Intervenção de D. António Marto na tomada de posse do novo Reitor do Santuário de Fátima

1. Gratidão a Monsenhor Luciano Guerra Em tão significativa circunstância, neste momento da “passagem de testemunho”, sinto o dever da justiça, a necessidade da virtude (da gratidão) e o laço da comunhão como imperativo para exprimir ao Mons. Luciano Guerra o mais vivo e sentido reconhecimento pela dedicação e pelo amor que colocou no desempenho da nobre, bela e árdua missão de Reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima ao longo de 35 anos, para o bem de todo o povo de Deus peregrino. Nestes dois anos de Bispo de Leiria-Fátima em que o Senhor nos chamou a trabalhar juntos, pude apreciar, pessoalmente, os dotes da sua alma de pastor, inteiramente dedicado ao Santuário e à Mensagem que lhe dá a razão de ser; a sua competência iluminada, a seriedade e ponderação das suas decisões, a sua capacidade empreendedora de novos caminhos e estruturas de evangelização, a sua lealdade de colaborador fiel, o seu grande sentido eclesial, a sua profunda e esclarecida devoção mariana. Com a sua reitoria, o Santuário conheceu uma nova etapa e um novo impulso que culminaram na inauguração da Igreja da Santíssima Trindade e que deixam marcas indeléveis na história de Fátima. O Santuário, a nível material, espiritual e ambiental, tornou-se um verdadeiro oásis espiritual de encanto, de recolhimento e contemplação, de frescura interior e de paz. Por isso, para além de lhe exprimir os meus sentimentos de gratidão como bispo da diocese de Leiria-Fátima, faço-me também intérprete da gratidão do episcopado português e de todos aqueles que, no decurso destes 35 anos, o conheceram como Reitor e admiraram a sabedoria prudente e o zelo incansável com que, sem poupar energias, realizou a sua missão, tendo em conta, unicamente, o bem da Igreja. Asseguro-lhe a minha sincera e constante estima, o meu afecto de pastor e a comunhão fraterna bem como ao Senhor P.e António Sousa pelo seu trabalho dedicado na administração competente, eficaz, honesta e transparente do Santuário. O Senhor Deus, a quem confio todo o desejo da vossa alma sacerdotal, vos conforte e apoie nos anos futuros, dando-vos saúde física e infundindo no vosso ânimo serenidade, alegria e esperança. A Virgem Mãe, Nossa Senhora de Fátima vele, de modo particular, sobre vós concedendo-vos as melhores bênçãos pelo serviço filial que lhe prestastes no nosso Santuário e através do mundo. 2. Votos de bênção e serviço fecundo para o novo Reitor Caro Pe Dr. Virgílio Antunes: Acaba, Vossa Reverência, de tomar posse como Reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima com estatuto de Santuário nacional e de projecção mundial, onde afluem, como a um porto de mar acolhedor, cinco milhões de peregrinos por ano. É uma ocasião para lhe endereçar as mais vivas e sentidas felicitações em nome pessoal e do episcopado português que, em assembleia plenária, ratificou, unanimemente, a sua indigitação para este cargo. Estendo estas felicitações ao novo Administrador, P.e Cristiano Saraiva. É também um momento propício para sublinhar a relevância do lugar e da missão do Santuário de Fátima na Igreja, no país e no mundo, e por conseguinte, a relevância da missão que agora lhe é confiada como Reitor. A relevância nacional e mundial do Santuário de Fátima A partir da minha experiência, ainda curta, de Bispo de Leiria-Fátima creio poder afirmar, sem exagero, que o Santuário de Nossa Senhora de Fátima representa, de algum modo, o coração materno de Portugal, o coração espiritual do país. Além disso, possui uma particular importância para a Igreja universal e para o mundo inteiro, como testemunham as declarações dos últimos Pontífices desde Pio XII a Bento XVI. Fátima tornou-se para Portugal e muito além das suas fronteiras lugar-símbolo de paz, de reconciliação e de unidade de corações, de povos e culturas. É símbolo de uma abertura que supera não só as fronteiras geográficas e nacionais mas, na pessoa de Maria, remete para uma dimensão essencial ao homem: a busca de Deus, a capacidade de se abrir ao mistério de Deus e da beleza do seu Amor, como o fundamento e advogado supremo da dignidade humana e da causa da paz entre os povos. O Santuário de Fátima insere-se numa rede de santuários marianos espalhados pelo mundo, que constituem um recurso de amor, um oásis espiritual e uma reserva de esperança face à força devastadora do mal e são fonte perene de a elevação espiritual da humanidade. Como um oásis espiritual, um santuário indica ao mundo de hoje a coisa mais importante e, por fim, a única decisiva: existe uma última razão pela qual vale a pena viver, peregrinar na história, sofrer e esperar, a saber, Deus e o seu Amor imperscrutável, que excede todo o nosso entendimento e o nosso cálculo. O Santuário na missão evangelizadora da Igreja Como todos os santuários, também o nosso participa da missão evangelizadora da Igreja e dos desafios que hoje se lhe põem, enquanto lugar privilegiado de acolhimento, centro de unidade pessoal, fraterna e eclesial, caminho para a santidade de povo (popular), sinal de esperança, lugar de anúncio e de revitalização da fé. Como não evocar aqui a tão bela síntese de Bento XVI em relação a Fátima? “Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ergueu Ela a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar”. Nesta vertente, colocam-se, permanentemente, o desafio e a responsabilidade do santuário, de conservar sempre um rosto e um dinamismo missionários para não se reduzir a um mero “centro de serviços religiosos”. Enquanto desafio, o santuário é provocado a interrogar-se sobre a qualidade, a modalidade e as circunstâncias da comunicação da fé em múltiplas formas, linguagens, símbolos e sinais. É um desafio que requer competência teológica e cultural, fina sensibilidade psicológica, prudente mas corajosa inovação no estilo e no método da comunicação da fé. Do mesmo modo, o Santuário é interpelado, sente-se chamado em causa para responder às novas questões e buscas geradas pela cultura pós-moderna. Isso exige verificar a qualidade e aptidão da pregação; considerar os conteúdos do anúncio segundo os ritmos do Ano Litúrgico ou de eventos próprios do Santuário; avaliar o contributo específico nas modalidades de acolhimento e escuta dos fiéis e nos tempos de diálogo espiritual, mesmo para além do atendimento no sacramento da reconciliação; em síntese, cuidar da “excelência” da oferta, isto é, de tudo o que é oferecido no Santuário para o bem dos peregrinos. O carisma próprio do Santuário de Fátima Não deve ser esquecido, por fim, que o rosto próprio do Santuário se manifesta e realiza no cumprimento do seu carisma atribuído pelo desígnio de Deus para a salvação do homem, neste preciso lugar, através da Mensagem de Nossa Senhora com o símbolo do seu Imaculado Coração de Mãe que vela pela humanidade. Maria dá-nos olhos e coração para contemplar o Amor Misericordioso “como força de Deus e limite divino contra o mal no mundo” (Bento XVI). A grande lição de Fátima é que a oração é sempre a arma mais forte, mesmo no campo da história, para a conversão dos corações e a paz entre os povos. “Fátima é uma fonte que Deus abriu no mundo e que continua a brotar para dessedentar corações e fecundar histórias” (João Paulo II). O Santuário, de facto, dilata o coração do homem à medida do coração de Cristo, a exemplo do coração de Maria, através de um olhar universal. A universalidade caracteriza a autêntica espiritualidade católica e o santuário educa a sair dos limites, das atitudes egoístas, das próprias estreitezas mentais e esforça-se por promover uma corresponsabilidade global, um afecto universal típico dos cristãos maduros e da própria Mensagem da Senhora; esforça-se por abrir os corações às dimensões do mundo. Como foi dito pelo profeta: “ O meu templo chamar-se-à casa de oração para todos os povos” (Is 56,7). Confiança e esperança Oxalá estas breves reflexões possam iluminar e ajudar o reitor e o administrador do Santuário no desempenho dos seus cargos. Desde já, asseguro-lhes a minha confiança, a minha comunhão e o meu apoio. O Senhor Reitor, Pe Dr. Virgílio, alia uma sólida formação doutrinal e teológica a uma sábia experiência pastoral, já testada aqui no Santuário. O Senhor Administrador, Pe Cristiano, já deu provas, como ecónomo diocesano, das suas qualidades e aptidões para gerir um grande Santuário, segundo os critérios evangélicos e as normas canónicas. Tudo isto é, para nós, motivo de fundada esperança! Por intercessão de Maria, Nossa Senhora de Fátima, imploro a luz e a força do Espírito para a vossa nobre, bela e árdua missão! Fátima, 25 de Setembro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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