«Turismo Espiritual é a oportunidade que as pessoas têm de usufruir de um espaço como uma experiência» – Padre Nuno Santos
Coimbra, 22 jun 2023 (Ecclesia) – O Seminário Maior de Coimbra tem portas abertas a peregrinos e “buscadores” que querem ter uma experiência de ‘Turismo Espiritual’, após inaugurar 19 quartos, que correspondem a cerca de 40 camas, para este projeto.
“O Turismo Espiritual é a oportunidade que as pessoas têm de usufruir de um espaço como uma experiência, e de um espaço que é espiritual ou pode convocar a esta dimensão do espírito; O turismo espiritual é mais de experiência, de pequeno grupo, e distingue-se, de algum modo, do turismo religioso que é muito mais de massas, dos santuários, das grandes peregrinações, dos locais onde há uma afluência muito grande, normalmente, religiosa, e espiritual”, disse o padre Nuno Santos, à Agência ECCLESIA.
O reitor do Seminário Maior da Diocese de Coimbra – o Seminário da Sagrada Família – explicou sobre ‘Turismo Espiritual’ que se pensa, sobretudo, em mosteiros, conventos e seminários, onde as pessoas vão individualmente, em família, ou pequenos grupos e, normalmente, usufruem do espaço “só pelo espaço, a natureza, a envolvência e o silêncio que permite”, onde também podem participar na vida da comunidade que os acolhe.
“Nomeadamente, das orações, dos espaços em comum, das refeições. Fazem uma experiência de participação nessa comunidade, ou podem, eles mesmos, pedir uma pequena orientação para um tempo de reflexão, orientação espiritual. É um bocadinho à volta disto que configuramos esta ideia de Turismo Espiritual”, acrescentou.
Adiantando que para as pessoas que precisem de orientação têm algumas “notas preparadas, outras pré-preparadas e outras facilmente” conseguiriam ajustar, com “orações, textos bíblicos e perguntas”, indica que podem aproveitar “os jardins para estar a refletir e a rezar”, ou usar espaços internos, como a capela ou a igreja.
A comunidade do Seminário Maior de Coimbra tem dez padres e mais algumas pessoas que “habitam também o espaço”, mas contam com “um grupo de pessoas, que estão disponíveis para esse acolhimento”, e é essa a base de trabalho para o ‘Turismo Espiritual’.
Segundo o padre Nuno Santos, a palavra turismo está muito associada a uma ideia “quase de pessoas que usufruem do espaço, mas não têm esta dimensão do espírito”, e, ali, querem “para além de alimentar os olhos, alimentar a alma”.
O piso 2, para peregrinos e “buscadores”, destina-se a um acolhimento “mais curto, uns dias, uma semana no máximo”: “Estamos num tempo em que há muitas sensibilidades, em que as pessoas, muitas vezes, andam cansadas, andam muito pressionadas pelo trabalho, andam um bocadinho em stress, às vezes até em burnout, e queríamos que este espaço fosse também de descanso”.
Os buscadores são todas aquelas pessoas que ainda não estão totalmente configuradas com a religião católica, praticantes, de vivência dominical da Eucaristia, de sacramentos, mas têm alguma sensibilidade, que às vezes se afastam da Igreja, que depois se aproximam; pessoas que buscam um sentido mais profundo para a vida, buscam a sua dimensão espiritual, que buscam Deus”.
O padre Nuno Santos explicou ainda que o plano de projeto para o Seminário de Coimbra contempla que o piso 2, que é o último andar, seja para “o acolhimento, atividades pastorais, e turismo espiritual”, têm 90 camas em 44 quartos, mas só abriram uma parte, “é um piso para um acolhimento mais curto, uma semana no máximo”, enquanto o primeiro piso “será mais para uma estadia prolongada, não só para sacerdotes” – quartos individuais, “muito maiores”, com escritório e uma casa de banho -, para alguém que queria fazer uma tese de doutoramento, de mestrado, e ficar de um a três meses, por exemplo.
Nos 19 quartos, com diversas tipologias, há sempre uma Bíblia; entre as curiosidades, há inscrições que “são essencialmente entre 1884 e 1912”, e um crucifixo, “que é uma imagem do século XX”.
“Queremos que as pessoas sintam a contemporaneidade do espaço, mas também a herança e a força de um espaço com história, que nos pode ajudar a ver o tempo de outra forma e com outra esperança”, realçou o entrevistado.
Segundo o reitor do Seminário, o “Turismo Espiritual” é uma ideia com “cerca de cinco anos”, quando desfiaram o Turismo Centro de Portugal e foram “conhecer conventos e mosteiros”, o sul da Alemanha, porque tinham esta ideia mas não sabiam “concretizar”, nem conheciam “nada que configurasse esse conceito”, e na Diocese de Munique encontraram “um conjunto de redes estabelecidas”.
“Visitamos conventos, mosteiros, o modo como é que eles se adaptaram, o que é que se ajustaram, como é que fizeram alojamento, que iniciativas culturais é que têm, como é que se reconfiguraram. Em Portugal conhecemos dois ou três lugares e gostava de procurar estabelecer pontes, e perceber disponibilidades para estabelecer, paulatinamente, uma rede em Portugal”, desenvolveu, assinalando também que em Espanha “há muitos locais deste que recebem pessoas, mas talvez não haja ainda uma rede”.
CB/OC