Igreja/Sociedade: Papa critica cultura de guerra e transformação do sofrimento em «espetáculo»

Encontro de oração pela paz, junto ao Coliseu, apelou à defesa da natureza e das populações mais desprotegidas

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA a Roma

Roma, 07 out 2021 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje em Roma uma cultura que transformou o sofrimento em entretenimento e a guerra num “jogo com a vida humana”, apelando ao fim de uma mentalidade militarista.

“Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência, mais vacinas distribuídas equitativamente e menos armas vendidas imprudentemente”, pediu Francisco, junto ao Coliseu de Roma, encerrando um encontro inter-religioso pela paz promovido pela Comunidade católica de Santo Egídio, intitulado ‘Povos Irmãos, Terra Futura. Religiões e Culturas em Diálogo’.

Francisco elogiou a presença de representantes de vários países, com preocupações ecológicas, convidando a “mudar as relações entre os povos e as relações dos povos com a terra”, rejeitando “paixões sectárias e nacionalistas”.

Após evocar a violência de que o Coliseu foi palco, no passado, o Papa advertiu que “ainda hoje se assiste à violência e à guerra, ao irmão que mata o irmão como se fosse um jogo”.

“O sofrimento dos outros não nos faz apressar o passo; nem sequer o dos mortos, dos migrantes, das crianças reféns das guerras, privadas duma infância despreocupada a brincar. Mas não se pode brincar com a vida dos povos e das crianças. Não se pode ficar indiferente”, declarou.

Francisco desafiou os responsáveis religiosos a ser “voz dos quem não têm voz, apoio dos atribulados, defensores dos oprimidos, das vítimas do ódio”.

Com palavras claras, encorajemos a isto: depor as armas, reduzir as despesas militares para prover às carências humanitárias, converter os instrumentos de morte em instrumentos de vida”.

O Papa desafiou todos a rejeitar a “tentação fundamentalista”, colocando de parte “toda e qualquer insinuação a fazer do irmão um inimigo”, para construir a paz.

“Na sociedade globalizada que faz espetáculo do sofrimento, mas sem o sentir, precisamos de construir compaixão: sentir o outro, assumir os seus sofrimentos, reconhecer o seu rosto. Esta é a verdadeira coragem, a coragem da compaixão”, disse.

Foto: Ricardo Perna/Família Cristã

A intervenção falou num “mundo doente” por causa da “ganância insaciável”, que deixou marcas na natureza.

“Sim, sonhamos religiões irmãs e povos irmãos! Religiões irmãs, que ajudem povos a ser irmãos em paz, guardiões reconciliados da casa comum que é a criação”, afirmou Francisco.

A sessão foi inaugurada com uma oração ecuménica, antes do encontro com líderes de outras religiões mundiais como o grande imã da Universidade de Al Azar (Cairo), Al Tayyeb, ou o presidente da Conferência dos Rabinos Europeus, Pinchas Goldschmidt, além de representantes políticos, como a chanceler alemã Angela Merkel, que esta manhã se reuniu em privado com o Papa.

OC

A reportagem em Roma é fruto de uma parceria estabelecida entre a Agência Ecclesia, a Família Cristã, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa Cristã.

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