A análise do secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais Europeias
Cidade do Vaticano, 27 out 2017 (Ecclesia) – O padre Duarte da Cunha, secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), diz que por trás da atual crise da União Europeia está uma crise mais alargada, de identidade e de sentido.
O sacerdote português, que participa em Roma nos trabalhos do congresso ‘Repensar a Europa’, organizado pelos bispos católicos do Velho Continente, realça que este nem é o momento mais complicado da UE, ao longo da sua história.
“Se pensarmos há 50 anos estávamos pior, havia blocos Leste e Oeste, havia mais fome, os empregos eram mais precários, não havia tanto sistema social, as empresas eram mais pequeninas, as desigualdades eram maiores. Mas pensava-se que isto seria sempre a progredir e começou a abrandar”, analisa aquele responsável.
No atual contexto, para o secretário-geral da CCEE, a União Europeia precisa sobretudo de “perceber qual o seu contributo para o mundo de hoje” e não “viver simplesmente em reação aos perigos”, com o estigma de agora “os outros são maiores do que nós e estamos a perder importância”.
E ter em conta o “património cultural” que tem para oferecer, “dos Direitos do Homem, dos Direitos da Verdade” que inspiraram os fundadores da UE no período pós-Segunda Guerra Mundial, valores com “matriz cristã” que hoje “ainda são muito necessários”.
Para o sacerdote, o que está aqui em causa é a “necessidade de uma visão política maior, que unifique a Europa mas que tenha em vista também o bem-comum, de todos”.
Dentro das instituições, no meio do círculo político europeu, o padre Duarte da Cunha já vai identificando sinais de mudança, de pessoas “que já vão reconhecendo que só o dinheiro não une, o dinheiro não é cola suficiente, aliás às vezes gera mais tensão”.
“Se queremos uma Europa unida, em diálogo, não basta ver as vantagens económicas desse diálogo, é preciso ver o sentido mais profundo, humano”, salienta.
Mas por outro lado, continuam a surgir aqueles que “querem puxar mais para uma unidade mais totalizante, quase política e em todos os âmbitos, o que gera reações dos outros lados”.
É nesta realidade que a Igreja Católica, através de iniciativas como este congresso, quer ter “uma palavra a dizer”, para que a unidade da Europa não seja “forçada mas dialógica”.
“É bom estarmos juntos mas isso não significa que temos agora todos de falar a mesma língua ou falar da mesma maneira, ou termos todos as mesmas estruturas ou alguém a controlar os orçamentos. Significa que temos de conversar mais e sentir mais o bem do outro como nossa responsabilidade”, frisa o secretário-geral da CCEE, que atenta também para uma crise mais profunda, civilizacional e humana, que também afeta a realidade do projeto europeu.
“A crise de sentido da vida, do que estamos a fazer nesta História, o que queremos, uma crise que se nota depois nas tensões entre países, dentro dos países. E aí a Igreja tem algo a dizer, leva Jesus Cristo, uma palavra de reconciliação. Não esperamos disto uma revolução mas o que se percebe é que não podemos estar parados, ficar só a ver, temos que estar a propor, a agir”, conclui o padre Duarte da Cunha.
HM/JCP