Iraque: «O terrorismo e a morte nunca têm a última palavra» – Papa Francisco (c/vídeo)

Visita à cidade cristã de Qaraqosh deixou mensagem de esperança, falando num tempo de «reconstruir e recomeçar»

Qaraqosh, Iraque, 07 mar 2021 (Ecclesia) – O Papa visitou hoje a cidade cristã de Qaraqosh, no norte do Iraque, onde deixou uma mensagem de esperança às populações atingidas pela violência do autoproclamado Estado Islâmico, entre 2014 e 2017.

“Olhamos à nossa volta e vemos os sinais do poder destruidor da violência, do ódio e da guerra. Quantas coisas foram destruídas! E quanto tem de ser reconstruído! Este nosso encontro demonstra que o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra”, referiu, na catedral da Imaculada Conceição, restaurada em 2020 após ter sido vandalizada e queimada pelas milícias do Daesh – que a transformaram num campo de tiro.

“Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte”, acrescentou o primeiro pontífice a visitar o Iraque.

No maior banho de multidão recebido até ao momento, Francisco confessou que aguardava por este momento, saudando a “diversidade cultural e religiosa” do povo de Qaraqosh, cidade próxima de Mossul, um bastião do antigo califado do Daesh.

“Há momentos em que a fé pode vacilar, quando parece que Deus não vê nem intervém. Sentistes a verdade disto nos dias mais negros da guerra, e é verdade também nestes dias de crise sanitária mundial e de grande insegurança”, referiu, convidando os cristãos a “confiar em Deus, que nunca dececiona”.

O Papa disse que este é o momento de “reconstruir e recomeçar”, dizendo à comunidade cristã que pode contar com a oração e a caridade concreta” de toda a Igreja.

“Queridos amigos, este é o momento de restaurar não só os edifícios, mas também e em primeiro lugar os laços que unem comunidades e famílias, jovens e idosos”, apontou.

A intervenção, num dia dedicado aos cristãos do norte do país, vítimas da violência e do extremismo islâmico, nos últimos anos, apelou à confiança num “futuro melhor”.

“O perdão é necessário por parte daqueles que sobreviveram aos ataques terroristas. Perdão: esta é uma palavra-chave”, acrescentou, evocando o testemunho de Doha Sabah Abdallah, mulher que perdeu um filho – juntamente com o seu primo e uma jovem vizinha – num ataque terrorista e falou aos presentes sobre a necessidade de “perdoar ao agressor”.

Acreditamos que Deus pode trazer a paz a esta terra. Confiamos nele e, unidos a todas as pessoas de boa vontade, dizemos ‘não’ ao terrorismo e à instrumentalização da religião”.

Francisco citou também o testemunho do padre Ammar Yako, vigário-geral da Arquidiocese de Mossul dos sírios, que recordou os “horrores do terrorismo e da guerra”, agradecendo a Deus por todos os que sobreviveram.

Foto: Vatican Media

“Demos graças a Deus pelos seus dons e peçamos-lhe que conceda paz, perdão e fraternidade a esta terra e ao seu povo. Não nos cansemos de rezar pela conversão dos corações e pelo triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e do amor fraterno, no respeito pelas diferenças, pelas diversas tradições religiosas”, apelou.

Antes da invasão terrorista, a cidade tinha mais de 50 mil habitantes, com mais de 90% de cristãs; o autoproclamado Estado Islâmico destruiu casas, igrejas, a biblioteca e outros edifícios.

A igreja da Imaculada Conceição, a maior do Iraque, foi atingida pelo Daesh e a imagem da Virgem Maria acabaria por ser restaurada e colocada sobre a torre sineira.

O Papa, que chegou de helicóptero, disse ter visto a imagem e rezado pelo “renascimento desta cidade”.

“Gostaria de agradecer cordialmente a todas as mães e mulheres deste país, mulheres corajosas que continuam a dar vida não obstante os abusos e as feridas. Que as mulheres sejam respeitadas e protegidas”, pediu.

O Patriarca Inácio III Younan, da Igreja siro-católica, que recebeu o Papa, agradeceu na sua intervenção pela solidariedade de organizações católicas, em particular a Ajuda  à Igreja que Sofre, a Obra do Oriente e os Cavaleiros de Colombo, além da contribuição do governo húngaro, o que permitiu “reconstruir boa parte das igrejas e casas destruídas”.

O Papa recitou o ângelus e despediu-se da localidade, seguindo para Erbil, onde almoça em privado no Seminário de São Pedro, o único que permanece aberto no Iraque, com 14 estudantes.

A viagem de Francisco iniciou-se na sexta-feira e conclui-se na manhã desta segunda-feira.

OC

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Agência ECCLESIA

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