Iniciativa decorreu em Santiago de Compostela, com alertas para a necessidade de «preservar relações, culturas, meio ambiente»
Santiago de Compostela, Espanha, 08 out 2022 (Ecclesia) – O VIII Congresso Mundial da Pastoral do Turismo terminou hoje em Santiago de Compostela, deixando um apelo à promoção de uma nova lógica do setor, inspirada na encíclica ‘Laudato Si’, de Francisco.
A sessão conclusiva dos trabalhos – promovidos pela Santa Sé, a Conferência Episcopal Espanhola e as autoridades da Galiza – deixou alertas para a necessidade de “preservar relações, culturas, meio ambiente”, como alerta a encíclica ecológica e social publicada pelo Papa em 2015.
O padre Miguel Neto, diretor da Pastoral do Turismo-Portugal, destacou perante a assembleia a importância do trabalho em conjunto, no setor, para que a atividade turística saiba valorizar “as pessoas, a identidade cultural, o contacto com a fé cristã”.
“A Pastoral é do Turismo, não do turista. Por isso, é importante promover sinergias, articulação”, assinalou o sacerdote da Diocese do Algarve, colocando a “identidade cristã” ao serviço da indústria turística.
“Se nos perdermos em aspetos exclusivamente eclesiais, vai haver uma maior separação entre o produto turístico e a Igreja”, advertiu.
D. José Domingo Ulloa Mendieta, arcebispo do Panamá, desafiou os presentes a fazer “lóbi” para que o turismo integre o “organigrama das dioceses, dos projetos pastorais” e seja “protagonizado pelos leigos”.
Na primeira intervenção da manhã, o padre Manoel de Oliveira Filho, diretor Nacional da Pastoral de Turismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apresentou um trabalho centrado nos “mais empobrecidos” e em diálogo com o mundo empresarial.
A conferência, subordinada ao tema ‘Turismo religioso, desenvolvimento social a partir da articulação comunitária’, apresentou o projeto de Roteiros de Fé em Salvador da Bahia, que permitiu, por exemplo, colocar uma favela no percurso dos visitantes.
Ildefonso de la Campa, da Xunta da Galiza, abordou a realidade dos “Caminhos de Santiago”, percorridos anualmente por centenas de milhares de pessoas, e o esforço realizado para “dignificar” a experiência dos peregrinos.
O congresso que decorreu na cidade espanhola de Santiago iniciou-se a 5 de outubro e teve como mote ‘Turismo e Peregrinação: Caminhos de Esperança’.
A iniciativa contou com a presença de vários oradores peritos em Pastoral do Turismo e responsáveis da Santa Sé, além de representantes de 25 conferências episcopais.
A 1 de outubro, o Vaticano anunciou a integração do serviço de Pastoral do Turismo no Dicastério para a Evangelização, segundo as mudanças que decorrem da nova constituição apostólica ‘Praedicate Evangelium’ que reformou a Cúria Romana.
D. Rino Fisichella, responsável da Santa Sé, interveio esta sexta-feira em Compostela para abordar relação entre a evangelização e o mundo das viagens culturais e do lazer, uma “prioridade incontornável” para a Igreja.
O arcebispo italiano observou ainda que o Ano Santo 2025 será um “momento privilegiado” para esta missão.
A delegação portuguesa apresentou neste congresso uma reflexão sobre património e evangelização, a partir do projeto de cooperação com instituições da sociedade civil, que está a ser implementado no Algarve, oferecendo novas oportunidades de emprego.
OC
Em declarações à Agência ECCLESIA, o bispo do Algarve, que integrou a delegação portuguesa, destaca que o turismo deve ter “dar mais espaço, mais envolvimento da diocese, de cada pároco”.
“Estamos a procurar iluminar esta dimensão pastoral com muitos subsídios, com muitas propostas, mas falta-nos fazer muito, sobretudo para que esta Pastoral do Turismo seja orgânica, seja uma pastoral ordinária. Ou seja, assim como, nós bispos, temos a preocupação de mandar alguém formar-se na Pastoral Familiar, na Pastoral Juvenil, noutras dimensões pastorais, devíamos ter o mesmo empenho, a mesma preocupação, em relação a esta Pastoral do Turismo porque não é marginal”, desenvolve D. Manuel Quintas. A diocese católica do sul de Portugal, acrescenta o seu responsável, tem a “preocupação” de passar de um turismo de lazer, de praias, para uma atividade que “envolva também o interior” algarvio, que é uma “dimensão a desenvolver e a explorar” para quem os visita, seja do ponto de vista geográfico como “das próprias riquezas locais, mesmo gastronómicas”. D. Manuel Quintas exemplifica ainda que a iniciativa da equipa da Pastoral Diocesana do Turismo em formar pessoas, “envolvendo as autoridades locais”, para manter as igrejas abertas “tem mesmo a preocupação de ser resposta”, nomeadamente na zona de Tavira, Vila Real de Santo António, Castro Marim, Alcoutim, na parte do sotavento algarvio, junto à Espanha. O bispo do Algarve adianta que nas próximas Jornadas da Pastoral do Turismo, que estão a ser organizadas, se pode partir da realidade local e nacional para chegar “a respostas mais concretas”. D. Manuel Quintas destacou a “partilha” e a “abertura de horizontes”, nos dias do congresso mundial, sustentando que “este tema não pode ser marginal” na Igreja.
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