Sacerdote franciscano assinala que «há estilos de vida nada saudáveis, nada pacificadores»
Lisboa, 01 set 2023 (Ecclesia) – O frade franciscano Hermínio Araújo afirma que o cuidado pela criação “é um desafio para as comunidades crentes e não crentes”, no contexto do ‘Tempo da Criação’, que começa hoje, 1 de setembro, até 4 de outubro.
“É um desafio para as comunidades crentes e mesmo não crentes, estamos todos no mesmo barco, na mesma dinâmica. Infelizmente, vão acontecendo coisas que não estamos suficientemente atentos, até a começar por nós franciscanos, não correspondendo adequadamente a esta herança espiritual de São Francisco de Assis”, disse hoje o sacerdote à Agência ECCLESIA.
Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo unem-se para o ‘Tempo da Criação’ 2023, este ano com o tema ‘Que a Justiça e a Paz Fluam’, a partir desta sexta-feira, 1 de setembro, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, até 4 de outubro, festa litúrgica de São Francisco de Assis.
Frei Hermínio Araújo explica que este cuidado pela criação, “tem uma matriz fundamentalmente bíblica”, e “não é só uma coisa do Papa” atual, e realça que na sua mensagem para este tempo até faz “uma espécie de homenagem ao Papa João Paulo II, ao Papa Bento XVII”; do Papa polaco cita “exatamente a conversão ecológica, esta necessidade de transformação de coração, transformação interior”, que é a “linguagem da experiência espiritual, aquilo que é mais genuíno na experiência crente”.
O entrevistado aponta também para a “linguagem muito forte” usada pelo Papa para “suscitar um abanão de consciências” neste processo de discernimento espiritual que é necessário, destacando a frase a “guerra sem sentido contra a criação”, porque que não existem apenas as guerras tradicionais, como na Ucrânia e outros países.
“Há estilos de vida nada saudáveis, nada pacificadores, determinado tipo de gastos, de desperdício, não olhando apenas para a carteira. É algo que temos que ir respondendo cada vez mais, o mais eficaz possível, e não é apenas para alguns”, desenvolveu, lembrando que um aspeto da mensagem de Francisco são as “políticas públicas”.
“Mas, não é apenas dos nossos governantes, começa por cada um de nós, desde dentro de casa à forma como saímos à rua”, acrescentou, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.
Para celebrar e viver este ‘Tempo da Criação’ as comunidades cristãs, as diversas Igrejas, têm vários subsídios, e frei Hermínio Araújo lembra que este tempo vai terminar de “forma muito significativa para a Igreja Católica”, porque coincide com o início da assembleia sinodal do Sínodo dos Bispos, sobre sinodalidade.
O frade franciscano lembra que “há abordagens, às vezes, bastantes radicalizadas, bastantes extremismos”, sobre as questões do cuidado pela criação, por isso, “alguns católicos acham que não são temas para eles”.
E, neste contexto, frei Hermínio Araújo realça ainda que estes assuntos “não têm nada a ver com panteísmo, ‘New Age’, que isso “é desconversar, fugir a estes assuntos fundamentais”, e apresenta como exemplo São Francisco de Assis, que se refere à terra como “a irmã mãe terra”, no seu ‘Cântico das Criaturas’.
“Não estamos com panteísmo, isso cai por terra nestas duas palavrinhas; todos os elementos da terra nossos irmãos porque a origem é o Deus criador; esta é uma matriz fundamental da Bíblia, desde as primeiras páginas”, concluiu, antes do comentário às leituras bíblicas deste domingo.
A Província Portuguesa da Ordem dos Frades Menores tem “uma mata belíssima com muitos séculos”, no Convento de Varatojo (Torres Vedras), onde procuram levar “as pessoas neste respeito pela criação”, e no Convento da Luz, em Carnide, criaram o ‘Parque Laudato Si’, ondem também fazem “sensibilização ambiental, muito em linha com a encíclica Laudato Si”.
HM/CB
