Igreja/Portugal: Bispos católicos renovam preocupação com ideologia do género

Petição pública pela suspensão do despacho da identidade de género nas escolas reuniu mais de 32 mil assinaturas

Lisboa, 26 ago 2019 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa divulgou no seu site oficial o documento sobre ideologia do género, publicado em 2013, no qual se questiona a “difusão” da mesma no ensino.

“Este [ensino] é encarado como um meio eficaz de doutrinação e transformação da mentalidade corrente e é nítido o esforço de fazer refletir na orientação dos programas escolares, em particular nos de educação sexual, as teses dessa ideologia, apresentadas como um dado científico consensual e indiscutível”, assinala o documento, que é retomado num momento em que se debate, em Portugal, o novo despacho da identidade de género nas escolas.

A carta pastoral da CEP sustenta que ideologia do género pretende provocar uma “revolução antropológica”, secundarizando a identidade sexual como “condição natural e biológica”.

“Se viermos a assistir à utilização do sistema de ensino para a afirmação e difusão dessa ideologia, é bom ter presente o primado dos direitos dos pais e mães quanto à orientação da educação dos seus filhos”, referem os bispos católicos.

No texto intitulado ‘A propósito da ideologia do género’, a CEP sustenta que “no plano estritamente científico, obviamente, é ilusória a pretensão de prescindir dos dados biológicos na identificação das diferenças entre homens e mulheres”.

O documento identifica um conjunto de “campos” em que esta ideologia tem vindo a promover o que se denomina por “rutura civilizacional”, que passa, entre outros, por uma “promoção de alternativas à linguagem comum”.

“Em vez de sexo (algo de básico, identificador da pessoa) fala se em género (construção cultural e psicológica de uma identidade); em vez de igualdade entre homem e mulher, referem a igualdade de género; a família é substituída por famílias”, pode ler-se.

Já este ano, a Santa Sé publicou um novo documento sobre a “ideologia do género”, contestando quem pretende eliminar a diferença homem-mulher.

“A formação da identidade baseia-se na alteridade; na família, a relação perante a mãe e o pai facilita à criança a elaboração da sua própria identidade-diferença sexual. O género ‘neutro’ ou ‘terceiro género’, pelo contrário, surge como uma construção fictícia”, refere o cardeal Giuseppe Versaldi, prefeito da Congregação para a Educação Católica, organismo responsável pela publicação.

Não podemos faltar à nossa identidade aderindo a um pensamento único que gostaria de eliminar a diferença sexual, reduzindo-a um mero dado ligado às circunstâncias culturais e sociais. Devemos evitar os dois extremismos: o do pensamento único e da ideologia que se conduz por slogans; e o de quem pensa que apenas quem partilha a fé católica deveria frequentar as nossas escolas”.

O texto da Santa Sé sublinha o “dado biológico da diferença sexual entre homem e mulher”, desafiando os educadores ao diálogo.

O documento está dividido em três partes, começando pelos “pontos de encontro e as críticas” na questão do género, elogiando a “apreciável exigência de lutar contra qualquer expressão de injusta discriminação”.

A segunda parte é uma “reflexão crítica” sobre os aspetos que levam a propor, a nível antropológico, “uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculada da diferença biológica entre masculino e feminino”.

O Vaticano conclui com proposta de discernimento sobre “a verdade da pessoa e sobre o significado da sexualidade humana”, algo que cada pessoa “deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece”.

Mais de 32 mil pessoas subscreveram uma petição pública pela “suspensão imediata” do despacho nº 7247/2019, publicado a 16 de agosto pela secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, e o secretário de Estado da Educação, João Costa, considerando que o mesmo “oficializa a implementação da Ideologia de Género nas escolas”.

A Conferência Episcopal Portuguesa retomou ainda, no seu site, o documento em que justifica a sua oposição à eventual legalização da eutanásia no país.

OC

O processo de identificação é dificultado pela construção fictícia de um ‘género neutro’ ou ‘terceiro género’. Desta forma, é toldada a noção de sexualidade como uma qualificação estruturante da identidade masculina e feminina. A tentativa de superar a diferença constitutiva do masculino e do feminino, como acontece na intersexualidade ou no transgénero, leva a uma ambiguidade masculino e feminino que, contraditoriamente, pressupõe a diferença sexual que se pretende negar ou superar. Essa oscilação entre masculino e feminino, torna-se, no final, apenas uma exposição ‘provocadora’ contra os chamados ‘esquemas tradicionais’, que não leva em conta o sofrimento daqueles que vivem em condição indeterminada’.

Homem e mulher os criou’, n.º 25

 

Eutanásia – Contributos para um diálogo esclarecedor

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