II Concílio do Vaticano: Segui-lo «sofregamente» e, às vezes, às escondidas

Recuar 50 anos deve ser uma experiência hercúlea e laboriosa. Quando o Papa João XXIII convocou o II Concílio do Vaticano, a sociedade tinha os olhos centrados em parâmetros diferentes daqueles que hoje o mundo vive. O cónego António Rego revela que a sua vida “de cristão e padre não se entende sem o concílio”. Para o ex-director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, a assembleia magna (1962-1965) realizada no Vaticano foi “um ponto de chegada de vários séculos de reflexão, oração, numa igreja sensível aos sinais dos tempos, na convergência e distanciamento dos sinais do Espírito”.

Recuar 50 anos deve ser uma experiência hercúlea e laboriosa. Quando o Papa João XXIII convocou o II Concílio do Vaticano, a sociedade tinha os olhos centrados em parâmetros diferentes daqueles que hoje o mundo vive. O cónego António Rego revela que a sua vida “de cristão e padre não se entende sem o concílio”. Para o ex-director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, a assembleia magna (1962-1965) realizada no Vaticano foi “um ponto de chegada de vários séculos de reflexão, oração, numa igreja sensível aos sinais dos tempos, na convergência e distanciamento dos sinais do Espírito” (IN: Vaticano II – 50 anos, 50 olhares, Lisboa; Editora Paulus).

Segundo o sacerdote natural dos Açores, a eficácia do II Concílio do Vaticano “não se mede, cinquenta anos depois, nem pela quantidade de documentos nem pela execução milimétrica de regras, como se se tratasse de um novo código”. Quando se iniciou o concílio, o cónego António Rego, jornalista com décadas de experiência, estava a começar os estudos de Teologia. No livro citado confessa que o seguiu “sofregamente”, “às vezes às escondidas e através de revistas «perigosas»”.

Durante as sessões conciliares, o padre António Cartageno – um dos maiores compositores portugueses de música sacra e formado em canto gregoriano e em composição sacra em Roma (Itália) – estava nos primeiros anos de estudo no Seminário de Beja. Foi sobretudo a partir de 1965, já no Seminário dos Olivais (Lisboa), na fase de aplicação das primeiras «novidades» conciliares que começou “a viver com entusiasmo o pós-concílio”.

Na obra «Vaticano II – 50 anos, 50 olhares», o sacerdote da diocese alentejana recorda que lia “avidamente os vários documentos produzidos por essa magna reunião da Igreja, que começaram a integrar os conteúdos das disciplinas do curso teológico: a constituição dogmática sobre a Igreja, as Constituições sobre a Sagrada Liturgia e sobre a Igreja no mundo contemporâneo”. Naturalmente, o que mais chamou a atenção de todos os formandos “foi a introdução da língua vernácula na liturgia”. Ao início timidamente – só as leituras em português e o resto em latim – mas, depois de pouco tempo “foi como uma enorme comporta que se abriu e ninguém mais conseguiu fechar”, escreveu. E acrescenta: “Quantas consequências trouxeram este facto à vida litúrgica da Igreja”.

Por sua vez, o sacerdote Dehoniano, João Chaves, recorda que tinha 20 anos na altura da abertura do concílio convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI. De 1966 a 1973 esteve a estudar na Universidade Gregoriana em Roma (Itália) e vivia na cúria geral dos sacerdotes Dehonianos, “um outro observatório privilegiado da implementação das novas orientações conciliares, nomeadamente em campo de vida consagrada”. Os Dehonianos de Bolonha (Itália), na sua revista «Il Regno», publicavam “sem filtros, e com certa coragem por alguns contestada, actualidades em matéria de implementação conciliar” que permitia aos estudantes de Teologia e História, “conhecer pormenores e abrir horizontes” nestas matérias.

LFS

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