Igreja/Saúde: «Quando não podia estar com pacientes, estava com os profissionais de saúde, mas fui sempre ao Hospital» – capelão do Hospital do Litoral Alentejano

Padre Diogo Braz Perpétuo recorda dias isolado e internado com Covid, onde foi tratado pela equipa que integrava

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Beja, 09 fev 222 (Ecclesia) – O padre Diogo Braz Perpétuo, capelão no Hospital do Litoral Alentejano, disse hoje que, apesar de a pandemia ter obrigado a procedimentos mais rigorosos com os pacientes e profissionais de saúde, nunca deixou de estar no estabelecimento hospitalar.

“Mesmo no período mais crítico da pandemia eu estive presente no Hospital, junto dos profissionais de saúde. Eu fazia visitas diárias a todos os doentes, antes da pandemia, e necessariamente houve limitações por causa da propagação do vírus. Mesmo que eu não visitasse os doentes, eu fazia questão de estar presente no Hospital e visitava os profissionais”, recorda o assistente espiritual à Agência ECCLESIA.

Desse contato, o padre Diogo sublinha a proximidade e o conforto que procurava transmitir, “sinal de motivação” que passava às equipas.

“Recordo-me de uma enfermeira, na unidade de Medicina Covid, que quando cheguei, e lhe perguntei se estava tudo bem, ela começou a chorar. Eu fiz uma oração com ela, e disse-lhe para ter força. Ainda hoje ela diz-me que aquelas palavras foram muito importantes”, refere.

Capelão há três anos no Hospital, que atende a população de Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines, explica que a sua presença no ambiente hospitalar tem como objetivo “transmitir esperança” e dar uma palavra amiga.

“Mais do que transmitir é sentir com as pessoas. Estrar com elas e ouvir as pessoas. O que tenho procurado fazer durante a pandemia é escutar as pessoas. Há uma grande necessidade de as pessoas falarem de si próprias, das suas experiências”, reconhece.

Também o padre Diogo foi infetado com a Covid-19 e esteve internado, em isolamento, naquela unidade de saúde, tendo sido tratado pelos mesmos profissionais com quem trabalha diariamente.

A maior lição da minha doença foi perceber o quanto é importante estarmos presentes na vida dos outros. Uma das minhas maiores necessidades era conversar e não ter com quem o fazer. Senti a solidão e o desejo de partilha do que estava a viver”.

Hoje ao visitar os doentes, o capelão hospitalar entende que “receber uma visita é algo muito reconfortante” e sabe o significado de ser procurado por familiares que procuram informações dos doentes internados.

“Antes da pandemia os doentes recebiam com frequência a visita dos familiares. Hoje quase que está normalizado, mas no período mais crítico, quem visitava os doentes eram os profissionais de saúde, que estavam no Hospital, e também o capelão”, conta, ao lembrar o aumento de telefonemas que recebeu de muitas pessoas desconhecidas a precisar de ajuda.

Natural do Brasil, do estado do Espirito Santo, o padre Diogo Braz Perpétuo está em Portugal há sete anos e de forma natural recorda ter começado a trabalhar no hospital numa partilha de trabalho com o pároco de Santiago do Cacém.

“Esta é uma missão nova, muito desafiadora, com a qual tenho aprendido muito nestes anos, porque é uma missão exigente, mas é algo que gosto muito”, regista.

Não isento de algum sofrimento também para o capelão, o sacerdote afirma que o seu envolvimento com o trabalho diário faz parte da sua missão.

“Estou muito presente nos Cuidados Paliativos e ali não nos devemos envolver demasiado com os doentes e famílias mas isso é impossível. Pessoas que acompanhei há três anos atrás, continuam no meu coração. Quando entrei o hospital, acompanhei um paciente com cancro no pulmão e até hoje eu lembro-me das suas últimas palavras. Há familiares que acompanhei que visitam o Hospital e vão à missa, sem serem praticantes, mas querem ouvir uma palavra e saudar-me”, explica.

O capelão do Hospital do Litoral Alentejano afirma ainda a importância de se reconhecer o trabalho que os profissionais de saúde realizam.

“A sociedade deve reconhecer o grande valor do trabalho na saúde. Só quem trabalha dentro dos hospitais, quem acompanhou esta avalanche sabe realmente o valor que devemos dar as profissionais de saúde. Foram heróis que mesmo esgotados e cansados, davam o melhor de si e precisamos agradecer o seu trabalho”, destaca.

O Papa Francisco publicou uma mensagem para o Dia Mundial do Doente, que se assinala no dia 11 de fevereiro, onde defende um acesso universal a serviços de saúde, recordando milhões de pessoas excluídas socialmente nos cinco continentes.

“Há ainda um longo caminho a percorrer para garantir a todos os doentes, mesmo nos lugares e situações de maior pobreza e marginalização, os cuidados de saúde de que necessitam e, também, o devido acompanhamento pastoral”, adverte o padre Diogo Braz Perpétuo.

LS

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Agência ECCLESIA

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