Igreja/Portugal: Responsabilidade social das empresas «não pode ser teórica» e demonstra-se «em situações como a que vivemos» – CNJP (c/vídeo)

Pedro Vaz Patto apela a que dividendos e prémio empresariais sejam canalizados para «quem mais precisa»

Foto: Lusa

Lisboa, 02 jun 2020 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) pediu que a responsabilidade social das empresas não seja “teórica, de imagem ou política” mas que assuma um “compromisso coerente” com a situação causada pela pandemia do Covid-19.

“A responsabilidade social não é teórica, não é imagem ou política da parte das empresas mas é um compromisso que exige coerência e demonstra-se em situações como esta. É um apelo que fazemos perante esta divisão de dividendos que não contempla os trabalhadores”, afirmou Pedro Vaz Patto à Agência ECCLESIA.

Em causa está a falta de “coesão social” que a distribuição de dividendos no sistema bancário provoca, provocando “indignação” as notícias que dão conta de “prémios de gestão ou distribuição de dividendos que pela sua dimensão, contrastam com os sacrifícios” que a sociedade portuguesa atravessa.

“É bom que haja empresas prósperas mas se há uns que são atingidos pela crise de uma forma absoluta, porque ficam sem rendimentos de um dia para o outro, há outros que não sofrem da mesma forma – há que haver uma solidariedade de uns para os outros”, sustenta.

Pedro Vaz Patto recorda a expressão utilizada pelo Papa Francisco na bênção Urbi et Orbi, a 27 de março, quando disse: «Estamos todos no mesmo barco», para referir a importância da solidariedade entre todos com vista a ultrapassar as consequências sociais e económicas provocadas pela pandemia do Covid-19.

Não contestamos que até possa ser legal essa distribuição de dividendos ou prémios, mas numa perspetiva que vai para além da estrita legalidade e tem em conta critérios de justiça social e solidariedade, parece-nos que é contrário a este objetivo de reforço de coesão social”.

O responsável pelo organismo laical ligado à Conferência Episcopal Portuguesa indica que a sociedade portuguesa é marcada por desigualdades, “que se acentuam perante as crises”, e que são os “mais pobres” a sofrer as consequências dessas situações.

A CNJP pede que os lucros e os prémios sejam canalizados para quem mais precisa.

Verificamos muitas iniciativas espontâneas da sociedade civil, instituições mais diversas, dentro da Igreja mas não só, que mostram uma reação clara: as pessoas são sensíveis a este agravar da pobreza. Querem fazer o que está ao seu alcance para minorar as consequências desta crise. Isso não deve ser uma reação momentânea. O previsível é que a crise perdure ainda durante bastante tempo. Não basta uma reação emotiva momentânea, mas um esforço contínuo”.

Pedro Vaz Patto indica que a ajuda não compete apenas ao Estado, mas que toda a sociedade civil se deve responsabilizar pelos problemas de outros.

“Não podemos negar os constrangimentos financeiros, a dívida não desapareceu e continua a ser elevada. Mesmo que não seja agora, a prioridade é a redução da dívida. Não podemos esperar tudo do Estado. O apelo que fazemos é para que cada um de nós sinta como seu o que acontece a todos os que estão à nossa volta, em especial os mais vulneráveis”, sublinha, em declarações emitidas hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).

O responsável recorda que este tempo provocado pela pandemia do Covid-19 e as consequências económicas e sociais crescentes pode ser a oportunidade para corrigir modelos sociais e relações e relembra que o projeto europeu nasceu no pós 2ª Guerra Mundial.

“É um exemplo de como estas situações às vezes são um pretexto para repensar os sistemas e esta pode ser essa ocasião. Não fazer tudo o que era antes, não perder o que era de bom. Há aspetos positivos da globalização, por exemplo, que não devem ser postos em causa mas há outros que devem ser corrigidos. Pode ter-se uma perspetiva de curto prazo ou uma perspetiva mais ampla que tem em conta o futuro e também a saúde pública depende em muito da preservação do ambiente”, explica.

A CNJP tem procurado “esclarecer e formar a opinião pública” para acontecimentos que podem ajudar ao diálogo: “Não temos uma missão concreta como têm outras instituições da Igreja mas o nosso esforço é de esclarecer, formar a opinião pública. É um contributo para o diálogo, sabemos que não temos soluções para tudo”.

PR/LS

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Agência ECCLESIA

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