Início da República não foi fácil para a Igreja

Tema em destaque na Semana de Estudos Teológicos em Viana

O início da República foi o período mais difícil para a Igreja Católica em Portugal, mas também estimulou o seu renascimento espiritual.

Foi desta forma que o padre João Seabra abordou hoje a relação entre a Igreja e a República, o tema da 19ª Semana de Estudos Teológicos de Viana do Castelo.

O professor de Teologia da Universidade Católica contou o que se passou durante os primeiros sete anos de vida da República, no tempo em que a Igreja era alvo de perseguição intensa.

O Pe. João Seabra diz que as pessoas, no geral, estão mal informadas sobre o que realmente se passou entre o dia 5 de Outubro e o ano de 1917: “Não se contam factos numa certa historiografia da República”.

No entanto, apesar de difícil, foi um período em que a Igreja se purificou, um período “de renascimento espiritual, de reencontro de forças, de afirmação da unidade da igreja, de aprofundamento da unidade e da fidelidade ao Papa”.iana discute as relações da Igreja com o Governo na Revolução Republicana

Separação inevitável

A questão da separação dos poderes estava latente na Igreja quando se deu a revolução Republicana de 1910 e os Bispos tinham a sensação dessa «irrevesibilidade», declarou o historiador Matos Ferreira na abertura da XIX Semana de Estudos Teológicos da Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas do Instituto Católico de Viana do Castelo.

Desafiado a caracterizar a situação social, política e religiosa e as influências no eclodir da revolução, Matos Ferreira fez uma análise de contexto muito alargada perpassando pelos dois regimes na Europa que então não eram monarquias, pelo continente americano todo ele República, parta chegar ao Pacífico.

A sua tese central é que os “ingredientes” estavam todos no terreno para o eclodir da mudança de regime até porque os protagonistas já estavam todos posicionados.

Estava em curso um processo de liberalização, se quisermos, de «secularidade» e de separação de poderes, embora sem se ter a noção de como iria avançar o processo, o que leva mais tarde um Bispo a declarar que «não era esta» que a Igreja esperava.

E, «desmistificando», Matos Ferreira alertou para o «alargado» debate que se fazia no seio da Igreja. Sem que as palavras lhes chegassem, estava em jogo a «eclesiologia». Por isso, defende com os documentos, a Igreja não estava unânime com a monarquia e estava num «processo interno de recomposição». Citou a este propósito a primeira reunião de todos os Bispos de Portugal em S. Vicente de Fora que, na imprensa da época, em toda ela, «suscitou uma dura reacção».

A principal preocupação dos Bispos, então, prendia-se com a «evangelização» de base, em sectores como a catequese, o ensino religiosos nas escolas ou a formação do clero nos seminários.

Matos Ferreira sublinhou ainda que «a Igreja não pode só ter a memória de que foi perseguida», a par de outros, como sindicalistas e até alguns republicanos, mas deve tem de ter a consciência de que foi um «factor de apaziguamento». O historiador recordou que está na natureza da Igreja querer a ordem e por isso «não interveio no sentido de fragilizar o Estado».

A própria Igreja, no seu interior vivia uma situação muito complexa, própria de um tempo em que a mudança estava a avançar.

Esta noite, José Eduardo Franco traz à reflexão a problemática das ordens religiosas no regime republicano.

Redacção/RR/Paulo Gomes

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