito a hora e dia em que morria; e recomendava-me que fosse muito boa” (Primeira Memória, 6ª edição, 1990, p. 46). Lúcia era muito solicitada para casa de familiares e de pessoas amigas. Assim foi que, desde o ano de 1917 até à sua saída de Aljustrel, foi passar alguns dias em Leiria, Olival, Torres Novas, Carrascos, Valado, Alcobaça, etc. De uma visita à Nazaré, onde foi levada por uma família amiga do Valado que ali tinha uma casa, tem recordações de um certo pitoresco: “Tinha umas vistas maravilhosas, donde se viam ao longe os vapores, os barcos pequenos e grandes, remando sobre a espuma das ondas agitadas, os pescadores puxando as redes, carregadas de peixes para a praia, e as varinas, com algazarra, ralhando umas com as outras, a encher as canastras de peixe, a pô-las à cabeça e, correndo, indo cada uma para seu lado. Então, eu dizia: As mulheres da minha terra não gritam assim!” (Sexta memória, 3ª edição, 1996, p. 155). De 7 de Julho a 6 de Agosto de 1920, Lúcia encontra-se em Lisboa, em casa de D. Maria da Assunção Avelar, visitando também o Dr. Eurico Lisboa. Desta estada em Lisboa tem também Lúcia uma boa lembrança, na Sexta Memória e também no que, mais tarde, contou às suas Irmãs Carmelitas, que o contam na publicação editada, já depois do seu falecimento. De 6 a 12 de Agosto de 1920, no regresso de Lisboa, Lúcia esteve em casa do Dr. Formigão, em Santarém, donde regressou a Fátima, na companhia da irmã do mesmo Dr. Formigão e de uma “jovem recém-baptizada, aos 18 anos, de nome Cecília, que – segundo me parece – foi, mais tarde, uma das fundadoras das Religiosas de Nossa Senhora das Dores”, diz a Irmã Lúcia (Sexta memória, p. 164). A 16 de Junho de 1921, Lúcia saiu de Aljustrel, com uma última visita à Cova da Iria, onde, na véspera, teve a 7ª aparição de Nossa Senhora. Tomou o comboio em Leiria e foi admitida no Asilo de Vilar (Instituto do Arcediago Van Zeller), no Porto, entregue às Religiosas de Santa Doroteia, no dia seguinte, tomando o nome de Maria das Dores, nome sugerido por Mons. Manuel Pereira Lopes, confessor da casa, que em carta a D. João Pereira Venâncio, explica que, “quando ela entrou, sob condição de se guardar segredo, no Asilo de Vilar, assisti ou fui o padrinho da substituição do seu nome para Maria das Dores, que era o nome da então superiora do Asilo (Madre Maria das Dores Magalhães). Ela compreendeu as vantagens da substituição e foi fiel à promessa de segredo” (DCF 3, 3, doc. 623, p. 141, nota 2). Apenas quatro dias depois, no dia 21 de Junho, escreve a primeira carta à Mãe, dizendo que a viagem fora boa, que estava feliz e contente e dava recomendações à família, beijos às sobrinhas. Alguns dias depois, a 4 de Julho, nova carta: “Minha querida mãe não tenha cuidados que estou muito bem; as minhas professoras são muito boas para mim; a Senhora Directora também é muito amável, anima-me muito, e é o que me vale (DCF 3, 3, doc. 624, de 4 de Julho de 1921, p. 143). Até ao fim de 1921, conhecem-se sete cartas, seis das quais para a Mãe.  Foi no Asilo de Vilar que Lúcia redigiu o primeiro escrito sobre os acontecimentos de 1917, que tem a data de 5 de Janeiro de 1922.  Foi ainda neste Instituto que a Comissão Canónica, nomeada pelo Senhor D. José Alves Correia da Silva, primeiro bispo da diocese restaurada de Leiria, a 3 de Maio de 1922, ouviu o depoimento, prestado por Lúcia a 8 de Julho de 1924, de que ficaram duas versões, uma em discurso indirecto e outra em discurso directo, tendo esta sido junta ao Processo Canónico Diocesano.  O Senhor D. José convidou a Senhora Maria Rosa para passar uns dias de férias na sua Quinta da Formigueira, próximo de Braga, levando também Lúcia, que aí recebeu o crisma, no dia 24 de Agosto de 1925, sendo madrinha D. Filomena Morais de Miranda, de Santo Tirso. Destes dias na Quinta da Formigueira tem Lúcia boa lembrança: O Senhor D. José, quando a mãe dela partiu para Fátima, disse-lhe “A menina tem que agradecer a Deus a Mãe tão boa e tão santa como a que Ele lhe deu. Gostei muito de passar estes dias aqui, na sua companhia”. Na ocasião, eu não compreendi, mas hoje – escreve em 1993 – não me resta dúvida de que o Sr. Bispo quis que eu fosse para o Porto e não para Lisboa, para poder estudar, pessoalmente e melhor. os acontecimentos de Fátima, e, com maior conhecimento de causa, formar o seu juízo e pronunciar-se. Para isso, ter-me sob a sua jurisdição, entregue a pessoas da sua confiança que o informaram de tudo o que houvesse a meu respeito, e poder Sua Exª observar-me e falar comigo, sempre que quisesse, e assim poder melhor formar um juízo acertado dos factos. Parece-me que o Senhor Bispo fez bem e que terá sido guiado pelo Espírito Santo. Por isso, a Deus, a Nossa Senhora e ao Sr. Bispo, estou muito agradecida” (Sexta Memória, 3ª ed. 1996, p. 178). Foi também nesta época que surgiu a Lúcia a vocação religiosa. Nesse ano de 1925, foi a canonização da Beata Teresa do Menino Jesus. Lúcia terá manifestado, já então, várias vezes, o desejo de ser carmelita. No entanto, por gratidão para com as suas educadoras, resolveu ingressar na Congregação de Santa Doroteia. E assim, partiu, a 24 de Outubro de 1925 para Tuy, Espanha, a caminho de Pontevedra, para ingressar na Congregação. Entrou na Casa da Congregação de Santa Doroteia, em Pontevedra, como postulante, no dia seguinte, 25 de Outubro de 1925. Tinha então 18 anos e sete meses de idade. Ainda nesse ano, a 10 de Dezembro de 1925, e nessa casa, Lúcia teve uma aparição da Santíssima Virgem e do Menino Jesus, que lhe pediu que ela promovesse a devoção dos cinco primeiros sábados: “todos aqueles que durante cinco meses, ao primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, eu prometo assistir-lhes na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas” (Memórias da Irmã Lúcia, Apêndice 1, 6ª ed. 1996, p. 227-228). E no dia 15 de Fevereiro de 1926, novamente lhe apareceu o Menino Jesus, a insistir na devoção dos cinco primeiros sábados. No entanto, ainda esperou mais dois anos até revelar essa devoção. Lúcia regressou a Tuy, a 20 de Julho de 1926, para terminar o postulantado, que terminou, no dia 2 de Outubro de 1926, e iniciou o Noviciado, tomando o nome de Maria Lúcia das Dores. A 17 de Dezembro de 1927, Lúcia recebe de Jesus a ordem de escrever o que lhe era pedido sobre a devoção ao Imaculado Coração de Maria, pondo por escrito, por ordem do director espiritual, Pe. José Aparício da Silva. Faz os votos temporários, em Tuy, no dia 3 de Outubro de 1928, em cerimónia solene, presidida pelo Padre Cândido de Azevedo Mendes e presenciada pelo Dr. Manuel Nunes Formigão, Pe. Augusto de Sousa Maia e outros. É ainda em Tuy, no dia 13 de Junho de 1929, que a Irmã Lúcia tem a visão da Santíssima Trindade e do Imaculado Coração de Maria, com o seu Coração cercado de espinhos, como nas aparições de Junho e de Julho de 1917, que lhe diz: “É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do Mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio”. Lúcia faz os votos perpétuos, em Tuy, no dia 3 de Outubro de 1934, seguindo, a 9 do mesmo mês, novamente para Pontevedra. A 12 de Setembro de 1935, foram trasladados de Vila Nova de Ourém para o cemitério de Fátima os restos mortais da Jacinta. No jazigo dos Barões de Alvaiázere, onde Jacinta foi depositada, desde Fevereiro de 1920, foi feita a abertura do caixão e fizeram-se algumas fotografias, que foram enviadas pelo Sr. Bispo de Leiria, para Lúcia. A sua carta de resposta e agradecimento, de 17 de Novembro desse ano, levou o Sr. Bispo a mandar-lhe escrever tudo o que se recordasse da Jacinta. Foi esta a origem do Primeiro manuscrito, que mais tarde será chamado “Memória”, começado na segunda semana de Dezembro e terminada no dia de Natal do mesmo ano.  Entretanto, entre 16 e 20 de Setembro do mesmo ano, Lúcia respondeu a um minucioso e difícil interrogatório do Dr. Antero de Figueiredo, interrogatório que veio a dar origem, no ano seguinte (1936), a um livro de bom recorte literário que chegou a ter 18 reimpressões e a ser traduzido em espanhol e francês: Fátima – graças — segredos — mistérios. Lúcia regressa novamente a Tuy, a 27 de Maio de 1937, e é aí que, por lembrança do Padre Luís Gonzaga da Fonseca, SJ, e a pedido do Sr. D. José, redige mais uma Memória, a Segunda, iniciada a 7 de Novembro e terminada a 21 do mesmo mês, com novidades surpreendentes: as aparições do Anjo, a sua primeira comunhão, a aparição do Imaculado Coração de Maria, em Junho de 1917 e outras circunstâncias. Em 1938, surge mais uma obra de grande valor, fundada nestes dois escritos de Lúcia: a biografia de Jacinta, a florinha de Fátima, compilada pelo Dr. José Galamba de Oilveira, que atingiu muito rapidamente tiragens enormes. Depois das duas primeiras edições desse livrinho, e na perspectiva da celebração do 25º aniversário das aparições, que se aproximava, em 1942, o Sr. Bispo de Leiria pediu que Lúcia recordasse ainda mais pormenores sobre a vida da sua prima Jacinta. Foi esse pedido que deu origem à Terceira Memória, breve mas muito importante. Foi terminada a 31 de Agosto de 1941. Em carta ao Padre José Bernardo Gonçalves, Lúcia explica: Esta ordem do Sr. Bispo caiu-me no fundo da alma como um raio de luz, dizendo-me que era chegado o momento de revelar as duas primeiras partes do segredo e acrescentar à nova edição dois capítulos: um sobre o inferno, outro sobre o Imaculado Coração de Maria”. (cfr. Terceira Memória, introdução, p. 102). Finalmente, o Sr. Bispo de Leiria e o Dr. Galamba encontram-se com Lúcia em Valença, no dia 7 de Outubro de 1941. Recebem a Terceira Memória e apresentam novos interrogatórios e pedidos: escrever o que se recordava sobre o Francisco; escrever com mais pormenores as aparições do Anjo; uma nova história das aparições de Nossa Senhora; mais algumas recordações da Jacinta; os versos profanos que cantava; fazer uma leitura do livro do Pe. Fonseca, e anotar o que lhe parecesse menos exacto. Surgiu assim a Quarta Memória, cujo primeiro caderno foi enviado para Leiria, a 25 de Novembro de 1941,  e o segundo no dia 8 de Dezembro do mesmo ano. A 1 de Julho de 1942, falecia a Srª Maria Rosa, Mãe da Lúcia. Quase 51 anos depois, a Irmã Lúcia escreveu, no fim da sua Sexta Memória: “Agradeço a Deus a Mãe tão boa e tão santa que Ele me deu, enquanto que lamento tristemente tantas outras que entregam seus filhos à morte, ainda antes de dá-los à luz. “Não matarás”, diz-nos a Lei de Deus (Ex 20, 13). Eu sou a última de 7 filhos que Deus deu a maus pais; se eles fossem desse teor, eu não estaria hoje aqui” (Sexta Memória, 3ª edição, p. 181). A 3 de Janeiro de 1944, a Irmã Lúcia escreve a terceira parte do Segredo de Fátima, que foi revelada no ano de 2000. Antes de 13 de Maio de 1946, a Irmã Lúcia enviou para a coroação de Nossa Senhora de Fátima um belo ramo de flores, atado com uma fita branca, onde inseriu um poema e os nomes das Irmãs e das Alunas da casa de Tuy. O dia 13 de Maio desse ano foi realmente um dia muito solene, em que a Irmã Lúcia não pôde participar pessoalmente. Mas, alguns dias depois, teve a felicidade de voltar a ver a terra, onde tinha vivido os dias felizes da sua infância e tinha recebido a mensagem celeste que incendiou o mundo. Partiu de Tuy, no dia 17 de Maio de 1946. Esteve dois dias no Colégio do Sardão, Vila Nova de Gaia, donde partiu no dia 20, passando por Coimbra e Leiria, para visitar, nos dias 21 e 22, a Cova da Iria, Loca do Cabeço, Valinhos e Aljustrel, tendo ocasião de identificar bem os lugares das aparições do Anjo, na Loca do Cabeço, e a de Nossa Senhora nos Valinhos, no dia 19 de Agosto de 1917. Depois de regressar ao Colégio do Sardão, a 22 de Maio de 1946, logo se dispuseram as coisas para que a Irmã Lúcia pudesse satisfazer finalmente os seus desejos antigos de ingressar na vida de clausura da Ordem das Carmelitas Descalças. Devidamente autorizada pelo Papa Pio XII, a Irmã Lúcia saiu para Coimbra, no dia 24 de Março de 1948, ingressando no Carmelo de Santa Teresa, no Penedo da Saudade, Coimbra, no dia seguinte. Tomou o hábito, e recebeu o nome de Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, no dia 13 de Maio de 1948, e fez os votos solenes no dia 31 de Maio do ano seguinte. Vamos resumir, em breves apontamentos, a actividade da Irmã Lúcia nas décadas seguintes: Encontra-se com o Papa Paulo VI, a 13 de Maio de 1967, cinquentenário da primeira aparição de Nossa Senhora; com o Cardeal .Albino Luciani, patriarca de Veneza, mais tarde o Papa João Paulo I, a 11 de Julho de 1977; visita  ao Carmelo de S. José, em Fátima, para dirigir um trabalho pictórico sobre as aparições, do dia 3 a 17 de Agosto de 1981; encontra-se com o Papa João Paulo II em Fátima, no dia 13 de Maio de 1982, um ano depois do atentado da Praça de S. Pedro; a 23 de Fevereiro de 1989, termina a Quinta Memória sobre o pai, pedida pelo Reitor do Santuário de Fátima; volta a encontrar-se, pela segunda vez, com o Papa João Paulo II, na peregrinação deste, a 13 de Maio de 1991; termina a Sexta Memória sobre a Mãe, a 25 de Março de 1993; os Apelos da Mensagem de Fátima têm a data de 25 de Março de 1997 e a primeira edição impressa no ano de 2000. Na 3ª peregrinação do Papa João Paulo II a Fátima, a 13 de Maio de 2000, foram beatificados os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, com a presença da sua prima, e foi feita a primeira apresentação da terceira parte do segredo de Fátima, que no dia 26 de Junho seguinte foi publicado na íntegra, pela Congregação para a Doutrina da Fé, cujo prefeito era o Cardeal Ratzinger, actual Papa Bento XVI. No dia 16 de Maio de 2000, dias depois da peregrinação, a Irmã Lúcia visitou, pela última vez à Loca do Cabeço, Valinhos, Aljustrel e igreja paroquial de Fátima. No interrogatório a que procedeu, no dia 27 de Setembro de 1917,  o Dr. Formigão perguntou à Lúcia: A Senhora mandou que aprendesses a ler? – Mandou sim, da segunda fez que apareceu. – Mas se a Senhora disse que te levaria para o Céu no mês de Outubro próximo, para que te serviria aprenderes a ler) – Não é verdade isso; a Senhora nunca disse que me levaria para o Céu em Outubro, e eu nunca afirmei que ela me tivesse dito tal coisa” (DCF 1, doc. 7, de 27 de Setembro de 1917, p. 59). Em fins de Dezembro de 1927, a Irmã Lúcia pôs por escrito, por ordem do seu director espiritual, Pe. José Aparício, o que Jesus lhe dissera, a 17 do mesmo mês e ano, em Pontevedra sobre o que Maria Santíssima lhe revelou “na aparição em que falou desta devoção” (ao Imaculado Coração de Maria): “O que em 1917 foi confiado a este respeito é o seguinte: ela [Lúcia] pediu para os levar para o Céu. A SS. Virgem respondeu: – Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve, mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no Mundo a devoção ao meu Imaculado Coração […]. – Fico cá sozinha? – disse com tristeza – Não, filha. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus” (Memórias da Irmã Lúcia, Apêndice I). Na sua Quarta Memória, em 1941, ao descrever, mais uma vez, as aparições de 1917, a Irmã Lúcia atribui à aparição de Junho o mesmo diálogo com Nossa Senhora, praticamente com as mesmas palavras (4ª Memória, II, 3, ed. 2004, p. 175). Não conhecemos nenhuma referência mais antiga àquela promessa de Nossa Senhora de manter Lúcia no mundo “mais algum tempo”. No entanto, é bem possível que algo tenha transparecido nesse sentido, logo no período das Aparições. De facto, no interrogatório que fez a Lúcia, no dia 2 de Novembro de 1917, o Dr. Manuel Nunes Formigão perguntou-lhe: “Ouvi dizer que disseste a alguém que havias de viver mais de vinte anos. É verdade?” Lúcia respondeu: “Não me recordo”. Ficamos sem saber se a resposta de Lúcia escondia a preocupação de ocultar o que Nossa Senhora predissera sobre os primos e sobre ela própria. A propósito de uma travessura de infância (ter ido à coelheira e tirar um coelhito pequeno, para brincar), a Irmã Lúcia conta na Quinta Memória, que a Mãe a repreendeu: “Os demónios eram anjos que estavam no Céu, mas porque se fizeram maus, Deus pô-los de lá para fora e andam por aí a tentar toda a gente. A ti, deitou-te cá para baixo, a ver se te fazes boa, para depois poderes voltar para lá. Perguntei ainda: Mas eu não me lembro! – Pois não – respondeu a Mãe – porque estavas a dormir, e és muito esquecida. À noite, quando veio o Pai, eu disse-lhe o que a Mãe me tinha dito, e ele respondeu: – Está bem, mas não te preocupes! Isso é para quando tu fores velhinha; por agora, és muito pequenina. Por isso, ainda tens muito tempo para te fazeres boa. O Pai parece que adivinhou, que tenho quase 82 anos (escrevia em Fevereiro de 1989) e ainda por aqui ando, à espera de ser boa, para ir para o Céu. Mas, como Jesus Cristo diz que só Deus é bom, terá Ele que levar-me para lá, por misericórdia, sem esperar que eu seja boa” (Quinta Memória, 2ª edição, 1996, p. 25-26). A Irmã Lúcia faleceu a 13 de Fevereiro de 2005, quando faltava pouco mais de um mês para completar 98 anos. Ultrapassou a idade de todos os seus familiares mais próximos, pois que o pai morreu com 51 anos e meio; a mãe (73); os irmãos, Maria dos Anjos (95), Teresa (79), Manuel (81), Glória (73) e Carolina (89). O certo é que a Irmã Lúcia ainda viveu muito mais tempo do que aquilo que seria de esperar, quando a Senhora lhe disse: “Tu ficas cá mais algum tempo”, a “fazer conhecer e amar” Maria Santíssima e a divulgar a devoção ao Seu Imaculado Coração, isto é, a devoção dos cinco primeiros sábados, que veio a ser aprovada oficialmente, na Cova da Iria, a 13 de Setembro de 1939, quando já se iniciara a Segunda Guerra Mundial P. Luciano Cristino (Conferência na Basílica do Santuário de Fátima, no centenário do nascimento da Irmã Lúcia, 28 de Março de 2007)

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