Responsáveis católicos pedem soluções que permitam projetar futuro com estabilidade
Lisboa, 27 fev 2018 (Ecclesia) – O secretário-geral da Cáritas Europa, Jorge Nuño Mayer, alertou hoje para a generalização do “trabalho precário” que impede os jovens de projetarem o seu futuro.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o responsável fala em situações “preocupantes” que dão uma “nova dimensão” à questão da pobreza, como os abusos e uso “fraudulento” dos recibos verdes, em Portugal.
Jorge Nuño Mayer recorda que a estratégia ‘Europa 2020’ previa uma redução “significativa” da pobreza, intenções condicionadas pela crise financeira e económica dos últimos anos.
“Na Cáritas, notamos que isto [saída da crise] é muito relativo, a recuperação não chegou às pessoas, mas há uma série de novos problemas que são agora estruturais”, observa.
A Cáritas Portuguesa apresentou hoje em Lisboa o relatório ‘Os jovens na Europa precisam de um Futuro’, no qual aponta cinco recomendações em defesa das novas gerações, após análise de testemunhos reais de atendimentos na rede da organização católica.
Jorge Nuño Mayer destacou a urgência de promover políticas de “salários dignos”, combate à precariedade, aposta na Educação e acesso à habitação, para as novas gerações.
Como principais grupos de risco foram identificados os desempregados, estudantes pobres e pessoas com deficiência.
O relatório realça que a maioria dos jovens portugueses não consegue arrendar ou comprar casa; cerca de 30% estão em risco de pobreza.
D. Manuel Linda, vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, lamentou as condições “muito precárias” do primeiro trabalho que os jovens aceitam, muitas vezes “vítimas de uma exploração desenfreada”.
“Todos os trabalhadores correm riscos, num tempo de uma Economia fortemente selvagem, mas os jovens muito mais”, referiu à Agência ECCLESIA.
Eugénio Fonseca, por sua vez, lamentou o “desânimo” dos jovens perante o cenário que encontram no país, o que agrava o envelhecimento demográfico e a desertificação: “O que poderia potenciar o aumento da natalidade é os jovens sentirem-se seguros dentro da sua casa, para poderem constituir família”.
O relatório da Cáritas quer ainda ser um contributo para os trabalhos da próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, para se debaterem “temas concretos” da vida dos jovens.
Um jovem que “procura emprego há dois anos para começar uma vida independente”, outra jovem que “durante dez anos tem trabalhos precários” ou uma jovem estudante de Medicina em Coimbra, longe de casa, com “dificuldades para pagar as propinas, alojamento e transportes públicos” foram alguns dos testemunhos reais presentes no documento.
Na apresentação do relatório, a chefe de representação da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Alves, assinalou que os jovens assumiram, num estudo do Eurobarómetro, como principais preocupações “a mobilidade profissional”, a sua “capacitação e autonomia intelectual” e a inovação no sistema educativo.
“Estas são as prioridades que a estratégia da União Europeia para a juventude também contempla”, referiu, no auditório Mário Murteira do ISCTE-IUL, Lisboa.
Sofia Alves convidou a “escutar os jovens”, para saber o que os preocupa e “desenhar políticas públicas” que apresentem respostas às suas necessidades.
SN/OC