Igreja: Três visões dos 50 anos do Concílio Vaticano II e da sua aplicação

Gerações diferentes de cristãos abordaram último grande encontro mundial de bispos

Lisboa, 02 out 2013 (Ecclesia) – ‘O Catolicismo do Concílio Vaticano II ainda tem futuro?’ foi a pergunta para o debate que reuniu três gerações de cristãos com experiências de vida e de Igreja diferentes, na livraria Ferin, esta terça-feira, em Lisboa.

Joana Rigato, a interveniente mais nova do painel, com 33 anos apresentou a visão de quem nasceu depois do Concílio Vaticano II mas cujo escutar dos “sinais dos tempos” não viveu “na Europa”, com a exceção de casos pontuais, revelou a professora de Filosofia que frequenta o doutoramento em Filosofia da Ciência.

Da sua experiência de “Igreja diferente”, conciliar, revela registos em África, na América Latina, onde uma “igreja libertadora é muitas vezes bloqueada”, e na Ásia, em Macau, por exemplo, foi catequista às escondidas dos amigos.

“A Igreja missionária é a que tem sido capaz de colocar em ação o espírito do Concílio Vaticano II e na Europa é onde menos se vê” assinalou considerando que a Igreja está “envelhecida”.

Em Portugal revela que “salta” de paróquia em paróquia à procura deste espírito e explicou que “muitas vezes” sai da missa “mais longe” do que entrou.

Joana Rigato, deu o testemunho de quem sempre se assumiu como católica, uma minoria na sua adolescência, e por isso era “gozada”, por exemplo “quando defendia posições menos libertinas” diziam-lhe que estava a “mandar sentenças”.

A jornalista Paula Moura Pinheiro começa por explicar que não tem a mesma visão de Joana Rigato, “talvez” por ser de uma geração diferente e revela-se “esperançada com a ação e as palavras do Papa Francisco”, que é só um homem mas “faz a diferença”.

Nasceu no seio de uma família católica, quando os documentos do Concílio estavam a ser aprovados, e revela que guarda a recordação de infância da Igreja como “um edifício de temor reverencial” mas de “estrito senso como belo que revela a excelência da capacidade humana”.

A jornalista explicou que é uma “católica convertida a Jesus por conta própria” e que o “ar” do Concílio Vaticano II “ajudou imenso” neste percurso que fez “muito sozinha”.

Da sua experiência, assinala que a Igreja hoje “não é a mesma dos anos 60, claro que depende das paróquias e dos padres”, explica, dando como exemplo a Capela do Rato, em Lisboa, onde o “contexto do Vaticano II está muito vivo”.

O pastor Dimas Almeida, da Igreja Presbiteriana, com 76 anos, acrescentou ao debate o exemplo/experiência da Igreja Católica ter reiniciado o diálogo com outras confissões cristãs.

O também professor de Ciências da Religião, na Universidade Lusófona, explicou que aos 16 anos interessou-se pela “discussão no mundo das ideias” onde se incluía a religião.

A viver no Montijo e sem confissão religiosa decidiu assistir à eucaristia mas ficou “desiludido porque estava longe do mundo das ideias, era empobrecedor” e revela que “se o Concílio já tivesse acontecido era capaz de ser católico”.

O pastor Dimas Almeida integrou o primeiro grupo ecuménico em Lisboa, ainda no decorrer do Concílio Vaticano II, onde liam a bíblia, oravam e refletiam.

Hoje considera mais importantes as diferenças, o que as separa, porque “é o espaço da liberdade que permite pensar na divergência, um espaço essencial para o diálogo intereclesial” e recorda as palavras do Papa Francisco: “Devemos caminhar unidos nas diferenças: não há outro caminho para nos unirmos. Este é o caminho de Jesus”.

CB/OC

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top