Iraque: Aura Miguel fala na «viagem mais importante deste pontificado» (c/vídeo)

Jornalista da Rádio Renascença projeta visita do Papa ao país do Médio Oriente

Foto: Vatican Media

Lisboa, 04 mar 2021 (Ecclesia) – A jornalista Aura Miguel, vaticanista da Rádio Renascença, afirmou que a visita do Papa ao Iraque, que se inicia esta sexta-feira, é a “viagem mais importante deste pontificado”.

“Francisco vai cumprir um grande sonho dos Papas, em geral, que começou por São João Paulo II – na altura, foi muito incompreendido, quando desejou ir à terra de Abraão. E Abraão é o pai das três religiões monoteístas, dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos”, referiu a especialista, em entrevista à Agência ECCLESIA, emitida hoje na RTP2.

“Será, certamente, uma viagem inesquecível”, acrescenta.

Aura Miguel destaca a provocação de sair de um “mundo protegido”, em plena pandemia, considerando que o Papa deixa um “sinal fortíssimo, de uma dimensão bíblica”.

Francisco vai encontrar-se, entre 5 e 8 de março, com a comunidade cristã, responsáveis políticos e líderes de outras religiões, incluindo o grande aiatola Al-Sistani, maior figura do Islão xiita no Iraque.

A jornalista da Rádio Renascença sublinha a escolha de um povo que “foi desprovido de tudo, do ponto de vista material”, mas nunca renegou a sua fé.

“A vida do Papa existe para ser dada àqueles que, de certo modo, merecem mais o seu zelo de pai, porque estão em sofrimento há tantas décadas”, acrescenta.

A vaticanista admite que esta é uma viagem “perigosa”, apesar do reforço de segurança das autoridades iraquianas, com focos de violência e a pandemia de Covid-19.

“O Papa completa-se, dando-se. Parte ao encontro de um país com muitas feridas, que ainda existem, devastado pela guerra”, explica.

A entrevistada destaca que as grandes vítimas “foram também os cristãos”, que diminuíram em mais de 80% a sua presença no Iraque, desde 2003, por causa da segunda Guerra do Golfo e do terrorismo islâmico – primeiro, com a Al-Qaeda, depois com o Daesh.

“O Papa já disse, várias vezes, que vai como um pai ao encontro dos mais precisam”, realça Aura Miguel.

Esta quarta-feira, no final da audiência geral, Francisco justificou a decisão de visitar o Iraque no atual contexto.

“O povo iraquiano espera por nós, esperava por São João Paulo II, que foi impedido de ir. Não se pode desiludir um povo pela segunda vez”, referiu o Papa.

Dos cerca de 1,5 milhões de cristãos que viviam no Iraque antes da segunda Guerra do Golfo, em 2003, estima-se que permaneçam 250 mil, uma diminuição de mais de 80%.

Aura Miguel sublinha que existe neste país “vontade de diálogo”, lembrando que o Papa só visita um país se houver convite das próprias autoridades civis e aceitação dos responsáveis da maior confissão religiosa, no caso em que os cristãos sejam uma minoria da população.

A última encíclica de Francisco, ‘Fratelli Tutti’, mostra o percurso de diálogo, que teve um “sinal visível, importantíssimo”, em 2019, nos Emirados Árabes Unidos, quando Francisco assinou uma declaração sobre a Fraternidade Humana com o xeque Ahmed al-Tayeb, grande imã de Al-Azhar, a mais alta instituição do Islão sunita.

A viagem do Papa inclui, no seu programa, uma “celebração inter-religiosa em Ur dos caldeus, terra de Abraão” e o encontro privado com Al-Sistani, que tem estado atento à situação dos cristãos, afetados pela violência jihadista.

“Os próprios cristãos desencadearam uma proposta de Prémio Nobel da Paz para o grande aiatola”, acrescenta a vaticanista.

Aura Miguel observa que os cristãos do Iraque querem ser cidadãos de “pleno direito” e exigem a possibilidade de viver a sua fé na sua terra natal.

A 33ª viagem apostólica fora da Itália do Papa, a primeira desde o início da pandemia, acontece a convite da República do Iraque e da Igreja Católica local, com passagens por Bagdade, Najaf, a planície de Ur – ligada à memória de Abraão -, Erbil, Mossul e Qaraqosh, na planície de Nínive.

HM/OC

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