Iraque: Papa defende caminho de diálogo com o Islão e rebate críticas internas

Francisco lamenta que alguns considerem que está «a um passo da heresia»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 08 mar 2021 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no regresso a Roma, após a sua primeira viagem do Iraque, que o caminho de diálogo com o Islão vai conhecer “novos passos” e rebateu as críticas internas sobre a sua opção pela “fraternidade humana”.

“São riscos, mas estas decisões são tomadas em oração, em diálogo, pedindo conselho, em reflexão, não são caprichos. E é a linha que o Concílio [Vaticano II] nos ensinou”, referiu aos jornalistas que o acompanharam no voo desde Bagdade.

Francisco admitiu que, a respeito do diálogo inter-religioso, há quem veja as suas iniciativas como “heresia”, mas sublinhou que é necessário “arriscar” para dar este passo.

“Sabem que há alguns críticos que dizem que o Papa não é corajoso, mas inconsciente, que está a dar passos contra a doutrina católico, que está a um passo da heresia”, lamentou.

Após ter-se encontrado com o grande aitola Al-Sistina, líder xiita do Iraque, na cidade de Najaf, uma das mais santas para esta comunidade muçulmana, Francisco evocou o caminho iniciado em 2019, com a assinatura da declaração sobre a fraternidade humana, em Abu Dhabi, e continuado em 2020 com a encíclica ‘Fratelli Tutti’.

“É importante o caminho da fraternidade”, sustentou.

Para o Papa, a fraternidade é “um caminho cultural” e, do ponto de vista de fé, “a revelação de Jesus, o amor, a caridade, leva a isto”, num percurso feito ao longo de séculos.

“Como homens, somos todos irmãos e temos de seguir em frente com as outras religiões, não?”, acrescentou.

Francisco insistiu na convicção desta fraternidade universal.

“Se tu és humano, filho de Deus, és meu irmão. Ponto”, declarou.

Foto: Vatican Media

A conversa abordou o encontro com o Al-Sistani, que o Papa considerou “uma peregrinação de fé e de penitência”.

“É um homem sábio, um homem de Deus. Só por ouvi-lo podemos perceber isso”, referiu.

Para Francisco, esta foi uma “mensagem universal”, marcada por um clima de “respeito”.

“Senti-me muito honrado. No momento dos cumprimentos, ele nunca se levanta, mas levantou-se para me cumprimentar, por duas vezes. É um homem humilde e sábio, fez-me bem este encontro”, relatou.

Após uma viagem que contou com vários encontros e testemunhos de personalidades de outras religiões, no Iraque, Francisco deixou um elogio aos que “vivem os valores humanos com coerência, a fraternidade com coerência”.

OC

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Agência ECCLESIA

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