«Indiferença e desconhecimento do fenómeno religioso na sociedade actual»

Guilherme de Oliveira Martins apresenta ciclo de conferências do Centro de Reflexão Cristã Reflectir sobre a relação entre o Estado e as religiões e a necessidade de dar espaço ao fenómeno religioso na sociedade contemporânea é o objectivo do Centro de Reflexão Cristã, que abre um ciclo de conferências sobre Estado e Religiões. Guilherme de Oliveira Martins, Presidente do Centro de Reflexão Cristã, assume que este é o objectivo que está no centro da análise da evolução recente das sociedades, “onde percebemos que há um perigoso fenómeno de indiferença, de desconhecimento da relação entre os homens e o sagrado, e o lugar das religiões”. “Este não é um quadro exclusivo da sociedade portuguesa”. O também Presidente do Tribunal de Contas aponta que este é um fenómeno geral com manifestações várias. “Alguns intelectuais, como Umberto Eco, dizem que a sociedade não pode continuar com este desconhecimento e indiferença” e aponta como consequências “o surgimento de fenómenos radicais, fundamentalismos, passíveis de acontecer em todos os fenómenos religiosos, e são uma reacção doente”. As reflexões programadas do CRC querem contribuir para “garantir que os direitos fundamentais, tendo ou não religião, sejam cumpridos”. Guilherme de Oliveira Martins recorda que a actual crise mundial económica e financeira, “é consequência deste quadro”. “Vivemos um grave problema de indiferença relativa a uma hierarquia de valores. Relacionando-se com valores, as sociedades distanciaram-se da hierarquia desses mesmos valores e isso, conduz à emergência em que nos encontramos, à economia de casino que apenas visa o lucro imediato e a competição sem regras”. “Perante a ausência da hierarquia de valores, sucedem-se reacções pouco equilibradas, pouco conhecedoras, inclusivamente da relação entre razão e fé”, indica. Guilherme de Oliveira Martins reconhece uma difícil relação entre o Estado e as religiões. “Muitas vezes registam-se dificuldades”. Razões históricas contribuem para a construção de barreiras “que prejudicam esse relacionamento normal e equilibrado”. “Devemos encontrar soluções equilibradas onde o espaço público dê a possibilidade de afirmação das várias confissões, com respeito mútuo”. No âmbito português, o Presidente do CRC regista “um caminho positivo, mas que tem de continuar”, isto apesar de a Concordata não estar ainda regulamentada. Guilherme de Oliveira Martins considera que a regulamentação “é indispensável”, mas também “a regulamentação da lei de liberdade religiosa”, sendo “essencial dispormos de instrumentos que permitam um desenvolvimento normal e harmonioso entre as diferentes afirmações religiosas”. A relação entre a Igreja Católica e o Estado é pautada por “bom senso”. Guilherme de Oliveira Martins frisa “ser indispensável prosseguir este relacionamento de forma a que todas as virtualidades do quadro judirico-constitucional sejam aproveitadas”. A primeira conferência do ciclo do Centro de Reflexão Cristã sob o tema «Estado e Religiões – Liberdade, Autonomia e Laicidade» contou com a participação de José de Sousa e Brito e Luís Salgado de Matos. Laicidade, autonomia e liberdade “são três conceitos complementares”. Guilherme de Oliveira Martins indica que ambos partem do princípio da separação. “Este é um principio estrutural e civilizacional, afirmado, desde as origens pelo Cristianismo”. Mas, afirma, “este princípio obriga que haja espaço para a espiritualidade e para a relação entre razão e fé, num diálogo efectivo entre as pessoas, entre as crenças religiosas. Este diálogo tem de deixar espaço para a afirmação de cada uma das confissões”. Em 2009 o CRC quer apostar em algumas iniciativas vão no sentido de afirmar o fenómeno religioso em toda a sua dimensão. Uma das iniciativas a desenvolver prende-se com o centenário do nascimento de Simone Weil. “Uma intelectual que se aproximou do fenómeno religioso e cristão, que reflecte sobre um vasto conjunto de temas, desde a condição operária até à afirmação do diálogo espiritual na sociedade contemporânea”.

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