Documento sublinha impacto das novas tecnologias e da globalização na transmissão da fé
Cidade do Vaticano, 24 jun 2020 (Ecclesia) – O Vaticano apresentou hoje o novo Diretório para a Catequese, o terceiro documento do género em 50 anos, que sublinha o impacto das novas tecnologias e da globalização na transmissão da fé.
“Na Igreja, muitas vezes, é habitual uma comunicação unidirecional: prega-se, ensina-se e apresentam-se sínteses dogmáticas. Além disso, só com um texto escrito é difícil falar aos mais jovens, habituados a uma linguagem que consiste na convergência da palavra escrita, som e imagens”, refere o texto, divulgado esta manhã pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
O documento que vai orientar a ação catequética das comunidades católicas sublinha as possibilidades de “interação” que se abrem com as redes sociais e plataformas digitais, que alteram “a própria abordagem da experiência fé”.
O documento foi apresentado hoje à imprensa pelos responsáveis do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização (Santa Sé), que desde 2013, por decisão de Bento XVI, hoje Papa emérito, assumiu entre as suas competências o setor da Catequese.
O digital não só faz parte das culturas existentes, como se está a impor como uma nova cultura, modificando antes de mais a linguagem, modelando a mentalidade e reelaborando as hierarquias de valores”.
Os catequistas são desafiados a aproximar a linguagem na rede com a linguagem religiosa, num acompanhamento pessoal que leve “cada jovem a redescobrir o seu projeto pessoal de vida”.
“Este caminho requer que se passe da solidão, alimentada pelos likes, à realização de projetos pessoais e sociais a realizar em comunidade”, pode ler-se.
Estas propostas, destaca o Vaticano, serão cada vez mais digitais, exigindo “formas inéditas de evangelização” que levem a “ações pastorais globais, tal como é global a cultura digital”.
O novo Diretório adverte para os limites e problemas do digital, observando que o processo deve ser coletivo e nunca individual, passando do mundo “isolado das redes sociais para a comunidade eclesial”.
“A catequese valoriza todas as linguagens que a ajudam a realizar as suas tarefas; de modo particular, tem uma atenção em relação à linguagem narrativa e autobiográfica”, bem como a arte, acrescenta o texto.
Ao longo de 428 pontos, em mais de 120 páginas, a Santa Sé destaca a “exigência de colocar tudo em chave evangelizadora”, projetando “espaços e propostas concretas para o primeiro anúncio e para repensar a iniciação cristã em chave catecumenal”.
O Diretório fala da Catequese como “laboratório” de diálogo, apresentando princípios teológico-pastorais e orientações gerais para o setor, com destaque para a formação dos catequistas.
O Vaticano sublinha que todos são responsáveis pela ação catequética, falando no papel dos bispos, padres, consagrados e consagradas neste processo, na relação com os pais, padrinhos e com os avós, destacando o papel dos mais velhos na transmissão da fé.
No texto assume-se ainda o compromisso de “evitar qualquer género de abuso, seja ele de poder, de consciência, económico ou sexual”.
Nos últimos 50 anos, foram publicados o Diretório Catequístico Geral, em 1971, e o Diretório Geral de Catequese, de 1997; a 11 de outubro de 1992, São João Paulo II publicou ainda o Catecismo da Igreja Católica.
O novo documento sustenta que a ação “catequético-iniciática está ao serviço da profissão de fé”.
Este impulso missionário espontâneo deve ser apoiado por uma verdadeira pastoral do primeiro anúncio, capaz de levar a cabo iniciativas para propor de forma explícita a boa nova da fé, manifestando concretamente a força da misericórdia, verdadeiro centro do Evangelho, e favorecendo a inserção de quem se converte na comunidade eclesial”.
A Catequese é colocada numa dinâmica de iniciação cristã, com “uma formação de base, essencial, orgânica, sistemática e integral da fé”.
“É um itinerário pedagógico oferecido na comunidade eclesial que conduz o crente ao encontro pessoal com Jesus Cristo através da Palavra de Deus, da ação litúrgica e da caridade, integrando todas as dimensões da pessoa, para que esta cresça na mentalidade de fé e seja testemunha de vida nova no mundo”, precisa a Santa Sé.
O texto insiste na “estreita relação” entre Evangelização e Catequese, elencando uma série de “tarefas” para a pastoral catequética: leva ao conhecimento da fé; inicia à celebração do Mistério; forma para a vida em Cristo; ensina a rezar e introduz à vida comunitária.
Em Portugal o novo documento orientador da Catequese vai ser editado pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã, com apresentação da obra nas Jornadas Nacionais de Catequistas.
OC
O Diretório para a Catequese articula os seus conteúdos numa estrutura “renovada e sistemática”, com três partes:
1 – A primeira parte (A catequese na missão evangelizadora da Igreja) oferece os fundamentos de todo o percurso, destacando que a Catequese “já não se limita a ser um mero momento de crescimento mais harmonioso da fé, mas contribui para gerar a própria fé e permite que se descubra a sua grandeza e a sua credibilidade”. 2 – A segunda parte (O processo da catequese) apresenta critérios teológicos para o anúncio da mensagem evangélica, “tornando-os mais adequados às exigências da cultura contemporânea”. 3 – A terceira parte (A catequese nas Igrejas particulares) sublinha que cada comunidade cristã é convidada a “confrontar-se com a complexidade do mundo contemporâneo”. |