Paulo Ribeiro considera que «nenhuma» medida «iria traduzir-se num esforço acrescido financeiro para o Estado»
Lisboa, 20 out 2020 (Ecclesia) – O presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC) disse à Agência ECCLESIA que vai procurar sensibilizar partidos para incluir medidas de apoio ao setor no Orçamento de Estado para 2021.
“O que tememos é que com esta pandemia, com este enfraquecimento brutal da economia relativamente à publicidade, que é no fim de contas o grande sustentáculo da imprensa regional, muitos títulos fiquem pelo caminho, muitas regiões fiquem sem voz, e pensamos que é a coesão territorial que ficará um pouco posta em causa”, disse Paulo Ribeiro.
O presidente da AIC destacou que o Ministério da Cultura “verificou um aumento da comparticipação do Orçamento de Estado” para 2021, mas o orçamento para a imprensa regional “é exatamente o mesmo que o ano passado”.
Segundo o entrevistado, “apesar de a verba ser a mesma que está consignada ao Orçamento de Estado em vigor”, o Estado vai poupar por que “não vai despender de tanto dinheiro com o porte pago, uma vez que as tiragens são menores, fruto da pandemia, fruto do desaparecimento de títulos”.
Neste contexto, a associação vai “tentar numa ronda negocial juntos dos partidos na Assembleia da República”, procurando que algumas das medidas que apresentaram ao Governo “possam ser contempladas em sede de discussão no Orçamento de Estado”.
Paulo Ribeiro recorda que a AIC foi recebida pelo secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, que tutela este setor, apresentando “três medidas únicas” consideradas urgentes, sem que isso implique “um esforço acrescido financeiro para o Estado”.
“Está contemplado o mesmo apoio que vinha a ser atribuído ao setor e não está contemplada qualquer medida adicional. Quem olhar para o Orçamento de Estado verificará que não se passou o que está a passar este ano”, realçou no programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP 2.
O presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã explicou que uma das medidas propõe que os leitores deduzam “em sede de IRS o preço de assinatura de um jornal e de uma revista”, que teria “a vantagem” de tentarem “captar mais assinantes, mais leitores”, com “óbvios benefícios” de “combater a iliteracia”.
Ao Governo português, através da Secretária de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, foi proposto também que as empresas pudessem fazer publicidade nos jornais e “contemplar esse custo com majoração em sede de IRC, de forma a contemplar a economia regional”.
A terceira medida “urgente” é um “incentivo à leitura, o porte pago”, e que “houvesse um aumento dos atuais 40%, que é taxa que o Estado atribui, para os 60%” e esse diferencial poderia ser obtido com “o cancelamento da despesa do envio dos jornais para as regiões autónomas que, neste momento, não faz sentido”.
Paulo Ribeiro, jornalista e chefe de redação dos jornais ‘Alvorada’ (Lourinhã) e’ A Voz do Mar’ (Peniche), destaca que a imprensa regional tem feito “um investimento muito grande”, por exemplo, na “profissionalização dos seus quadros”, e “sem medidas que possam acautelar ainda mais neste período” temem que o papel deste setor na sociedade “fique muito comprometido”.
Os desafios e as dificuldades da imprensa regional estiveram em destaque nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social 2020, onde se refletiu, por exemplo, da passagem completa para o digital/online.
“Ainda é o produto em papel, impresso, que suporta as empresas jornalísticas uma vez que é a publicidade o grande fator de sustentabilidade e a grande receita das empresas e das instituições que editam jornais e revistas”, explicou o presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.
A instituição tem de 25 anos de atividade e representa cerca de 170 títulos de jornais e revistas, com uma tiragem média mensal de cerca de dois milhões de exemplares.
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