Igreja: Mensagens transmitidas no V Domingo da Quaresma (e II da quarentena)

Eucaristias celebradas em «isolamento pastoral» nas várias dioceses refletiram sobre o sentido do sofrimento e da morte

Lisboa, 29 mar 2020 (Ecclesia) – A Igreja Católica vive o domingo como o Dia do Senhor, da celebração da Páscoa de Jesus, da Sua ressurreição, vivida no memorial da Eucaristia, que acontece, no contexto de pandemia, em liturgias restritas a poucas pessoas.

Na liturgia deste domingo, o V da Quaresma e o II da quarentena, em Portugal, o tema central das homilias das Missas foi o comentário ao episódio do Evangelho que narra o encontro de Jesus em Betânia (capítulo 11 do evangelista João), com as irmãs de Lázaro, que reclamam a hora tardia da sua chegada, encontrando o seu amigo Lázaro no túmulo.

No Casa Episcopal da Diocese do Algarve, D. Manuel Quintas disse que é necessário “sair do túmulo” que cada um fabrica à sua medida, feito de “desilusões, desconfianças” e do “medo que paralisa e atrofia o discernimento e conduz à resignação”.

Para o bispo do Algarve, é necessário abandonar “sentimentos derrotistas” e seguir o desafio de Cristo que continua a dizer, como a Lázaro, “vem para fora, regressa à vida, liberta-te das prisões interiores”, “desata amarras, sulcando o mar da vida, mesmo em tempo de grande perturbação”, como a atual.

Na Sé de Aveiro, o bispo diocesano alertou para o “medo que paralisa o homem” e pode conduzir à “resignação” ou ao “abandono” e falou de muitas comunidades que apenas são merecedoras de “lamentos e de prantos”, referindo que é necessário “desatar as ligaduras, desvendar os olhos, desatar as mãos e os pés, pôr-se a caminho, sem medo”.

“Lázaro representa Jesus na sua vitória sobre a morte. E representa-nos a todos nós que queremos deixar o nosso túmulo e viver. Queremos sair da putrefação dos nossos egoísmos e do isolamento do nosso túmulo. E isto é obra do Espírito em nós”, afirmou D. António Moiteiro

Em Braga, D. Jorge Ortiga, convidou os que o seguiam  a pensar no amor de Jesus por Lázaro, por Marta e Maria, que fez com que Jesus chorasse “intensamente” por um amigo e revela que Cristo é também “o amigo por excelência” de cada pessoa.

Depois, o arcebispo de Braga propôs uma reflexão sobre “quatro significados principais do Dia do Domingo”, nomeadamente como “o dia da Eucaristia”, o “dia da família”, o “dia da natureza” e o “dia do descanso”.

Em Coimbra, D. Virgílio Antunes referiu-se ao “medo da morte” em que todas as pessoas estão envolvidas, sentindo que “ninguém fica de fora” de uma pandemia como a atual, como lembrou o Papa na oração e bênção “Urbi et Orbi” da última sexta-feira, na Praça de São Pedro.

Para o bispo de Coimbra, a globalização do sofrimento globalizou também a solidariedade, o “sentido da oração” e a humanidade aproximou-se “por uma causa comum”.

No Paço Episcopal de Évora, D. Francisco Senra Coelho, lembrou a ordem de Jesus – “sai para fora” – e disse que esse é o propósito para este “momento tão estranho”, permitindo ultrapassar “medos”, “angústias”, “circunstâncias difíceis” e sendo ocasião de renovação para a Igreja

“Que esta provação seja também purificação, renovação. Que este momento de prova faça a Igreja amadurecer com Maria junto à Cruz para estar apta para o Pentecostes, para o dom do Espírito Santo, e se tornar assim missionária da esperança”, afirmou o arcebispo de Évora

No Funchal, na Missa transmitida pela RTP Madeira a partir da Igreja da Boa Nova, D. Nuno Brás lembrou uma Quaresma onde procissões e vias-sacras são feitas da necessidade de “estar em casa”, do “sofrimento de não estar com os amigos”, da “caridade redobrada” de estar atento aos vizinhos para que não “fiquem sem alimento e sem assistência”, e que prepara a celebração da “certeza da ressurreição”.

“Como O vamos acolher? Como vamos permitir que passe por cada um de nós e nos dê a vida eterna? Peçamos que passe por nós, pelo nosso coração, pelas nossas famílias, pela nossa Ilha e nos encontre preparados para celebrar com Ele a Páscoa, o mundo novo que Ele nos traz e que Ele nos propõe”, afirmou o bispo do Funchal.

Na Diocese de Guarda, D. Manuel Felício lembrou que a Páscoa é a afirmação de que a morte “deixa de ser a última palavra”, que passa “a pertencer à vida”, e manifestou a sua proximidade a quem está a cuidar de quem sofre por causa da pandemia, lembrando também quem “de forma anónima, garante que “a vida não pare e a luta conta o inimigo comum e invisível se mantenha firme”.

“Através dos muitos meios possíveis quere­mos estar próximos de todos os que se encontram na linha mais da frente, a prestar cuidados aos que mais sofrem, quer nos hospitais, quer nas casas onde se encontram os mais vulneráveis, como são os lares;  Mas também nos serviços essenciais, sobretudo farmácias e lugares de abastecimento ou mesmo quem se ocupa nos serviços de limpeza”, afirmou o bispo de Guarda.

O bispo de Lamego publicou uma reflexão sobre a liturgia deste “Domingo da dádiva da Ressurreição” no blog ‘Mesa de palavras’, afirmando que a morte e ressurreição de Lázaro “remete de forma clara” para a morte e ressurreição de Jesus.

“Em boa verdade, o episódio da morte / ressurreição de Lázaro remete de forma clara para a Morte / Ressurreição do Senhor. O tempo que marca a narrativa não é o tempo de Lázaro (da sua doença, da sua morte, do seu sepultamento), mas é o tempo (a hora) de Jesus, o Filho de Deus, Aquele-que-Vem sempre, passageiro total, pascal”, escreve D. António Couto.

Na Casa Episcopal da Diocese de Leiria-Fátima, o cardeal D. António Marto lembrou que este dia seria de peregrinação diocesana ao Santuário de Fátima e convidou todos a viver o domingo em “espírito de peregrinação” e na “compaixão” por quem sofre, à semelhança de Jesus na família de Betânia.

“As lágrimas de Cristo são as nossas lágrimas, as lágrimas da humanidade face ao mistério do sofrimento e da morte, são lágrimas de oração que nos ensinam a rezar a partir da dor e do amor”, afirmou D. António Marto, manifestando proximidade  a quem sofre –  os enfermos, os que estão internados, em quarentena, em confinamento, os idosos, os sós, os que morreram e os seus familiares em luto –  e lembrando que a ordem dada a Lázaro “sai para fora” é repetida a cada um nos dias de hoje.

Em Lisboa, na Missa transmitida pela RTP a partir da Igreja de Cristo Rei da Portela, o cardeal-patriarca de Lisboa referiu-se à situação atual de “distância que é necessário manter”, onde todos parecem estar “separados de todos”, como estava Lázaro, no túmulo, de uma forma que “parecia definitiva” e que veio a revelar-se transitória.

D. Manuel Clemente disse que, como Jesus diante de Lázaro, as atitudes que é necessário manter “diante de tanto sofrimento, tanta consternação e trabalhos na presente pandemia” são: condoer-se diante do sofrimento e com as manifestações “tocantes” da sociedade portuguesa de reconhecimento a todos os que cuidam dos outros, rezar em “igrejas domésticas” e libertar-se, permitindo que a libertação de Deus passe por quem crê.

Na Diocese de Santarém, D. José Traquina publicou uma mensagem vídeo sobre a liturgia do V Domingo da Quaresma, questionando sobre o sepulcro em que cada um está inserido, que pode não ser a casa em que cada um está “fechado por razões da epidemia”, mas pode ser o coração.

“Quando o coração é um cofre fechado, que não permite a vida, é para esse coração que a Palavra faz falta: sai desse coração, abre-te à graça, abre-te ao amor, deixa que a luz entre e assim acontece vida nova”, afirmou o bispo de Santarém.

Na Igreja de São Sebastião, em Setúbal, o comentário de D. José Ornelas ao diálogo entre as irmãs de Lázaro e Jesus, foi o pretexto para lembrar as perguntas da humanidade envolvida numa pandemia, que questiona as razões do sofrimento e da morte.

Para o bispo de Setúbal, “isto não se resolve com discursos” e, à semelhança da narrativa do Evangelho onde Jesus não propõe à família de Betânia um “princípio teórico” ou uma “revivificação de Lázaro por uns dias” mas “libertação da morte”, também hoje desafia a descobrir os muitos gestos de libertação da morte e de quem não desiste de “levantar os olhos para o céu”.

Talvez ouvíssemos Jesus dizer: ‘Procura-me nas urgências dos hospitais, cansado, de máscara, com equipamento protetor, arriscando a vida para que muitos possam viver; procura-me nos lares, acompanhando os mais frágeis, nos serviços mais elementares e indispensáveis, resistindo ao medo que seria pior que o próprio vírus; ando pelos laboratórios procurando soluções novas para esta crise nova; vou lavando estradas, juntando lixo, levando produtos para todos; podes ver-me também num padre ancião destes dias que ofereceu o seu ventilador a um jovem para que pudesse viver. Já tive a alegria de o abraçar, como a todos os que semearam na terra a semente da vida e do amor pelos outros. Eles parecem-se bem comigo porque Eu continuo presente neles e hoje eles estão comigo. E estou contigo e com vocês todos que ficam em casa quando vos apetecia sair’.

Na Sé de Vila Real, D. António Augusto lembrou “notícias perturbadoras” que se multiplicam na atualidade no contexto da pandemia que atinge familiares e conhecidos e, como no episódio do Evangelho, o desafio à confiança que Jesus dirigiu às irmãs de Lázaro é o que coloca nos dias de hoje, destacando o “esforço heroico” de quem cuida.

“Importa destacar o esforço heroico dos profissionais de saúde e dos cuidadores em geral que, com escassez de meios e risco de vida, são incansáveis a cuidar dos doentes. São testemunhos de vida que constituem hinos à gloria de Deus porque ilustram o melhor da humanidade”, afirmou o bispo de Vila Real.

(Em atualização)

PR

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