Tema da proteção dos menores vai estar no centro de cimeira inédita de bispos, no Vaticano
Lisboa, 18 fev 2019 (Ecclesia) – A psiquiatra Margarida Neto disse à Agência ECCLESIA que “nem o celibato nem a homossexualidade” são razão para casos de pedofilia e abusos sexuais, defendendo que todos devem estar envolvidos na prevenção destas situações, na Igreja e na sociedade.
Margarida Neto precisa que está em causa “a questão do poder” sobre alguém, “não uma dificuldade em conter a castidade”, com “outras coisas em jogo”.
“É muito forte, muito doentio, muito disfuncional, muito segredado”, precisa.
Segundo a psiquiatra, alguém que entra no seminário “pode procurar a Igreja” como muitos pedófilos procuram “situações ou instituições de proximidade com as crianças”.
“Falamos muito dos padres mas se a expressão da pedofilia é 4% na população em geral onde andam os pedófilos? Os que procuram aproximar-se de zonas onde estão as crianças, também pode entrar no seminário por esta razão”, acrescentou, realçando que “desafia para a atenção e trabalho junto dos seminaristas e dos padres”.
Para Margarida Neto é importante assinalar que noutras Igrejas, em que não há celibato obrigatório, “a dimensão do abuso e da pedofilia é idêntico”, sustentando ainda que “não se pode dizer que os homossexuais sejam pedófilos ou abusadores”.
“Os casos na Igreja são de crianças mais velhas, adolescentes a partir da puberdade e o celibato não tem nada a ver. O fim condutor é da imaturidade afetiva, sexual, do trauma de infância, de alguma coisa mais disfuncional, e, por isso, é possível e desejável que a Igreja no seminário acompanhe bem os padres, esse é um dos segredos”, desenvolveu.
Também o secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) sublinha que “não se pode estabelecer uma relação” entre os abusos sexual de menores com “celibato e homossexualidade”, falando em “situações diferentes” mesmo que existam “coincidências”.
O padre Manuel Barbosa recorda as diretivas sobre este tema, aprovadas pelos bispos portugueses em 2012, para as dioceses e para todas as pessoas jurídicas canónicas – as congregações, as ordens, os institutos.
O responsável destaca o número 33 com diretrizes que são o ponto de partida para que as coisas sejam continuadas: “Instauração imediata de procedimento canónico; aconselhamento da vítima ou denunciantes a participar os factos às autoridades civis competentes; avaliação das medidas cautelares de modo a reparar dano e impedir novos casos”.
O Vaticano apresenta hoje o encontro sobre a proteção de menores na Igreja Católica, que o Papa convocou de 21 a 24 de fevereiro, com presidentes das conferências episcopais de todo o mundo.
A iniciativa vai contar com a presença do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente.
“A missão da Igreja também é não só detetar e acompanhar os padres que se descobre na pedofilia e abusos, mas depois acompanhar as vítimas. A criança e o adolescente abusado vai ter um trauma para o resto da vida. As vítimas quando se queixam estão a dizer a verdade. A maior parte das pessoas que se queixam, das crianças, quer na família, quer em relação aos padres, e outras circunstâncias, estão a dizer a verdade”; desenvolve Margarida Neto.
O encobrimento, acrescenta, “não pode acontecer” e é preciso firmeza “na deteção e encaminhamento”.
Para o padre Manuel Barbosa é preciso enfrentar os casos que apareçam “com frontalidade, com humildade”, na linha de “tolerância zero” defendida pelo Papa Francisco.
O tema está no centro da emissão de hoje do Programa ECCLESIA, na RTP2, a partir das 15h00.
PR/CB/OC