Igreja: Individualismo ameaça catolicismo português, diz bispo do Porto

«Imediatismo» e «tolerantismo» também contribuem para «erosão permanente», sublinha D. Manuel Clemente

Lisboa, 29 out 2011 (Ecclesia) – O “individualismo”, “imediatismo” e “tolerantismo” constituem “grandes desafios” ao catolicismo em Portugal, afirmou esta sexta-feira o bispo do Porto numa conferência realizada na Fundação Inês de Castro, em Coimbra.

As “instituições sobrevivem com dificuldades, dada a grande instabilidade dos itinerários individuais, tanto físicos como mentais” e “o cristianismo não é totalmente alheio a este movimento”, apontou D. Manuel Clemente no discurso publicado no site da diocese portuense.

O historiador referiu que “a realização comunitária da religião mantém-se mal num mundo tão disperso e os ritmos comunitários de iniciação e prática cederam face a outros ritmos de socialização e encontro, mais particulares e variáveis”.

No âmbito da cultura, “a revisão constante de certezas adquiridas, a desconfiança pós-moderna em relação às pré e metanarrativas” e a “comercialização geral e publicitária dos gostos e comportamentos” contribuem para que o catolicismo sofra “uma erosão permanente”.

“Estes e outros fatores dificultam ponderações comunitárias ou mesmo individuais, retraem para a sensibilidade ocasional, ‘cultivam’ pouco ou nada as opções, reagem instintivamente às normas recebidas, desconfiam geralmente das instituições que as transportam”, indicou.

Na intervenção intitulada “O catolicismo português de ontem para amanhã”, o Prémio Pessoa 2009 assinalou que “as afirmações definidas dalgum crente são facilmente tomadas como fanatismo ou despropósito” e “a proposta que faça a terceiros dum caminho religioso” é qualificada de “intromissão abusiva”.

“Não sendo esse o seu sentido original e de algum modo esquecendo o papel histórico que realmente desempenhou, a “tolerância” pode significar hoje, pura e simplesmente, “abandono de campo”, decaindo em tolerantismo”, acrescentou.

O prelado considera que seria “complexo” para o catolicismo e outras confissões religiosas a repercussão daquele “estado de espírito em políticas públicas que extravasassem o (legítimo) aconfessionalismo estatal no (incorreto) aconfessionalismo da sociedade”, que se mantém “religiosa em grande parte”.

“Como instituição quase global e mais antiga na sociedade portuguesa”, o catolicismo “tenta redefinir-se e relançar-se, com algumas linhas maiores de pensamento e ação”, como “dar visibilidade ao testemunho cristão, fazer da caridade a prioridade dos programas pastorais” e conceder “precedência à intimidade com Deus”.

“Num recente documento de trabalho da Conferência Episcopal Portuguesa” sublinhava-se igualmente a necessidade de “atender às novas problemáticas de crentes em situação não ‘sacramental’”, como recasados ou em união de facto.

O texto alertava também para a presença da Igreja “nas novas urbanizações e superfícies, bem como junto das minorias e dos mais pobres ou empobrecidos” e aconselhava os responsáveis eclesiais a fazerem “pronunciamentos breves e didáticos sobre as realidades concretas”.

RJM

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