Intervenção do Arcebispo de Braga no Conselho Arquidiocesano de Pastoral

Novo Paradigma Pastoral

Agradeço desde já a vossa disponibilidade e presença neste Conselho Arquidiocesano de Pastoral.

Na missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, voz e rosto de toda a Palavra, é o Espírito Santo quem preside à comunhão eclesial. Nesta certeza contribuiremos para Repensar a Pastoral na diocese e em Portugal, sabendo que toda a renovação terá de partir da escuta atenta e pessoal do Verbo encarnado, do nosso testemunho de amizade com Deus e com os irmãos. Para lograrmos tal trabalho não nos podemos contentar em colorir epidermicamente o que na profundidade se encontra acinzentado. A proliferação de promessas de felicidade, a autosecularização da Igreja e dos seus membros mediante comportamentos antievangélicos desafiam permanentemente a verdade e a fidelidade do cristianismo a Cristo. É neste desejo de fidelidade que interpretamos esta missão de repensar a pastoral.

Geralmente, e de acordo com o contexto histórico de cada tempo, a uma atitude pastoral dominante corresponde um determinado paradigma eclesiológico. A comummente designação “pastoral de transmissão” dominou até há bem pouco tempo, caracterizada por uma fé transmitida de geração a geração, automática, exclusivamente doutrinal e sacramental, moral e jurídica. Um modelo de enquadramento onde toda a sociedade era por norma cristã. É aquilo que frequentemente se nomeia como “societas christiana”.

Com o advento do Concílio Vaticano II operam-se mudanças na Igreja, quer internamente quer na relação com o mundo. Abrem-se novos horizontes para uma pastoral de comunhão e de participação entre os diversos ministérios e carismas. Contudo, verificamos que essa promessa de abertura vai esbarrando na tensão permanente entre a emergência da renovação e a manutenção de modelos. Mas o que teria acontecido se a comunidade dos primeiros apóstolos tivesse permanecido em Jerusalém? A abertura aos gentios, a atitude missionária de Paulo e de outros, apaixonados pelo amor de Deus e pela salvação universal, fez da Igreja sinal e presença amiga de Deus no meio do seu Povo.

Damos graças a Deus pelos caminhos já percorridos! É certo que algumas orientações conciliares foram estudadas, compreendidas e aplicadas. Não obstante falta-nos percorrer um longo caminho para que a Igreja seja verdadeiramente missionária. É tempo de perguntarmos o que é que Deus espera hoje da Igreja? Como renovar o entusiasmo inicial por Cristo ressuscitado? Qual o nosso contributo na edificação de uma Igreja que vive da Palavra para anunciar o evento de Cristo aos nossos contemporâneos? Como temos cuidado e testemunhado a transmissão da fé e a pessoa de Cristo às novas gerações? 2

 

Se outrora o método era o da imposição, hoje terá de ser o da proposta eloquente, baseada no testemunho coerente de fé e de vida, de gestos e palavras que revelem o amor de Deus por todos os seus filhos. Uma proposta verdadeira e livre, ao jeito de Jesus, a todos os homens, sem o pretexto primeiro de fidelizar técnica ou religiosamente mas abençoar, amar e libertar das amarras que oprimem a dignificação do Homem.

É grande o desafio que Deus coloca à Igreja. No meio de tantas propostas, ela deve manter-se pobre e humilde, mestre e perita em humanidade, para fazer de cada homem “imagem e semelhança de Deus”, à luz de Cristo morto, ressuscitado e glorificado. A oração e a escuta atenta da Palavra acompanharão toda e qualquer reflexão. A voz do Espírito ecoará nos nossos corações para anunciar com alegria e festivamente a Boa-Nova de Cristo.

Este é o caminho da Arquidiocese de Braga que está comprometida a viver a e na Palavra. É o contributo que a Igreja em Portugal espera de nós. E, acrescentemos ainda, o caminho a percorrer rumo ao próximo Sínodo dos Bispos, a realizar em Roma, como o Santo Padre recentemente anunciou, sob o tema “A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã.” A fé cristã nasce da palavra de Deus que suscita do homem crente uma resposta de compromisso com o próximo. Sintamo-nos os primeiros destinatários do Evangelho para que, Ele – e só Ele –, chegue ao coração de todos os homens.

Esta reflexão terá de ir para além do Conselho Pastoral. Teremos de ser dinamizadores, junto dos Departamentos, Secretariados, Congregações, Movimentos, de um novo paradigma pastoral, assente no compromisso e na fidelidade à Palavra, para suscitar em nós mudanças inéditas e ousadas. A Igreja em Portugal conta connosco e espera as nossas propostas. Rezemos, reflictamos e, particularmente, consignemos o resultado do nosso trabalho, hoje e até ao final de Fevereiro, no Secretariado Permanente. Não permitamos que esta oportunidade se perca. Ousemos ouvir o Espírito e provoquemos o diálogo com quem partilha a mesma fé e com aqueles que têm convicções diferentes. Hoje é o início de uma reflexão conjunta que se quer fecunda e evangélica.

Braga, 27 de Novembro de 2010

Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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