Igreja/Sociedade: Papa Francisco pede «novas relações» para que se olhem «territórios interiores e marginais» como lugares de «renovação democrática»

A inteligência artificial ao serviço do bem-comum, experiências de «bem-estar comunitário», parcerias entre setores públicos e privados e «fazer filhos» são caminhos para que coesão social e territorial se realizem

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 20 jan 2024 (Ecclesia) – O Papa Francisco valorizou hoje a procura de “novas relações entre setores públicos e privados” e a descoberta de como pode a inteligência artificial ajudar ao “cuidado” em territórios desfavorecidos e “marginais”, sugerindo caminhos de “renovação da democracia”.

“São as zonas marginais que podem tornar-se laboratórios de inovação social, partindo de uma perspetiva que nos permite ver os dinamismos da sociedade de uma forma diferente, descobrindo oportunidades onde outros só veem constrangimentos, ou recursos naquilo que outros consideram desperdício”, afirmou aos membros da Associação para a Subsidiariedade e Modernização das Autarquias Locais, recebido hoje em audiência.

“As práticas sociais inovadoras, que redescobrem formas de mutualidade e reciprocidade e reconfiguram a relação com o meio ambiente na chave do cuidado – desde novas formas de agricultura a experiências de bem-estar comunitário – pedem para ser reconhecidas e apoiadas, de modo a alimentar um paradigma alternativo em benefício de todos”, acrescentou.

Francisco falava aos membros da associação, tendo presente a realidade de tantos “pequenos municípios”, muitos em zonas “interiores”, na sua maioria, lamentou, “negligenciados e em condição de marginalidade”, com consequências para a vida e coesão social, mas também ambiental.

O Papa pediu aos responsáveis a procura de “novas relações entre os sectores público e privado, em particular o sector social privado”: “A escassez de recursos nas zonas marginais torna as pessoas mais dispostas a cooperar para o que parece ser um bem comum; surge assim a oportunidade de abrir sítios de participação, promovendo uma renovação da democracia no seu significado substancial”.

Francisco sugeriu também a utilização das novas tecnologias e que se pudesse descobrir como a inteligência artificial” poderia ser colocada ao serviço do bem comum.

Foto Aldeia de Avelãs de Ambom, DR

“Estamos a descobrir o poder que elas podem ter como instrumentos de morte. Podemos imaginar como este poder poderia ser benéfico se fosse utilizado não para a destruição, mas na lógica do cuidado: cuidado das pessoas, cuidado das comunidades, cuidado dos territórios e cuidado da casa comum”, indicou.

O Papa mostrou-se preocupado com a falta de oportunidades que os “territórios marginais” conhecem, locais votados ao despovoamento onde “ficam sobretudo os idosos e os que têm mais dificuldade em encontrar alternativas”, com impactos, posteriores, no “Estado-providência”, e lamentou também a baixa natalidade e a “cultura do despovoamento”.

“Basta pensar que um dos países mediterrânicos tem uma idade média de 46 anos! Temos de levar a sério o problema da natalidade, levá-lo a sério porque aí está em jogo o futuro da pátria, aí está em jogo o futuro. Ter filhos é um dever para sobreviver, para progredir. Pensem nisto: isto não é um anúncio a uma agência de natalidade, mas quero sublinhar o drama da baixa natalidade, que tem de ser levado muito a sério”, indicou.

Francisco quis ainda evidenciar o “património natural” que o interior detém, indicando a sua importância “estratégica em termos ambientais”, mas que, no entanto, fica em perigo com o despovoamento que torna “mais difícil o cuidado com a terra, que os habitantes destas zonas sempre fizeram”.

“Olhando para estes territórios, temos a confirmação do facto de que escutar o grito da terra significa escutar o grito dos pobres e dos descartados, e vice-versa: na fragilidade das pessoas e do ambiente reconhecemos que tudo está ligado – tudo está ligado! -, que a procura de soluções exige a leitura conjunta de fenómenos muitas vezes considerados separados. Tudo está ligado”, evidenciou.

LS

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Agência ECCLESIA

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