O Arcebispo de Braga disse ontem que os movimentos católicos desempenham «um papel insubstituível » na educação para «uma cidadania responsável, em todos os lugares». «A vocação da Igreja é estar dentro da sociedade não só como lugar de comunhão dos crentes, mas também sinal e instrumento de comunhão para todos. Trata-se de investir numa autêntica promoção humana, tornando-se estímulo para todas as outras instituições », disse D. Jorge Ortiga, que presidiu na Sé Catedral à missa da festa de Cristo Rei, celebração que encerra o ano litúrgico e na qual os movimentos de apostolado dos leigos fazem o seu compromisso para o novo ano pastoral. Na homilia, D. Jorge Ortiga evocou o contributo de D. Diogo de Sousa, Arcebispo que há quinhentos anos reconstruiu a cidade tendo também contribuído para «uma formação educativa diversificada». A acção pastoral e civil deste prelado está a ser recordada desde o passado dia 11 através de um conjunto de iniciativas organizadas por instituições ligadas à Igreja e à Câmara Municipal de Braga. «Já ultrapassamos a época em que os Arcebispos eram verdadeiros “Senhores” de Braga e, como tal, delinearam projectos materiais, abriram ruas e estradas, edificaram e constituíram serviços sociais, estruturaram uma formação educativa diversificada. Ultrapassada esta época, estamos, aqui e agora, numa coincidência feliz a recordar essa grande personalidade colocando- nos perante a mesma finalidade de conduzir e orientar a Igreja. Queremos que Cristo seja Rei, tornando-se tudo em todos», afirmou D. Jorge Ortiga no início da homilia escutada por centenas de pessoas. Tal como há quinhentos anos, «Deus quer que a Igreja, e concretamente a Arquidiocese de Braga, simbolize a esperança de quem acredita e luta por um mundo melhor». Trata- se de uma construção que deve ser delineada «todos os dias» e que requer «o compromisso de cada um». Pois, como também referiu D. Jorge Ortiga, todos devem ser «fazedores, construtores, protagonistas co-responsáveis da história e isto com muito empenho, paciência, audácia, criatividade e esperança». Convivência requer respeito pela dignidade das pessoas O Arcebispo de Braga, que ontem usou um paramento e um cálice legados ao Cabido por D. Diogo de Sousa — duas peças de arte sacra valiosas guardadas no Tesouro-Museu da Sé —, defendeu ontem que «o ponto de partida» para uma boa convivência social tem que basear-se «sempre no primado da pessoa e da sua dignidade desde o momento da concepção até à morte natural». «Daqui chegamos à consideração obrigatória de todas as dimensões (espirituais e corpóreas) para um humanismo integral e chegamos a todas as pessoas recusando qualquer forma de exclusão nunca nos fechando em grupos, classes, partidos, nações, religiões. A única possibilidade de privilégio ou atenção particular dirige- -se aos mais débeis e necessitados », referiu o prelado, baseando-se nas leituras bíblicas ontem proclamadas. D. Jorge Ortiga disse também que «um dos grandes problemas da humanidade reside na fragmentação do rosto humano em pedaços para escolher um aspecto e negligenciar outros. Este risco, grave e frequente, acontece nas diversas visões antropológicas que reduzem o homem ou só a corpo, ou só a espírito, ou só a trabalho, ou só a sexualidade… assim como nas interpretações políticas fundamentalistas de olhar só para um partido, um grupo, uma raça, ou etnia como se aí estivesse toda a realidade, eliminando a alteridade, a complementaridade, a diferença ». «Reconhecer este primado à pessoa é a base duma educação para uma cidadania responsável: responsável como dever comum de encontrar resposta e cidadania como arte de conviver. Como crentes e cristãos — disse D. Jorge Ortiga, poucos minutos antes de os movimentos apostólicos renovarem os seus compromissos —, teremos de ser capazes de construir as estradas que unem as pessoas e criam a esperança dum mundo diferente não só como possível mas como obrigatório». Mas isto implica dar prioridade «à educação para a legalidade, sociabilidade e justiça», como atestam os recentes episódios de desordem civil nas ruas de Paris e de outras cidades de França.
