«Que a revolução comece convosco e com as vossas famílias», pediu Francisco a cerca de 400 casais de noivos e esposos
Dublin, 25 ago 2018 (Ecclesia) – O Papa criticou hoje em Dublin a “cultura do efémero” que marca a sociedade e ameaça a família e as outras relações humanas, num encontro com casais de noivos e esposos com diferentes anos de ligação, na Protocatedral de Santa Maria.
Numa iniciativa inserida na sua participação no 9.º Encontro Mundial de Famílias, que está a decorrer na capital irlandesa, Francisco denunciou uma cultura que “ataca as próprias raízes do amadurecimento” humano, do seu “crescimento na esperança e no amor”, porque transmite a mensagem de que tudo é “descartável”, incluindo o matrimónio ou a família.
“Temos de reconhecer que hoje não estamos habituados a algo que dure realmente toda a vida”, apontou o Papa argentino, que encorajou os casais presentes a nunca esquecerem que a relação que vivem é “o sonho que Deus tem para eles e para a humanidade inteira”.
“Por favor, nunca o esqueçais! Deus tem um sonho para nós, e pede-nos para o assumirmos. Não tenhais medo deste sonho! Guardai-o e, juntos, sonhai-o de novo todos os dias”, exortou Francisco aos cerca de 400 esposos e noivos que marcaram presença nesta iniciativa.
Sobre esta ligação enquanto sacramento, o Papa destacou que “entre todas as formas da fecundidade humana, o matrimónio é único”, porque “é um amor que dá origem a uma nova vida”.
“Implica a responsabilidade mútua na transmissão do dom divino da vida e oferece um ambiente estável no qual a nova vida pode crescer e florescer”, asseverou.
Antes de entrar na Protocatedral de Santa Maria, e depois de cumprir um percurso de papamóvel pelas ruas de Dublin, testemunhado por milhares de pessoas ao longo do caminho, Francisco realizou um momento de oração junto ao túmulo do venerável Matt Talbot (1856 – 1925), considerado o padroeiro de todos aqueles que enfrentam algum tipo de vício, e uma figura muito amada na Irlanda.
Já dentro do local de culto, recebeu das mãos de um casal de jovens um ramo de flores que depositou depois no altar da Capela do Santíssimo Sacramento.
É neste canto da Protocatedral que desde 2011 arde uma vela em memória de todas as vítimas de abusos, e também aqui Francisco se recolheu para um breve momento de oração.
Antes de iniciar a sua intervenção, o Papa argentino teve oportunidade de escutar o testemunho de um casal que cumpriu “50 anos de matrimónio e de vida familiar”, Vincent e Teresa.
“Obrigado quer pelas palavras de encorajamento quer pelos desafios que apresentastes às novas gerações de recém-casados e de noivos, não apenas aqui na Irlanda, mas em todo o mundo”, enalteceu.
Francisco teve ainda ocasião de responder a várias questões de noivos, algumas delas “perguntas ousadas”, admitiu, envolvendo temas como o matrimónio enquanto “vocação”, e a missão que o casal tem “de ocupar-se, ajudar-se e proteger-se mutuamente”.
“Não é fácil responder a estas perguntas”, reconheceu o Papa, que desafiou os noivos e esposos a nunca deixarem de se “apoiar mutuamente com esperança, com força e com o perdão, nos momentos em que o percurso se fizer árduo tornando-se difícil vislumbrar o caminho”.
Isto porque “o amor é uma rocha e um refúgio nos tempos de provação, mas sobretudo é uma fonte de crescimento constante num amor puro e para sempre”, lembrou.
Perante o exemplo daqueles que estavam diante dele, e que dentro em breve vão assumir os laços do matrimónio, o Papa quis ainda deixar uma mensagem em contraciclo com a sociedade.
“Não digam que os jovens de hoje não se querem casar. Não digam, pois eles estão aqui”, realçou.
Sobre outra das questões que foram colocadas, “como poderão os pais transmitir a fé aos filhos”, Francisco enalteceu o trabalho da Igreja Católica na Irlanda, nomeadamente a aposta em “programas de catequese visando educar para a fé nas escolas e paróquias”.
“Isto é, sem dúvida, essencial. Mas o primeiro lugar, e o mais importante, para transmitir a fé é o lar, através do exemplo calmo e diário de pais que amam o Senhor e confiam na sua palavra”, completou.
Aqui, Francisco partilhou uma experiência pessoal que viveu quando tinha cinco anos, a primeira memória que tem dos seus pais a beijarem-se, depois de virem do trabalho.
“Nunca mais me esqueci deste momento. Que bonito é o dialeto do amor, e a fé no dialeto do amor, nunca se esqueçam disso”, pediu.
Depois deste encontro na Protocatedral de Santa Maria, o Papa vai esta tarde ao encontro de várias famílias em dificuldades, sociais e monetárias, e que são atualmente a ser apoiadas num centro de acolhimento em Dublin, gerido pelos Padres Capuchinhos.
“O mundo diz-nos para sermos fortes e independentes, preocupando-nos pouco com aqueles que estão sozinhos ou tristes, rejeitados ou doentes, que ainda não nasceram ou estão moribundos. O nosso mundo precisa duma revolução de amor! Que esta revolução comece por vós e pelas vossas famílias!”, concluiu o Papa Francisco.
A visita a Dublin, na Irlanda, para o 9.º Encontro Mundial de Famílias, é a 24.ª viagem apostólica internacional do pontificado do Papa Francisco.
JCP