Igreja vs Classe Operária: O que mudou?

Natividade Cardoso, líder do Movimento entre 1970 e 1980, fala de um projecto que ajudou a criar uma classe operária capaz de pensar e agir por si própria

Lisboa, 28 Jan (Ecclesia) – Natividade Cardoso considera que a Liga Operária Católica (LOC/MTC) representou um ponto de viragem na relação da Igreja com o Mundo Laboral, ao apostar numa lógica de “acção no meio” que contrastava com a ideia de “serviço social” que estava instituída.

“Passámos do serviço para uma influência no meio, como era, no fundo, a grande visão da Acção Católica. Militantes que fossem actuantes no meio, não para ensinar mas para actuar com as pessoas, independentemente da sua fé ou ideologia” sublinha a antiga presidente da LOC/MTC, em entrevista à agência ECCLESIA.

Nascido em 1936, como uma das faces mais visíveis da Acção Católica no meio operário para adultos, a ideia inicial daquele Movimento era proporcionar um conjunto de apoios aos trabalhadores, numa altura em que mais-valias como a Segurança Social ou a Caixa de Previdência ainda não estavam oficialmente criados.

Este “serviço social” da Igreja estendia-se à área da Cultura, “através de cursos que se puderam facultar, adaptados ao nível de instrução dos trabalhadores” acrescenta Natividade Cardoso, para quem o Movimento “sempre prestou um serviço fundamental ao mundo operário, de maneiras diferentes, em épocas diferentes”.

No entanto, foi a partir da década de 60, do século XX, que a actuação da Igreja face ao Mundo Laboral começou a mudar, passando do assistencialismo à acção, com a implementação da chamada “Revisão de Vida Operária”.

O método, introduzido pelo padre belga Joseph Cardijn, fundador da Juventude Operária Católica, levou os militantes da LOC/MTC a serem mais activos dentro das organizações operárias, a nível local, regional ou nacional.

“O facto dos trabalhadores puderem tomar conta do Movimento por si próprios, irem crescendo na capacidade de o dirigir, serem capazes de pensar entre si, foi um contributo muito grande para a promoção da classe operária” recorda a antiga presidente da LOC/MTC.

Os militantes traziam das famílias, dos seus grupos de trabalho e dos diferentes organismos que representavam, “a visão do que viviam, a acção do que faziam e o compromisso a que se submetiam”.

“E reviam esse compromisso, aí sim, à luz daquilo que era a fé expressa no Evangelho e da Doutrina Social da Igreja” ressalva Natividade Cardoso, que acredita que este método, complementado com o “trabalho atento” de todos os militantes, vai permitir que a LOC/MTC continue a corresponder às exigências do tempo.

A antiga dirigente participa amanhã, em Lisboa, na sessão solene de abertura das Comemorações dos 75 anos da Liga Operária Católica.

JCP/RM

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