D. Rui Gouveia veio de Joanesburgo para a Madeira com oito anos, quis ser médico, estudou Química e Teologia e foi ordenado padre em Setúbal
Lisboa, 15 fev 2025 (Ecclesia) – D. Rui Gouveia vai ser ordenado bispo este domingo para auxiliar de Lisboa e pede “respeito nas diferenças” na sociedade lisboeta multicultural, lembrando a experiência de “racismo” no país onde nasceu.
“Eu nasci num país com ‘apartheid’ e, portanto, a segregação social era muito forte, era tudo compartimentado pelas raças e, mesmo entre os brancos, percebíamos que, às vezes, havia racismo e, de alguma maneira, também o experimentei na pele”, disse D. Rui Gouveia à Agência ECCLESIA.
O novo bispo auxiliar de Lisboa nasceu a 17 de abril de 1975, em Joanesburgo, África do Sul, filho de família emigrante da Madeira, onde regressou com oito anos de idade.
“Tive a graça de, na altura, os meus pais me colocarem num colégio católico, onde aceitavam todas as raças e, quando me recordo das turmas por onde passei, encontrava colegas de muitas latitudes do mundo e isso acho que, para quem está a crescer, ajuda a olhar para o outro e a respeitar a sua diferença e a sua dignidade”, afirmou.
Para D. Rui Gouveia, a sociedade portuguesa, nomeadamente em Lisboa, tem respeitar a multiculturalidade, rejeitar discursos racistas e anti-imigração, promovendo um “caminho a fazer de respeito mútuo”.
Sem este respeito nas diferenças que nos assistem, certamente que a paz torna-se completamente impossível”.
Na Madeira, D. Rui Gouveia estudou até ao secundário e frequentou o Seminário em Família, dos Padres Vicentinos, até decidir estudar Química, em Lisboa, mesmo que a vontade fosse a Medicina, tendo-se licenciado em Química Tecnológica, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Residindo em Lisboa, fez parte de um grupo de oração, na Costa da Caparica e, após um retiro vocacional, entrou no seminário, sendo ordenado padre em 2008, na Diocese de Setúbal, depois de se ter licenciado em Teologia, na Universidade Católica Portuguesa, estudo que continuou, em Madrid, na área da Teologia Catequética e Espiritualidade Bíblica.
D. Rui Gouveia fala em “laços humanos” que unem Setúbal a Lisboa, local de trabalho para muitos residentes na margem sul do Tejo, e afirma que a “identidade da Diocese de Setúbal não se entende sem a de Lisboa, porque é uma filha desta Diocese, que é Lisboa”.
No contexto do processo sinodal, o novo bispo auxiliar de Lisboa lembra que nos serviços que lhe foram confiados, na Diocese de Setúbal, nomeadamente o pré-seminário e seminário, as paróquias e a catequese, a dimensão sinodal está presente.
Como somos poucos, somos uma Igreja minoritária, e isso empurra-nos necessariamente para aprender a viver uns com os outros. Não meramente a tolerar, mas a aprender a tirar o melhor de cada um para caminharmos no mesmo sentido. Creio que isso é o que assiste à lógica sinodal e espero que me assista também no meu ministério episcopal”.
Sobre o trabalho como bispo auxiliar de Lisboa, onde integra uma equipa episcopal jovem que entende ser um “sinal de esperança”, D. Rui Gouveia diz que já tem “uma lista”, vai acompanhar a região do termo da diocese (paróquias da zona de Cascais, Sintra e Alverca), assim como setores da pastoral, nomeadamente as prisões, e lembra a necessidade de “dar continuidade” à Jornada Mundial da Juventude.
“Claro que se colocam sempre estas questões do compromisso, que é uma questão de difícil trato, hoje em dia, mas temos que encontrar caminhos para chegar a estes jovens e fazer caminho com eles, dando continuidade àquilo que é passado”, indicou.
Nomeado bispo auxiliar pelo Papa Francisco no dia 10 de dezembro último, D. Rui Gouveia vai ser ordenado bispo pelo patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, este domingo, na Igreja do Mosteiro de São Vicente de Fora, às 15h30, sendo bispos co-ordenantes o cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, e D. Gilberto Reis, bispo Emérito de Setúbal.
PR
Entrevista: Lisboa está está «muito mais multicultural», afirma novo bispo auxiliar