Igreja numa Aldeia Global

Padre Américo Aguiar, vigário geral da diocese do Porto

As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural. Comeste modo de difundir informações e conhecimentos, está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão.

(Bento XVI, Mensagem para o 45.º Dia Mundial das Comunicações Sociais)

Partilhamos esta reflexão na evocação do décimo aniversário dos marcantes acontecimentos de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América, e poucas semanas depois da Jornada Mundial da Juventude, em Madrid. O primeiro acontecimento ilustra bem a rapidez com que hoje a informação circula no mundo, nesta “Aldeia Global”.

O tempo e o espaço foram extintos. Assistimos às guerras em direto. Temos acesso a tudo, todos, e sempre. Dos Estado Unidos ao Iraque, do Afeganistão ao Paquistão, do funeral do Beato João Paulo II, o Papa Global, à tomada de posse do Presidente Obama, tudo acontece em tempo real num écran da nossa casa, do nosso quarto, ou do nosso telemóvel.

Nunca como neste tempo que vivemos o mundo nos pareceu verdadeiramente uma “Aldeia Global”. O fluxo da informação é tal que tudo sobre todos chega até nós. Regressamos à tribo, todos sabemos de tudo e ao mesmo tempo.

Bento XVI fala-nos de grandes mudanças culturais e sociais decorrentes dos fluxos comunicacionais provocados pelas novas tecnologias de informação e comunicação.

Se são mudanças na cultura e na sociedade são obrigatoriamente na Igreja.

O anúncio da Boa Nova acontece sempre, em cada tempo, no coração dos homens e das mulheres imbuídos numa cultura e membros plenos de uma sociedade.

Em cada tempo o Espírito Santo provoca em nós a sabedoria e a disponibilidade para sermos também agentes de mudança. Isto mesmo tem acontecido ao longo destes mais de 2000 mil anos. Da pregação e do testemunho de Jesus de Nazaré, o Cristo, às cartas enviadas pelos seus apóstolos às diversas comunidades, do desafio da tipografia de Gutenberg ao Revolução Industrial, dos Jornais à Rádio e ao Cinema, da internet à Sociedade em Rede, sempre soubemos encarar os desafios como oportunidades para proporcionar ao homem de cada tempo o encontro com o rosto de Cristo. Aliás João Paulo II lembra-nos na Novo Millennio Ineunte que o homem do terceiro milénio deseja, anseia que lhe mostremos o rosto de Cristo.

O segundo contexto desta partilha é como já disse o recente acontecimento das Jornadas Mundiais da Juventude, em Madrid.

Desde 2009 que os responsáveis pela organização da JMJ 2011 apostaram definitivamente na presença da Jornada nas Redes Sociais. Do Facebook ao Youtube, do Twitter ao Flickr. Para além de um canal tv, o “Madrid 11 Direto”.

Mesmo Bento XVI, através dos seus colaboradores desta área, não deixou de ser presença digital através do Pope2You. Num testemunho recolhido junto dos 12 jovens voluntários que almoçaram com o Papa em Madrid, no decorrer da jornada, Bento XVI fala-lhes da Web e da importância da presença da Igreja na mesma. Em muitos sites noticiosos circulou o destaque da vontade do Papa em querer uma Igreja 2.0.

Passando do nível da Igreja Universal para a nossa realidade portuguesa, temos felizmente muitos exemplos de presença nas redes. Um bom número de sites diocesanos que se esforçam por ser uma presença de qualidade e de oportunidade de testemunhar o rosto de Cristo, várias iniciativas da parte de sacerdotes que são verdadeiramente pioneiros em muitas da áreas em que foram os primeiros a marcar presença, diversas iniciativas últimas como o Lent2face, o passo-a-rezar-net ou o face4jesus.com, as presenças na web de institutos e congregações, de associações e movimentos, de paróquias e outras comunidades dizem-nos que estamos no bom caminho.

Independentemente das Redes Sociais serem uma moda ou uma revolução (Courrier Internacional), não deixam de ser parte de um processo de mudança civilizacional que se apresenta como oportunidade de construir comunhão.

Está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão (Bento XVI, Mensagem para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais)

Penso que está salvaguardada a advertência do Papa PauloVI: “A Igreja viria a sentir-se culpável diante do seu Senhor, se ela não lançasse mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados” (Evangelii Nuntiandi, 45).

Se a presença no mundo digital é um dado adquirido, temos de tomar consciência que essa presença tem de ser obrigatoriamente verdadeira. O que oferecemos digitalmente ao cibernauta tem de coincidir com o que ele poderá testemunhar no encontro, olhos nos olhos, coração a coração. Com Cristo e em Cristo não poderia ser de outra maneira.

Essa presença de qualidade e com vocação de cada vez maior interatividade acarreta custos materiais que poderão ser obstáculo, principalmente neste tempo que vivemos. No entanto, podem ser oportunidade para que se pense, projete e construa cada vez mais em rede, partilhando custos e benefícios.

Senhor, como És Tu que o dizes, lançaremos de novo as redes…

Padre Américo Aguiar, vigário geral da diocese do Porto

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