D. Américo Aguiar está «expectante» no processo sinodal e valoriza o encontro dos jovens com outras religiões na Jornada Mundial da Juventude, que assinala também o início da assembleia deste mês de outubro
Lisboa, 28 set 2023 (Ecclesia) – O novo bispo de Setúbal afirmou que “o sínodo não é um parlamento”, mas um ambiente de “trabalho e muita oração”, que começa com o envolvimento dos jovens, em sintonia com a experiência da Jornada Mundial da Juventude.
“O Papa diz-nos que o sínodo não é um parlamento, em que chegam as várias frações e ganha a maioria. O sínodo é um local onde cada um se deve sentir livre para falar, deve ter o gosto de ouvir e depois o Espírito Santo decidir. E às vezes o Espírito Santo toma a decisão que não é da maioria”, disse D. Américo Aguiar à Agência ECCLESIA e à Agência LUSA.
Numa entrevista conjunta, o futuro cardeal valorizou o caminho sinodal feito nas paróquias, dioceses, conferências episcopais e em cada continente, disse que é preciso evitar a tentação de gastar “até ao máximo” uma palavra ou uma iniciativa na Igreja e depois passar a outra, mas criar um espírito de reflexão com quem tem “manifestado uma sensibilidade diferente em relação a alguns temas”.
“Quando vamos aos documentos preparatórios do sínodo, reparamos que há alguma conexão: há preocupações europeias que “casam” com preocupações americanas, africanas e asiáticas. Depois, quando começamos a aproximar, vem mais a identidade nacional e realidades muito específicas”, referiu.
D. Américo Aguiar aludiu à experiência da sinodalidade alemã, lembrando que “nada tem a ver” com a matriz latina e admitindo que “há questões que é preciso avaliar, ter em conta e não desvalorizar”.
“É muito importante não desvalorizar a opinião do meu irmão, a opinião de um país, de uma conferência episcopal. Não quer dizer que estejam errados ou certos, mas é importante que se sintam respeitados ao pronunciarem-se e também estejam disponíveis para acolher o que é o sentir da Igreja em processo sinodal”.
D. Américo Aguiar referiu que a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que decorre entre os dias 4 e 29 de outubro e onde o tema em debate é a sinodalidade, “será um mês de muita oração, de muito trabalho”, mostrando-se “expectante no que serão as conclusões desse mesmo sínodo”.
Para o novo bispo de Setúbal, qualquer discussão não se deve “afirmar contra o outro”, mas na defesa das convicções e rejeitando a violência física ou verbal.
“Às vezes constatamos que, seja no contexto da Igreja e noutros, a força física ou verbal parece que é o único argumento para convencer o outro. Infelizmente acontece e, se formos ao mundo digital, escondidos atrás do teclado, somos todos perigosos”, indicou.
A Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos começa este sábado, em Roma, com um encontro de mais de 3000 jovens, que vão participar numa vigília de oração com o Papa, ao fim da tarde, em sintonia com a experiência de encontro vivida na Jornada Mundial da Juventude que decorreu em Portugal no mês de agosto.
Para D. Américo Aguiar, que coordenou a preparação e realização da JMJ Lisboa 2023, o encontro realizado em Portugal “fortaleceu” o “caminho que vem sendo feito nas jornadas mundiais da juventude” no que diz respeito à promoção do encontro entre diferentes religiões e culturas.
“Fiquei muito feliz com o acontecer de vários eventos, uns mais oficiais no calendário da jornada, outros laterais: todas as pessoas tiveram oportunidade de dizer, de se darem a conhecer, às vezes com reações menos positivas dos que não gostam. Desde que tudo aconteça no respeito uns pelos outros, temos de fazer caminho”.
D. Américo Aguiar valorizou também a realização da Vigília de Oração, a assinalar o início da Assembleia do Sínodo dos Bispos e concretizando um propósito afirmado pela Comunidade de Taizé ao longo dos quatro anos de preparação da JMJ Lisboa 2023 na valorização do “encontro de jovens de várias religiões e de sentimentos diferenciados de transcendência”.
“Acho muito interessante e muito rico que os jovens queiram, nas suas diversas confissões, rezar pelos frutos do sínodo”, concluiu na entrevista à Agência ECCLESIA e Agência LUSA, realizada no contexto do Consistório convocado pelo Papa Francisco para o dia 30 de setembro, onde vão ser criados 21 novos cardeais, entre eles o novo bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar.
PR