Igreja: Portugal viu «situações inquietantes» com trabalhadores imigrantes, lembra diretora da OCPM

Eugénia Quaresma destaca necessidade de encontrar respostas e acompanhar todos os que vivem no país

Foto: Lusa

Lisboa, 12 ago 2021 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) disse à Agência ECCLESIA que a pandemia veio tornar “mais evidentes” os problemas ligados ao setor, também em Portugal.

“Temos algumas comunidades migrantes a viver em situações inquietantes”, assinala Eugénia Costa Quaresma.

A entrevistada na edição desta quinta-feira do Programa ECCLESIA (RTP2) recorda a elevada incidência de casos de Covid-19 em trabalhadores imigrantes, sobretudo do setor agrícola, que viviam em habitações sobrelotadas.

A diretora da OCPM admite que algumas situações foram salvaguardadas, mas recorda que as denúncias da Igreja Católica já se faziam sentir há mais de uma década.

“Não basta constatar que está a acontecer, é preciso construir respostas para que não volte a acontecer”, afirma.

A entrevistada destaca os problemas ligados à habitação e da saúde, sobretudo para as populações que não têm a sua situação regularizada.

“Nem todas as crianças tiveram o devido acompanhamento, nos períodos de confinamento, nem todas tiveram acesso ao computador”, acrescenta Eugénia Quaresma.

A responsável assinala que as instituições que acompanham os migrantes foram chamadas a colaborar no processo de vacinação contra a Covid-19, para “não deixar ninguém para trás”.

A diretora da OCPM espera que as comunidades católicas estejam de portas abertas, para que todos se “sintam em casa”, incluindo os migrantes, recordando que as comunidades portuguesas no estrangeiro sempre foram um ponto de “acolhimento” para quem deixava o país em busca de uma vida melhor.

A Igreja Católica em Portugal está a celebrar de 8 a 15 de agosto a 49ª Semana Nacional de Migrações, com o tema ‘Rumo a um nós cada vez maior’, incluindo a tradicional peregrinação a Fátima.

A OCPM destaca que a Peregrinação Nacional do Migrante e Refugiado representa o “coração desta semana, a fonte de espiritualidade”.

A celebração que decorre entre hoje e amanhã, na Cova da Iria, vai ser presidida pelo cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo e presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE).

“A União Europeia não é um condomínio fechado”, sustenta Eugénia Quaresma, alertando para os perigos das “rotas ilegais”.

O organismo da Conferência Episcopal Portuguesa quer saber quem são as pessoas atendidas, de onde vêm, porquê e que instituições estão envolvidas no acolhimento, proteção e promoção e inclusão dos que chegam, dos que partem e dos que regressam, pedindo o envio desta informação para o e-mail ocpm@ecclesia.pt.

No último dia desta semana, a 15 de agosto, especial realiza-se também uma jornada de solidariedade com a mobilidade humana.

Com a Semana Nacional de Migrações, a OCPM dá início à preparação do 107.º Dia Mundial do Migrante, que vai ser celebrado a 26 de setembro, com o tema ‘Rumo a um «nós» cada vez maior’, escolhido pelo Papa.

“Estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira”, escreveu Francisco na sua mensagem.

Eugénia Quaresma considera que este texto responde às “inquietações” da pandemia e pós-pandemia.

A responsável católica destaca a atenção dada por Francisco às questões ligadas à xenofobia e ao racismo, bem como às dificuldades sentidas por migrantes e refugiados.

“No tempo da pandemia, eles ficaram mais esquecidos”, lamenta.

A diretora da OCPM deixa votos de que a humanidade aprenda a “tratar-se como uma família e a crescer em conjunto”.

CB/OC

 

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