Movimento «Fé e Luz» celebra, em Fátima, percurso de 40 anos a criar «redes de amizade» em torno da pessoa com deficiência.
Lisboa, 27 abr 2012 (Ecclesia) – O Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, da Igreja Católica, considera que o direito à educação das crianças com deficiência “tem práticas muito deficitárias”, enquanto que os adultos nas mesmas condições vivem na solidão.
Em texto publicado na mais recente edição do Semanário Agência ECCLESIA, Alice Caldeira Cabral e Maria Isabel do Vale observam uma melhoria no acesso dos alunos com deficiência à escola pública, o que não acontecia há três décadas, mas frisam que “pais e crianças e mesmo técnicos que enfrentar inúmeras dificuldades”.
As autoras frisam também que “as pessoas com deficiência e as suas famílias estão muito sós com os seus problemas por falta do reconhecimento social da questão da deficiência”.
O texto realça que as respostas sociais “são tendencialmente segregadoras das pessoas, em especial, as que têm deficiências intelectuais”, enquanto que a preocupação assistencial não presta a devida atenção ao “acompanhamento pessoal e existencial com vista à inclusão”.
“Há legislação, que desde vários anos, exige a eliminação de barreiras físicas e arquitetónicas. Mas, quem a cumpre?”, questionam as responsáveis do Serviço criado em 2010, no âmbito da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
Depois de apontarem exemplos de más práticas, como “os comboios da CP, os Centros de Saúde, a Repartição de Finanças, a Segurança Social” e “as igrejas”, as responsáveis denunciam que “apesar da lei garantir o direito ao acesso, na prática esse direito não existe e as pessoas afetadas sentem-se discriminadas e sobretudo isoladas”.
Na Igreja Católica a preocupação com as pessoas deficientes, estimadas em 10 por cento da população, “é muito baixa”: “Não se pode falar duma rejeição ativa, mas talvez antes duma rejeição por omissão e falta de consciência do papel destas pessoas para a construção duma sociedade mais humana”.
“Os surdos não têm catequistas preparados e salvo raras exceções (Leiria é um exemplo a seguir), não há missas dominicais com tradução em linguagem gestual ou com a preocupação explícita de estabelecer a comunicação com pessoas que não sendo totalmente surdas, têm limitações auditivas”, indica o texto.
Alice Cabral é também coordenadora nacional do Movimento Fé e Luz, que em 2012 celebra 40 anos, ocasião que vai ser assinalada entre este sábado e terça-feira com uma peregrinação a Fátima.
O movimento ecuménico, que não tem respostas assistenciais”, pretende criar “uma rede de amizade tecida nos encontros mensais”, onde se reflete sobre a Bíblia com recurso a “outras linguagens” além da verbal, como por exemplo “através de mímicas”, explica a dirigente em artigo igualmente publicado no Semanário Agência ECCLESIA.
“Tem sido difícil mobilizar as famílias, mas é uma prioridade atualmente a de fazer crescer este movimento”, que além de Lisboa, Porto, Braga e Évora, onde se encontra radicado, pretende constituir comunidades em mais três dioceses nos próximos três anos.
RJM