«Sentimos a obrigação de dar o nosso testemunho nesta terra» – Padre Georges Jahola
Lisboa, 07 ago 2018 (Ecclesia) – O coordenador da Comissão de Reconstrução em Baghdeda-Qaraqos afirma que “a segurança é relativa” no Iraque, onde “há agendas políticas” que “detestam” as minorias, mas “quase nove mil famílias cristãs” já regressaram às suas casas na Planície de Nínive.
“Era impossível imaginar que as nossas cidades fossem libertadas e ficássemos a alguns quilómetros de distância”, disse o padre Georges Jahola à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Na entrevista, enviada hoje à Agência ECCLESIA, o coordenador da Comissão de Reconstrução em Baghdeda-Qaraqos realçou a ligação ao Iraque “há milhares de anos” onde vivem “desde o início da era cristã”.
“Sentimos a obrigação de dar o nosso testemunho nesta terra”, afirma o sacerdote sírio-católico, da Diocese de Mossul-Kirkuk-Curdistão.
O secretariado português da AIS divulga que já regressaram 8.815 famílias à Planície de Nínive, o que representa cerca de 44% das 19.452 famílias forçadas a fugir por causa dos jihadistas.
Os militantes islâmicos destruíram completamente 1234 casas, e das 13 mil e 168 registadas para recuperação, já foram renovadas 4.765 casas, cerca de 35%.
A Comissão de Reconstrução de Nínive foi criada pelas Igrejas Caldeia, Sírio-católica e Sírio-ortodoxa do Iraque, em colaboração com a fundação pontifícia AIS, em 2017.
“Sem a ajuda de tantas organizações, especialmente da Ajuda à Igreja que Sofre, que nos assistiu tanto quando estávamos na diáspora como também neste momento de retorno, teria sido impossível voltar com alguma esperança”, comentou o sacerdote sobre “ajudas essenciais para recomeçar a vida”.
O padre Georges Jahola explica que a esperança dos cristãos “está ligada à esperança de todo o Iraque” e devem comprometer-se com a sua existência nessa terra, mesmo com as ameaças que ainda existem.
“Não apenas do ISIS, mas também por parte daqueles que estão interessados que os Cristãos abandonem este país”, acrescentou o sacerdote sírio-católico.
Neste âmbito, o padre Georges Jahola realçou que “há agendas políticas em toda a região do Médio Oriente”, os países vizinhos e “alguns extremistas que detestam a presença das minorias”.
O Governo iraquiano anunciou a vitória sobre o autoproclamado ‘Estado Islâmico’ (ISIS) em dezembro de 2017 e o sacerdote considera que, neste momento, podem dar-se “por satisfeitos” com o que se conseguiu num país onde “a segurança é relativa”.
Os “ataques e atentados” registados “não refletem a situação geral do país” e o padre Georges Jahola exemplifica que Mossul, que foi sitiada pelo ISIS, podem “circular livremente, a cidade é segura”, e também nas áreas cristãs da Planície de Nínive.
Há quatro anos, de 6 para 7 de agosto de 2014, cerca de 120 mil cristãos fugiram dessa planície depois da invasão dos militantes do ‘Estado Islâmico’.
“Foi terrível aquele momento porque os jovens e aqueles que tinham meios de transporte conseguiram escapar, mas para as pessoas com necessidades especiais e para os idosos foi algo muito difícil”, recordou o sacerdote sírio-católico, sobre “momentos terríveis”, não apenas a nível físico, mas “também psicologicamente”.
Em declarações à AIS, o padre Georges Jahola lembra ainda que a destruição atingiu também “todo o património cultural e religioso” nas igrejas, nos mosteiros, bibliotecas inteiras foram queimadas, roubadas e perderam “muitos objetos historicamente significativos”.
CB/OC