D. Virgílio Antunes lamenta «retrocesso civilizacional» neste campo
Fátima, 12 ago 2024 (Ecclesia) – O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, apelou hoje a uma “atitude humanitária” perante quem deixa a sua terra, para “fugir à morte e fugir à guerra”.
“As migrações são um fenómeno humano, mas hoje transformaram-se também num fenómeno humanitário, isto é, que exige uma atitude humanitária no melhor sentido desta palavra”, disse o responsável católico, na conferência de imprensa de apresentação da Peregrinação Internacional Aniversária de agosto.
A celebração, na Cova da Iria, integra a Peregrinação Nacional dos Migrantes, no âmbito da 52.ª Semana Nacional das Migrações, promovida pela Igreja Católica em Portugal, com o tema ‘Deus caminha com o seu povo’.
Para o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), as novas vagas migratórias representam um desafio para a Igreja e a sociedade.
Às vezes, parece que estamos num certo retrocesso civilizacional no que a esta questão diz respeito, se tivermos em conta os valores e o próprio sentido global da fé cristã e de outras religiões, aquilo que são os apelos à fraternidade universal”, observou.
Para o bispo de Coimbra, é necessário ajudar responsáveis políticos e religiosos a trabalhar para que as causas das migrações possam ser “eliminadas na origem, ou pelo menos atenuadas”.
D. Virgílio Antunes apontou o dedo à “pobreza agravada e extrema”, a “regimes totalitários”, a “perseguições religiosas, ideológicas e políticas” e às “guerras”, como motivos que forçam as pessoas a deixar a sua terra.
“Talvez todos nós esperássemos que, no século XXI, algumas destas causas fundamentais que estão na origem de fenómenos migratórios pudessem estar, em certo sentido, ultrapassadas, ou pelo menos atenuadas, e o facto é que não acontece isso”, advertiu.
O vice-presidente da CEP considerou que, nalguns casos, houve mesmo “um agravamento das circunstâncias, das motivações e das causas que dão origem a migrações”.
Para o bispo de Coimbra, as comunidades católicas são chamadas a “acolher, integrar, acompanhar e ajudar a refazer as vidas de muitas pessoas”, respondendo aos desafios lançados pelo Papa.
Questionado sobre o alcance do momento de oração a que Francisco presidiu, na Praça de São Pedro, com os membros da XVI Assembleia Geral do Sínodo, a 19 de outubro de 2023, D. Virgílio Antunes declarou que o gesto teve “repercussão à escala mundial”.
O responsável, um dos dois representantes da CEP nesta assembleia sinodal, elogiou o “discurso sustentado” do Papa no campo das migrações, numa perspetiva de “abertura à sociedade, de abertura aos povos”.
“Os migrantes, refugiados, deslocados são uma parte significativa dessa humanidade pobre, das periferias a que a Igreja cada vez quer estar mais atenta”, reconheceu.
O bispo de Coimbra admitiu, no entanto, que existem “muitas vozes críticas”, relativamente a estes posicionamentos de Francisco, por motivos políticos ou económicos.
“A conversão do coração aos outros e aos pobres como lugar teológico, lugar de encontro, é uma realidade que ainda não está concluída, mas que tem de continuar a crescer e que tem de fazer parte da agenda da Igreja da atualidade, bem como das sociedades”, concluiu.
O programa oficial da peregrinação tem início às 21h30, com a recitação do rosário, na Capelinha das Aparições; segue- se a procissão das velas e a celebração da Palavra, no Altar do Recinto de Oração.
Os participantes vão rezar pelas vítimas do conflito na Ucrânia, pelos que deixam os seus países “fugindo da violência ou da miséria” e por todos os refugiados que são vítimas de perseguição religiosa.
O Santuário de Fátima anunciou a presença de 23 grupos organizados de peregrinos, dois de Portugal e 21 estrangeiros, de 12 países.
O dia 13 de agosto começa com a procissão eucarística no Recinto de Oração, às 07h00, seguindo-se o rosário na Capelinha, às 09h00.
A Missa, com a bênção dos doentes e a procissão do adeus, encerra as celebrações desse dia.
Cumprindo uma tradição iniciada há 84 anos por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica de 17 paróquias da então diocese de Leiria, haverá a tradicional oferta de trigo.
Ao longo do ano de 2023, foram oferecidos ao Santuário de Fátima 5635 quilos de trigo e 477 quilos de farinha.
OC