Iraque: «A nossa identidade está ameaçada», diz patriarca caldeu

Igreja Católica realizou sínodo anual com diretivas para ajudar refugiados

Lisboa, 05 jul 2014 (Ecclesia) – O patriarca caldeu da Igreja Católica, D. Louis Sako Rafael I, revelou preocupação por a vida cristã no Iraque “chegar ao fim,” porque “haverá um hiato na história”, em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

“Para ser honesto, os bispos neste momento não sabem o que fazer. O futuro (dos cristãos) pode estar no Curdistão, afinal muitos cristãos já vivem lá mas também há muitos que vivem em Bagdade e alguns em Bassorá, no sul xiita. Temos de esperar para ver como a situação se desenvolve”, explicou o patriarca D. Louis Sako Rafael I, em declarações enviadas à Agência ECCLESIA.

O líder da Igreja Católica Caldeia disse que não há esperança num Estado do Iraque único: “Talvez uma unidade simbólica e o nome do Iraque vai continuar a existir, mas haverá três zonas independentes, com os seus próprios orçamentos e exércitos.”

Para D. Louis Sako Rafael I, o atual conflito dos jihadistas do ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), não é a hora mais sombria para os cristãos mas “para todos” e revela que de Mossul e arredores fugiram “muito mais muçulmanos”.

“O ISIS pretende fundar um Estado islâmico com poços de petróleo a fim de islamizar o mundo”, alerta o prelado sobre os objetivos dos jihadistas depois da criação de um “califado” que une territórios entre a Síria e o Iraque.

Para este responsável, o êxodo “é muito sério” porque estão a perder a sua comunidade.

“Se a vida cristã no Iraque chegar ao fim, haverá um hiato na nossa história. A nossa identidade está ameaçada”, assinala.

O Sínodo anual da Igreja Caldeia, realizou-se Ankawa, a poucos quilómetros de Erbil, no Curdistão iraquiano, de 24 a 27 de junho, onde foi designada uma comissão de cinco bispos das áreas afetadas com a missão de garantirem o apoio inicial para os refugiados.

O patriarca católico caldeu revelou que os cônsules americano e francês também estiveram presentes para ajudá-los a desenvolver um plano de ajuda, “mas ainda está tudo em mudança”.

Segundo D. Louis Sako Rafael I “a tragédia é que as famílias estão divididas” porque muitos cristãos iraquianos já estão no Ocidente, “as crianças perguntam constantemente aos seus pais porque é que eles ficaram e não foram com elas”.

“Não se pode travar este movimento, é impossível”, acrescenta o patriarca, que considera que os mais velhos poderão regressar “quando a situação estabilizar” mas a população mais nova vais “ficar fora do país”.

“No espaço de dez anos restarão talvez 50 mil cristãos; antes de 2003 eram cerca de 1,2 milhões”, contabiliza.

O religioso manifesta também desilusão porque o Ocidente, em termos gerais, “não está a fazer nada” e considera que “os cristãos do Ocidente são muito fracos” em termos de influência, mas destaca o apoio material e espiritual através da oração..

AIS/CB/OC

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