Igreja: Papa defende fé atenta a «problemas sociais e políticos», que acompanha vida concreta das pessoas

Missa conclusiva da 50ª Semana Social dos Católicos na Itália alerta para «religiosidade fechada em si mesma»

Trieste, Itália, 07 jul 2024 (Ecclesia) – O Papa defendeu hoje a necessidade de uma “fé humana”, nas comunidades católicas, que esteja atenta à “vida das pessoas”, com um compromisso social e político.

“Uma fé fundada num Deus humano, que se inclina para a humanidade, que cuida dela, que se comove com as nossas feridas, que toma sobre si o nosso cansaço, que se parte como pão para nós”, referiu, perante milhares de pessoas, na Missa conclusiva da 50ª Semana Social dos Católicos na Itália.

O evento, com o tema ‘No coração da democracia. Participar entre a história e o futuro’, iniciou-se na última quarta-feira, com representantes de todas as dioceses da Itália.

Francisco faz uma breve visita à cidade do nordeste italiano, junto à fronteira com a Eslovénia, num programa que inclui encontros com migrantes e pessoas com deficiência.

A homilia da Missa, com a participação de milhares de pessoas, alertou para uma “religiosidade fechada em si mesma, que ergue o olhar para o céu sem se preocupar com o que acontece na terra”.

O Papa pediu, pelo contrário, que se viva uma fé que “desperta as consciências do torpor, que põe o dedo nas feridas da sociedade, que levanta questões sobre o futuro do homem e da história”.

“É uma fé inquieta, precisamos de viver uma fé inquieta”, acrescentou.

Francisco pediu desculpa por algumas hesitações na leitura da homilia, justificando-se com o reflexo do sol, um momento que levou os presentes a aplaudi-lo.

O Papa falou de uma sociedade “anestesiada” e marcada pelo “consumismo”, uma “chaga”, desejando que os católicos deem vida a uma fé que “denuncia o mal, que aponta o dedo contra as injustiças”.

“Deus esconde-se nos cantos escuros da vida das nossas cidades”, observou, ao questionar a “miséria, a dor, o descarte de tantas pessoas”.

Por que não nos escandalizamos diante do mal que se espalha, da vida humilhada, dos problemas do trabalho, do sofrimento dos migrantes? Por que permanecemos apáticos e indiferentes diante das injustiças do mundo?”.

A reflexão recordou que Jesus não aceitou a “lógica do poder político e religioso”, defendendo que os católicos devem estar atentos aos “problemas sociais e políticos”.

“Desta cidade de Trieste, com vista para a Europa, encruzilhada de povos e culturas, terra de fronteira, alimentemos o sonho de uma nova civilização fundada na paz e na fraternidade”, apelou.

Francisco deixou uma palavra particular aos que chegam da “rota dos Balcãs”, em busca de uma vida melhor, na Europa.

O programa, iniciado esta manhã, incluiu encontros privados com migrantes e pessoas com deficiência.

No final da Missa, o Papa presidiu à recitação do ângelus, sublinhando que “cada pessoa tem a sua dignidade”.

Francisco elogiou o arcebispo de Trieste, D. Enrico Trevisi, por ter nomeado as pessoas doentes que evocou na sua saudação, assinalando que “a caridade é concreta, o amor é concreto”.

A intervenção regressou ao tema das migrações, falando de Trieste como uma “porta aberta”, na qual se devem combinar “abertura e estabilidade, acolhimento e identidade”.

“Trieste é uma daquelas cidades que tem a vocação de reunir pessoas diferentes: primeiro porque é um porto, e um porto importante, e depois porque está situada no cruzamento entre a Itália, a Europa Central e os Balcãs”, indicou.

O Papa defendeu que os católicos devem seguir o Evangelho e a Constituição, na sua ação social e política.

“Sigam em frente! Sem medo, abertos e firmes nos valores humanos e cristãos, acolhedores, mas sem cedências quanto à dignidade humana”, disse.

A última palavra de Francisco, nesta viagem, foi dedicada aos conflitos que atingem vários países.

“Desta cidade renovamos o nosso compromisso de rezar e trabalhar pela paz: pela martirizada Ucrânia, pela Palestina e Israel, pelo Sudão, por Mianmar e por todos os povos que sofrem com a guerra”, concluiu.

OC

Igreja/Política: Papa denuncia crise da democracia, alertando para «indiferença» perante quem sofre

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