Fausta Speranza, jornalista do «Osservatore Romano», destaca necessidade de superar lógicas de poder do passado
Lisboa, 19 jun 2019 (Ecclesia) – A jornalista italiana Fausta Speranza, primeira mulher a tratar de política internacional no jornal do Vaticano, ‘L’Osservatore Romano’, disse à Agência ECCLESIA que o desafio das mulheres é superar “lógicas de poder” do passado, em vez de imitá-las.
“As mulheres deveriam querer trazer uma dinâmica nova, feita, pelo contrário, de profissionalismos, acima de tudo, de serviço, em primeiro lugar. Quando as mulheres entram em dinâmicas de poder, procuram o seu próprio espaço e procuram trabalhar para si mesmas, não para o serviço, penso que nem se deveria falar de mulheres”, referiu a profissional, que esteve em Portugal a convite de Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (CITER), da Universidade Católica.
Para Fausta Speranza, é preciso superar “lógicas velhas”, valorizando a “especificidade” do feminino.
“Por definição – não é que todos os homens sejam poderosos ou prepotentes -, na história, o poder foi masculino”, advertiu.
A jornalista foi também a primeira mulher a apresentar, em direto, o noticiário da manhã na Rádio Vaticano, onde trabalho durante 25 anos; desde 2016, ocupa-se de política internacional e admite que este é “um fenómeno recente, ter mulheres que consigam desempenhar todos os papéis e não apenas alguns”, na “atividade normal da redação”.
Esta experiência prática soma-se a outro nível, o de uma “comunicação que, por si, é feminina, no sentido em que a mulher tem uma especificidade, nas relações interpessoais”.
“Este específico feminino pode ser precioso, no seio da comunicação e também na Igreja”, sustenta Fausta Speranza.
A jornalista do Vaticano considera que Papa está a fazer muito com a comunicação da sua “mensagem de misericórdia”, estando ao lado das pessoas “feridas no corpo e na alma”.
A profissional esteve esta terça-feira em Lisboa para falar do seu percurso, numa conferência do CITER sobre ‘Mulheres, Igreja e jornalismo. A comunicação como nova fronteira’.
Luísa Almendra, diretora do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião, assinala à Agência ECCLESIA que o projeto procura apresentar testemunhos de mulheres “na realização das suas profissões” e “as dificuldades que ainda sentem ao lidar com a religião e a profissão”.
A responsável sublinha a parceria com o Instituto Italiano da Cultura, em Lisboa, que começou numa série de sessões sobre o humanismo e prossegue agora com o projeto ‘Mulheres e Religiões”, que pretende dar “voz e lugar” a profissionais de diversos âmbitos, em “lugares de fronteira”
O encontro de pensadoras italianas e portuguesas, sobre temas que dizem respeito ao futuro de todos, é valorizado por Luisa Violo, diretora do instituto.
“São projetos que não dizem respeito apenas a pessoas que se são particularmente religiosas. Dizem respeito à sociedade civil, que é constituída por muitas pessoas, são projetos de abertura, sobretudo das mentes”, realça.
“É importante chamar a atenção para temas de grande atualidade, nos quais, certamente, neste caso, as mulheres são importantíssimas. Por isso é preciso ouvir também as suas vozes. O papel das mulheres sempre foi de mediação, continuar a ser”, acrescenta.
O projeto ‘Mulheres e Religiões”, que pretende dar voz e lugar a profissionais de diversos âmbitos, vai continuar, em próximos debates, com convidadas de outras tradições, como o judaísmo ou o Islão.
OC