Igreja/Sociedade: Comissão Justiça e Paz pede «cidadania plena» para portugueses ciganos

Organismo católico denuncia estereótipos e preconceitos, lamentando «situação de extrema pobreza e exclusão»

Foto: Lusa

Lisboa, 02 mar 2021 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica em Portugal, denunciou a situação de pobreza e exclusão que continua a marcar a situações das populações ciganas no país, pedindo para as mesmas uma “cidadania plena”.

“Sabe-se que um número significativo, aproximadamente metade, permanece numa situação de pobreza extrema e exclusão”, pode ler-se numa nota enviada hoje à Agência ECCLESIA.

O organismo admite “alguns impactos positivos” da Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas, mas apela ao “reforço da implementação das políticas públicas de inclusão social a elas dirigidas, nomeadamente nas áreas da habitação, da educação e do emprego”.

“As políticas públicas, destinadas a todos, tardam a ser integralmente aplicadas a este grupo de cidadãos. Basta pensar em decisões, institucionais que permitiram que o direito à educação das meninas ciganas não se realizasse em nome da ‘identidade cultural’”, acrescenta a nota, enviada hoje à Agência ECCLESIA.

Se se perguntar quem dá trabalho a um cidadão, português cigano, quantos, em verdade, responderão afirmativamente?”

A CNJP lamenta que este grupo de cidadãos portugueses seja “refém de estereotipias e preconceitos”, que são reforçados por alguns discursos públicos, “induzindo comportamentos discriminatórios e excludentes”.

Para o organismo de leigos católicos, ligados à Igreja Católica, esta origem e cultura comuns dos cidadãos ciganos “é mais um dos sinais da magnífica diversidade” que caracteriza a sociedade portuguesa.

“A Comissão Nacional Justiça e Paz considera que frequentes afirmações públicas acerca destes cidadãos são injustas e incorretas, revelam desconhecimento, evidenciam preconceitos, são profundamente discriminatórias”, acrescenta a nota.

Classificar um grupo de pessoas, globalmente, como subsídio-dependentes, parasitas que não querem trabalhar, é injusto e infundado, revela desconhecimento acerca de uma realidade que é múltipla, complexa e diversificada, que permanece fechada num quase gueto de isolamento e discriminação”.

A CNJP recorda que, em outubro de 2020, a União Europeia aprovou um novo quadro estratégico (2020/2030) para a igualdade, a inclusão e a participação dos ciganos assente em sete domínios principais: igualdade, inclusão, participação, educação, emprego, saúde e habitação.

Foto: Caritas de Viseu

A nota destaca ainda o ensinamento do Papa Francisco, desde a sua declaração sobre a fraternidade humana (fevereiro de 2019), assinada em Abu Dhabi, à encíclica ‘Fratelli tutti’ (outubro de 2020), que “apela ao reconhecimento e implementação do conceito de cidadania plena”.

“A Comissão Nacional Justiça e Paz apela ao reconhecimento e implementação deste conceito de cidadania plena, inclusivo, que recusa estigmas e práticas discriminatórias e excludentes, que exige o conhecimento de cada parte e a sua aproximação, que é promotor da igualdade e da justiça”, refere o texto divulgado pela organização católica.

OC

Sociedade: Integração das comunidades acontece com «espaços comuns de reconstrução social» e valorização de boas práticas (c/vídeo)

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Agência ECCLESIA

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