Igreja: Padre Cruz «cheirou a ovelhas» como pede hoje o Papa Francisco

Vice-postulador da causa de canonização fala em vida de «oração e caridade» rumo aos altares

Agência Ecclesia/LS

Lisboa, 28 out 2019 (Ecclesia) – O padre Dário Pedroso considera que o padre Cruz antecipou o pedido do papa Francisco para que os pastores cheirem a ovelhas e elegeu a oração e a caridade como pontos centrais nos seus 89 anos de vida.

“Ele antecipou-se na vivência, que hoje o Papa Francisco nos diz, quando pede que os pastores cheirem a ovelhas. Ele andava no meio do povo, dos pobres, dos doentes. Ele ia a uma paróquia ou vila e não passava sem ir ao hospital e à prisão”, explica à Agência ECCLESIA o jesuíta, vice-postulador da causa de canonização do sacerdote Francisco Rodrigues da Cruz.

O padre Cruz, como ficou conhecido, alcançou em vida fama de santidade e aguarda aprovação da causa para chegar aos altares, estando em curso um processo que teve início em 1965, 17 anos depois do seu falecimento.

O vice-postulador, com o processo desde 2014, afirma que “Portugal inteiro conhecia o padre Cruz: os pagãos, agnósticos e ateus, mais do que hoje”.

“Quando fui nomeado percebi que, afinal, há livros sobre o padre Cruz escritos na Alemanha, em Itália, em França, de autores locais, não são tradução de livros portugueses. Confere uma identidade e autenticidade espantosa”, sugere o padre Dário Pedroso.

Os restos mortais do padre Cruz, que em oito anos antes de falecer entrou para a Companhia de Jesus, permanecem no cemitério de Benfica, no jazigo dos Jesuítas, sendo especialmente visitado a 29 de julho, dia do seu nascimento, e a 1 de outubro, data do sue falecimento.

“Mas segundo os funcionários do cemitério são muitas as pessoas que ali passam ao longo de todo o ano”, enfatiza.

Sobre os 89 anos de vida do padre Cruz, o vice-postulador sublinha dois polos: a oração e a caridade.

“Um homem de uma profunda oração, de uma intimidade com Deus muito grande, que rezava de forma intensa. Ele entrava num comboio e começava numa conversa com duas ou três pessoas mais próximas e convidava-os a rezar. Rapidamente punha toda a carruagem em oração”, recorda o padre Dário Pedroso.

Da sua ação caritativa são vários os episódios relatados: “Ele distribuía pão aos pobres e uma irmã, ao seu lado, disse-lhe que não iria chegar a quantidade, pois a fila era grande. «Não se aflija, que Nosso Senhor há-de remediar», terá dito. Ele distribuiu e o pão nunca acabou», relata o vice-postulador.

No registo da Causa há também “postais de se perder o fôlego”, dá conta o padre Dário Pedroso.

“Há um postal, dirigido à irmã, onde o padre Cruz descreve que vai sair do Porto e vai a caminho da Régua, partindo depois para Lamego. «Depois seguirei para outro lado e na sexta-feira estarei em Lisboa, mas se calhar, já chego mais para o fim da tarde e peço-te para não te esqueceres que é a primeira sexta-feira e que tenho o compromisso de dar o pão aos pobres. Gasta o dinheiro que for preciso, que quando chegar-te pago». E são postais e postais, e postais, falta o fôlego”.

O vice-postulador refere  que o padre Cruz “passou a fazer o bem”: “É a grande frase de São Paulo e é isto o padre Cruz”.

“Fazendo o bem e, por vezes aos nossos olhos, de forma exagerada, porque não dormia nem descansava o suficiente, não cuidava da sua saúde o suficiente. Fazia o bem dando tudo o que tinha”, sublinha o padre Dário Pedroso.

O processo da Causa está, neste momento, a reunir “alguns documentos” para enviar à Congregação da Causa dos Santos; este levantamento de informações é enviado à Santa Sé: se o exame dos documentos for positivo, o “servo de Deus” é proclamado “venerável”.

A segunda etapa do processo consiste no exame dos milagres atribuídos à intercessão do “venerável”; se um destes milagres é considerado autêntico, o “venerável” é considerado “beato”.

Quando após a beatificação se verifica um outro milagre devidamente reconhecido, o beato é proclamado “santo”.

A canonização, ato reservado ao Papa, é a confirmação por parte da Igreja de que um fiel católico é digno de culto público universal (no caso dos beatos, o culto é diocesano) e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.

O padre Dário Pedroso tem esperança que o Papa Francisco tenha conhecimento do processo e possa “dispensar o milagre”, no que se chama de canonização equipolente.

“Se o Papa Francisco tiver conhecimento prévio do que foi a vida do padre Francisco da Cruz e o processo em Roma estiver adiantado, o próprio Papa poderá dispensar do milagre para colocar o padre Cruz nos altares”, finaliza.

A entrevista ao padre Dário Pedroso pode ser escutada esta noite, no programa Ecclesia na Antena 1; ao longo desta semana, em que se celebra a solenidade de Todos os Santos, o programa da Igreja Católica vai destacar algumas vidas de santidade.

LS

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