Igreja/Portugal: Formas de pertença em mutação

Jornadas Pastorais do Episcopado analisaram transformações no 50 anos desde a abertura do Concílio Vaticano II

Fátima, Santarém, 21 jun 2012 (Ecclesia) – A Igreja Católica tem de estar atenta às transformações nas formas de pertença dos seus fiéis, considera o coordenador do inquérito ‘Identidades Religiosas em Portugal: Representações, Valores e Práticas – 2011’, encomendado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

Alfredo Teixeira, responsável do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da Universidade Católica Portuguesa (UCP), refere à Agência ECCLESIA que o surgimento de ritmos “estabelecidos pelos próprios crentes” na prática religiosa, em particular a participação na missa dominical, é geralmente visto como um comportamento “insuficiente, de desvio”.

“Dessa forma, essas pessoas são vistas sempre como pertencendo simplesmente a uma periferia e, provavelmente, empurradas cada vez mais para fora”, alerta.

O tema esteve em destaque nas Jornadas Pastorais do Episcopado, que hoje chegaram ao fim em Fátima, dedicadas à receção do Concílio Vaticano II (1962-1965) nas últimas décadas, em Portugal.

D. Manuel Clemente, vice-presidente da CEP, recordou na conferência que proferiu durante a iniciativa o surgimento de uma “liberdade de escolha cultural”, a qual levou “à maior responsabilidade na opção católica, aumentando tudo o que respeita à iniciação e formação, ao conhecimento da Palavra e à vivência litúrgica, bem como às várias iniciativas no campo caritativo e solidário”.

“Recenseamentos mais antigos e o recente inquérito às identidades religiosas, todos denotam uma profunda alteração de sentimentos e expressões particulares e de grupo”, sublinhou.

O bispo do Porto destacou que “Portugal mudou muito e estruturalmente muito na segunda metade do século XX, num movimento anterior a abril de 1974”, com reflexos “nas práticas religiosas, em especial as católicas, muito institucionais e comunitárias”.

Segundo a sondagem elaborada pela UCP, divulgada a 18 de abril, quase metade (49,1%) dos que se assumiram como católicos (80% das 4 mil respostas recolhidas) dizem participar na missa pelo menos uma vez por mês, o que corresponde a 38,4% em relação ao total da população inquirida.

Para Alfredo Teixeira, existe uma “enorme autonomia” dos indivíduos face às instituições, com uma cultura “muito marcada por essas lógicas de afirmação individual”.

O responsável do Centro de Estudos de Religiões e Culturas sublinha que as maiores flutuações não se verificam no número de pessoas que dizem nunca ir à missa, mas nas práticas “irregulares”, considerando que é esse “o verdadeiro problema pastoral”.

“Em qualquer outra prática social, se alguém que faz uma coisa mensalmente isso é analisado como uma prática regular”, complementa, pedindo atenção para o “sentimento de pertença” manifestado pelas pessoas.

Na conferência de imprensa que decorreu esta quarta-feira, D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, destacou que o inquérito “é muito positivo” pelo interesse e o “sentido de compromisso” manifestado pelos católicos.

“Não podemos tratar toda a gente como se fossem crentes convictos ou praticantes ao domingo, isso não significa que não os aceitemos como são, com os seus problemas”, defendeu o presidente da CEP.

As jornadas pastorais englobaram várias conferências e painéis temáticos, com intervenções de bispos, teólogos, economistas, sociólogos e outros especialistas.

OC

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