Igreja/Sociedade: «Não podemos falar de solidariedade com as pessoas que sofrem em zonas de conflito se não a vivermos», destaca prior da Comunidade de Taizé

Irmão Matthew assinala que o Sínodo sobre Sinodalidade «é também uma aprendizagem da partilha de responsabilidades, da subsidiariedade», e na comunidade criaram «agora diferentes grupos de trabalho»

Taizé,  França, 04 mar 2025 (Ecclesia) – A Comunidade ecuménica de Taizé tem cerca de 80 monges e vários deslocam-se para zonas de conflito, como aconteceu naa Ucrânia e no Líbano, em 2024.

“Não podemos falar de solidariedade com as pessoas que sofrem em zonas de conflito se não a vivermos nós próprios, mesmo que seja de forma provisória. Neste momento, temos irmãos no Leste da Ucrânia; não é mais perigoso para nós do que para os ucranianos que lá vivem. Se não estivermos dispostos a correr riscos pelo Evangelho, não estaremos a perder alguma coisa?”, explicou o prior de Taizé, em declarações à Agência ECCLESIA.

A Comunidade monástica ecuménica na França, conhecida pelo acolhimento dos jovens, tem, por exemplo, neste período de carnaval e início da Quaresma, “mais de 1200 portugueses”, desde este domingo, para o irmão Matthew “seria maravilhoso se os jovens que passam uma semana em Taizé continuassem a dar sinais vivos de solidariedade”.

“Não é possível a toda a gente ir para zonas de guerra, mas como podemos estar presentes para os refugiados desses países que procuram abrigo na nossa própria pátria?, assinalou.

A Igreja Católica está a celebrar o Ano Santo 2025, o 27.º jubileu da sua história, centrado no tema da esperança, o prior de Taizé, que intitulou a Carta 2025 ‘Esperar para além de toda a esperança’, explica que, “antes de mais, é Cristo que é a esperança”, a sua ressurreição abre um caminho onde podem “confiar com segurança que a morte e o sofrimento nunca terão a última palavra”.

Vemos como essa fé permitiu que as pessoas se mantivessem firmes na fé e continuassem a viver mesmo nas situações mais difíceis. Quando estava a preparar a Carta, foi muito comovente ouvir jovens de Myanmar, da Ucrânia, do Líbano e de Belém, para quem esta confiança é uma realidade”.

Segundo este responsável, ter esperança requer coragem, mas, “quando está enraizada em Cristo ressuscitado, pouco a pouco, torna-se concreta” e ultrapassa o domínio de um “simples otimismo ou de uma perspetiva positiva”, porque permite enfrentar a vida como ela é “e não ficar parados”.

Há quase um ano, no dia 18 de março de 2024, o Papa Francisco recebeu, pela primeira vez, o novo prior da Comunidade Ecuménica de Taizé, numa audiência privada, no Vaticano; desde 2013, o seu antecessor, o irmão Alois, “foi recebido pelo Papa todos os anos, como é tradição desde o pontificado de São João Paulo II”.

“Agora seguimos a evolução da sua saúde, acompanhando-o pela oração o melhor que podemos; temos acompanhado muito de perto o pontificado do Papa Francisco desde o momento da sua eleição. Lembro-me bem desse dia, estava em Nizhny Novgorod, na Rússia, com um padre católico argentino que tinha sido enviado para esse país pelo Cardeal Bergoglio, pelo que foi um momento muito especial para ele e para mim”, partilhou o irmão Matthew.

Este responsável, lembra ainda que durante o Sínodo dos Bispo e a preparação da vigília ‘Together’ [vigília de oração ecuménica e encontro do Povo de Deus ‘Juntos’], encontraram-se “várias vezes com ele”, com Francisco a confirmar a “vocação de comunidade ecuménica”.

O Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade realizou-se entre 2021 e 2024, com várias etapas – diocesanas, nacionais, intercontinentais e duas assembleias no Vaticano – onde o então prior, o irmão Alois, foi convidado pelo Papa Francisco a participar

“Sentimo-nos muito privilegiados por estarmos envolvidos nestas diferentes formas durante o Sínodo; aprender a escutarmo-nos uns aos outros em espírito de oração, dando espaço a cada pessoa e tentando chegar a um consenso quando é necessário tomar decisões ou fazer declarações comuns, causou-me uma grande impressão. Tentámos pôr em prática esta forma de partilhar em conjunto na nossa vida comunitária e especialmente durante o nosso conselho comunitário anual”, desenvolveu o entrevistado, que participou na etapa continental da Europa, em Praga.

Neste contexto, o atual prior de Taizé destaca que o Sínodo “é também uma aprendizagem da partilha de responsabilidades, da subsidiariedade”, e na comunidade criaram “agora diferentes grupos de trabalho para os diferentes domínios da vida”, onde quatro ou cinco irmãos se reúnem para partilhar as questões que surgem e quando chegam a uma decisão, consultam-no, “mas, muitas vezes, as suas conclusões precisam apenas” da sua confirmação.

A comunidade ecuménica de Taizé nasceu a 20 de agosto de 1940, começou por acolher perseguidos políticos, judeus e, mais tarde, prisioneiros alemães, foi fundada por Roger Schutz (1915-2005), então jovem pastor protestante suíço; após a sua dramática morte, a 16 de agosto de 2005, o irmão Alois continuou esse trabalho, até 2 de dezembro de 2023.

CB/OC

Foto Cédric Nisi

Os monges de Taizé encerram o acolhimento de jovens na comunidade, após o encontro de final de ano realizado em Talin, a capital da Estónia, de 28 de dezembro de 2024 a 1 de janeiro, segundo o prior “não foi muito fácil ‘fechar a pousada’ e isso levantou questões para vários irmãos”, mas, considera que compreenderam que “era importante poder passar algum tempo como comunidade”.

“Há algumas coisas que provavelmente faremos de maneira diferente no futuro. Em janeiro, de qualquer modo, há poucos peregrinos que nos visitam. Este período deu-nos a oportunidade de rezarmos entre nós, de partilharmos juntos algumas atividades diferentes e de prepararmos o conselho anual da comunidade. O próximo ano dir-nos-á se as nossas forças foram renovadas este período”, partilhou o irmão Matthew, na entrevista à Agência ECCLESIA.

A comunidade ecuménica tem “irmãos muito criativos” e criaram o jogo de tabuleiro “Koinobia – ‘Viver em comunidade’”, que foi lançado no verão de 2024; este novo jogo desafia os jogadores à cooperação, onde procuram Deus e ganham ou perdem em conjunto, e para o prior da comunidade pode-se “aprender muito” com este género de jogos.

“Devo admitir que foi um desafio para mim jogar, pois gosto sempre de ganhar! Os jogos podem mudar a nossa perspetiva de vida, para melhor ou para pior. Dizemos muitas vezes ‘é só um jogo’, e é verdade, mas os jogos são muitas vezes uma condensação de situações ou desejos da vida real jogados num espaço que parece ser seguro”, disse o irmão Matthew.

 

Partilhar:
Scroll to Top