II Concílio do Vaticano: Autores ganharam nova vida literária

Embora o II Concílio do Vaticano tenha encerrado no mês de dezembro de 1965, só no ano seguinte (14 de junho), se abria para muitos católicos uma nova época com a abolição do índice dos livros proibidos. Com esta medida, o Vaticano cumpria as palavras proféticas de João XXIII proferidas na abertura deste acontecimento magno da Igreja Católica.

Embora o II Concílio do Vaticano tenha encerrado no mês de dezembro de 1965, só no ano seguinte (14 de junho), se abria para muitos católicos uma nova época com a abolição do índice dos livros proibidos. Com esta medida, o Vaticano cumpria as palavras proféticas de João XXIII proferidas na abertura deste acontecimento magno da Igreja Católica. Para o Papa que o convocou, a Igreja devia ir ao encontro das necessidades dos tempos actuais, propondo-se antes de mais demonstrar a validade da sua doutrina e não enveredando pelo caminho das condenações.

Num artigo publicado no jornal «Correio de Coimbra» (22-08-96), Manuel Augusto Rodrigues realça que, actualmente, “já pouco se fala dos índices de livros proibidos, tema que durante quatro séculos tanto agitou a Igreja e o mundo culto em geral”. Para trás da referida decisão de 1966 ficava uma “longa história de censuras e proibições” da leitura de livros de autores célebres, como a «Madame Bovary» e «Salammbô» (escritos por Gustave Flaubert).

«Les Misérables» de Victor Hugo (novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta e ativista pelos direitos humanos francês do século XIX) e Emanuel Kant (filósofo alemão do século XVIII) com a sua «Critica da Razão Pura» também tinha o seu nome na lista dos livros censurados. Estes não foram os únicos pensadores/filósofos que sofreram com a rede apertada, antes do II Concílio do Vaticano, que incluía também Pascal, Descartes, David Hume, Espinoza e Voltaire. Filósofos marcantes da cultura europeia que “viram os seus nomes registados no rol dos livros defesos” (In: Jornal «Correio de Coimbra» [22-08-96]).

A censura eclesiástica também actuou em relação aos teólogos e, neste caso, são de recordar os “livros dos reformadores” e de “grande número de católicos” que durante o pontificado de Pio X se “tornaram suspeitos de modernismo”, entre os quais se contam Alfred Loisy (teólogo e filósofo francês nascido em 1857 e falecido em 1940 e grande conhecedor das Sagradas Escrituras, que ensinou no Institut Catholique de Paris) e Hermann Schell (teólogo e filósofo alemão nascido em 1850 e falecido em 1906).

Aconteceu também ser incluída no rol de livros proibidos a obra completa de determinado autor, o que tinha como consequência ser proibida a leitura de toda e qualquer parte da mesma, “embora se tratasse de assuntos que nada tinham a ver com a fé e os costumes. Incluem-se nestes casos Balzac, Giordano Bruno, Alexandre Dumas (pai e filho), André Gide, Anatole France, George Sand, Jean Paul-Sartre e Emile Zola. Depois do II Concílio do Vaticano estes autores ganharam nova vida literária…

LFS

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