«Este livro vai trazer novos caminhos, caminhos alternativos, para conceptualizarmos o turismo e puxá-lo por uma dimensão mais espiritual e emocional» – Carlos Costa
Lisboa, 29 fev 2024 (Ecclesia) – A Pastoral do Turismo – Portugal (PTP), da Conferência Episcopal Portuguesa, apresentou hoje a obra ‘Caminhos e Destinos da Pastoral do Turismo Laudato Si’ e assinou a proposta de adesão à Plataforma Nacional de Turismo (PNL), em Lisboa.
“A publicação centra-se sobre a questão do turismo e a Laudato Si, sustentabilidade ambiental. É um livro que tem a base científica do melhor que se faz, do pensamento científico, que se faz do turismo em Portugal, e é onde está o contributo, tudo aquilo que nós pensamos, que é o papel da Igreja para esta indústria”, disse o padre Miguel neto, à Agência ECCLESIA, na Bolsa de Turismo de Lisboa – BTL.
O sacerdote algarvio destacou que o turismo é a “indústria com mais importância em Portugal, que gera mais dinheiro, e a Igreja tem que estar presente”, não só na perspetiva financeira, mas também porque “é onde as pessoas estão e a Igreja tem que estar presente onde as pessoas estão”.
‘Caminhos e Destinos da Pastoral do Turismo Laudato Si’, com 25 capítulos em 175 páginas, é a “primeira obra científica” relacionada com o turismo promovida pela CEP, reúne as atas das quintas Jornadas da Pastoral do Turismo da Igreja Católica em Portugal, realizadas de 2 a 4 de fevereiro de 2023, em Coimbra.
A nova publicação foi apresentada pelo professor e investigador Carlos Costa, coordenador científico e relator da estratégia para o caminho futuro de uma Pastoral Laudato Si, que também participou nas Jornadas da Pastoral do Turismo, em 2023.
“Aquilo que nós pensamos e aquilo que argumentamos é que o turismo está a crescer fortemente em Portugal, tem uma expressão fortíssima, só ano passado valeu 25 mil milhões de euros, isso é sete fábricas da Autoeuropa, e nós nem sequer, às vezes, temos moção disso, ou significa 10 vezes aquilo que a agricultura produz no nosso país em termos de receitas. O turismo tem uma dimensão muito grande mas também está neste momento numa encruzilhada”, começou por explicar à Agência ECCLESIA.
Neste contexto, Carlos Costa salientou que as abordagens são “fundamentalmente pelo lado da procura”, isto é, ter, cada vez mais, turistas em Portugal, que trazem “despesa” mas é preciso começar a pensar de que forma se consegue que “o turismo contribua para a qualidade de vida e das pessoas e para o equilíbrio emocional e intelectual das pessoas”.
“É isso que este livro nos vai trazer, são novos caminhos, caminhos alternativos para conceptualizarmos o turismo e puxá-lo por uma dimensão mais espiritual e emocional, e a partir daí também começarmos gradualmente a entrar naquilo que é a religiosidade. As pessoas estando num enquadramento espiritual começarão também a ter um ponto de encontro para aquilo que é o turismo religioso que é um dos grandes objetivos obviamente desta publicação”, desenvolveu o coordenador científico e relator da estratégia para o caminho futuro de uma Pastoral Laudato Si.
Sandra Cortês-Moreira, da equipa da Pastoral do Turismo – Portugal, foi uma das coordenadoras desta nova edição e destaca três pontos, começando por assinalar que este conjunto de comunicações dá a conhecer as práticas a nível da pastoral do turismo que são desenvolvidas em Portugal e isso “é muito importante, nomeadamente para as dioceses que queiram replicar algumas estratégias, algumas experiências”, depois as experiências internacionais, em concreto do Brasil, que foi o país convidado das V Jornadas Nacionais da PTP. “E que tem uma visão da Pastoral do Turismo bastante diferente daquilo que é a visão europeia e também foi uma mais-valia e está plasmado no livro que há outros caminhos a percorrer que não só aquele que é proposto aqui na Europa”, acrescentou a entrevistada, sublinhando que na nova publicação apresentam as “linhas estratégicas que a Igreja Portuguesa e, neste caso, a Pastoral do Turismo vai querer implementar. O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, dos bispos católicos de Portugal, também participou nesta sessão na Bolsa de Turismo de Lisboa e explicou que a Pastoral do Turismo significa “o interesse e a responsabilidade que os pastores da Igreja têm em relação a tudo que toca com a vida humana”, por isso, não podem “estar distanciados” desta realidade, “que é enorme”, do turismo no mundo e também em Portugal. “Este é um momento especial na Igreja em Portugal, num encontro do turismo da parte da Igreja com o turismo das empresas e das plataformas no sentido de haver um enriquecimento de tudo e de todos, e que não seja só a economia o valor a considerar mas sejam, no centro, as pessoas”, explicou D. José Traquina, bispo de Santarém, à Agência ECCLESIA. O bispo, responsável pela comissão episcopal que tem a área do turismo na CEP, afirma que “há uma reflexão a fazer sobre o bem que o turismo é para o crescimento e valorização das pessoas”: “Das pessoas não só os profissionais mas das pessoas que passeiam, que visitam, que circulam em busca de conhecimento noutros espaços novos e têm muito a aprender com aquilo que é natureza, que a natureza oferece, e aquilo que o património, que é o legado das gerações que nos antecederam, oferece para o conhecimento de nós próprios”. |
No final da apresentação do livro – ‘Caminhos e Destinos da Pastoral do Turismo Laudato Si’ – o padre Miguel Neto e o professor Carlos Costa assinaram a proposta de adesão do organismo da Igreja Católica à Plataforma Nacional de Turismo (PNL).
“Nós recebemos mais. É a entrada da Pastoral do Turismo de Portugal, da Conferência Episcopal Portuguesa, da Igreja Católica de Portugal, naquilo que é a componente científica, que é a componente académica relacionada com o turismo. Deixamos ter uma componente somente teórica e voltada para o nosso interior, e estamos abertos a receber inputs da comunidade académica, mas também a mostrar o que é que a Igreja pode dar a essa comunidade, sobretudo, ao nível do turismo espiritual, e isso é importante, há uma questão de partilha”, explicou o diretor da PTP.
A PNT foi criada, principalmente nos últimos três anos, com 125 sócios associados fundadores, e tem todas as universidades institucionalmente, todos os professores catedráticos da área do turismo em Portugal, os maiores investigadores do Turismo a nível nacional, do lado do setor têm as organizações nacionais de grande peso – “como a Confederação Nacional do Turismo, a Confederação do Turismo Portugal, a AHRESP, a APCATE (Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos), destacou Carlos Costa.
“Aquilo que é nosso objetivo hoje, com a assinatura e a adesão da Pastoral do Turismo à Plataforma Nacional do Turismo, é vir a criar um grupo na área do turismo espiritual e religioso para que os nossos conceitos de sustentabilidade se estendam progressivamente àquilo que tem a ver com os estados emocionais e os equilíbrios psicológicos que nós temos necessidade cada vez mais”, explicou o entrevistado.
“As doenças de natureza física, das constipações, etc. têm sintomas mais ou menos evidentes, aquilo que são problemas de burnout, de desequilíbrios, de instabilidades emocionais são mais difíceis de detetar e nós pretendemos, obviamente, entrar nessa área, na área da dimensão do turismo espiritual para que as pessoas se encontrem com elas próprias, encontrem equilíbrios emocionais e contribuam obviamente para uma sociedade melhor, mais fraterna, isso faz parte claramente dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, acrescentou Carlos Costa presidente da direção da Plataforma Nacional de Turismo.
O padre Miguel Neto lembrou ainda que as sínteses das Jornadas do Turismo 2023 foram entregues, “em mãos” a D. Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização da Santa Sé, “que tem sob a sua alçada a pastoral do turismo”, e, agora, também vão enviar este livro para o Vaticano.
CB/OC