Igreja: D. Américo Aguiar é cardeal há um ano

Bispo de Setúbal viveu um ano «muito de adaptação» e afirma que «é uma preparação que dura até ao fim da vida»

Foto: Ricardo Perna

Setúbal, 30 set 2024 (Ecclesia) – D. Américo Aguiar celebra hoje o primeiro aniversário da sua criação como cardeal, um ano “muito de adaptação” desde que recebeu o barrete cardinalício do Papa Francisco no dia 30 de setembro de 2023, no Vaticano.

“É uma adaptação a uma realidade que nenhum de nós espera, nem nenhum de nós está preparado para assumir. E vamo-nos convertendo, vamo-nos adaptando”, disse D. Américo Aguiar, sobre este primeiro ano que foi “muito de adaptação”, numa entrevista realizada pelo gabinete de comunicação da Diocese de Setúbal enviada à Agência ECCLESIA.

Há um ano, no dia 30 setembro 2023, o Papa Francisco entregou o anel e o barrete cardinalícios a D. Américo Aguiar, pelas 10h39 (menos uma em Lisboa), numa cerimónia que decorreu na Praça de São Pedro.

“A principal questão que me condiciona, por vezes, tem a ver com a espontaneidade, de uma resposta, ou de uma partilha, ou de um gesto, que tenho de ter consciência que, nesta circunstância, posso estar a vincular negativamente, ou vincular sem ter razão para isso, qualquer posicionamento do Santo Padre, ou até da Igreja”, desenvolveu o cardeal português, sobre “uma preparação que dura até ao fim da vida”.

No nono consistório do atual pontificado, Francisco criou 21 cardeais, reforçando o Colégio Cardinalício que chega a 90 países; cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação: D. Américo Aguiar foi o 17.º dos 20 prelados presentes (o cardeal Luis Pascual Dri, devido à sua idade, então com 96 anos, não esteve no Vaticano).

Foto: Ricardo Perna

D. Américo Aguiar assinala que vão fazendo parte de um grupo que “é representativo do mundo”, e que os últimos Papas foram fazendo um esforço para que os cardeais “viessem das proveniências mais diversas”, com o Papa Francisco a surpreender em algumas escolhas, “principalmente com geografias que nunca tinham tido qualquer eclesiástico que tivesse sido cardeal”.

“Esta diversidade do Colégio Cardinalício é uma riqueza, mas também é um desafio, vou encontrando, e vou aprendendo, e vou também partilhando naquilo que significa exatamente essa diversidade que o Papa Francisco quer que também esteja representada, e signifique a realidade da Igreja no mundo, também dentro do Colégio Cardinalício”, desenvolveu.

Um ano após a sua criação como cardeal, D. Américo Aguiar regressou ao Vaticano, agora para participar na segunda sessão da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos – dedicada ao tema “Por uma Igreja Sinodal. Comunhão. Participação. Missão” -, entre os dias 2 e 27 de outubro, por nomeação do Papa Francisco.

“Nunca participei num sínodo. Fui ouvindo os relatos; e agora é um batismo de sínodo, nesta circunstância de cardeal; Estarei de corpo inteiro, o coração dividido, certamente, entre Roma e Setúbal, para aquilo que vai acontecer no mês de outubro. E rezando para que tudo corra da melhor maneira e que possamos ir ao encontro daquilo que o Espírito diz à Igreja para os tempos dois”, referiu o cardeal português.

Foto: Ricardo Perna

Outro tema da entrevista foi a carta do Papa Francisco dirigida a todos os cardeais pedindo um “esforço suplementar” na reforma económica da Santa Sé, particularmente na “redução de custos”, divulgada no dia 20 de setembro pelo Vaticano.

“Na nossa Diocese de Setúbal temos paróquias diferentes naquilo que significa a sua vida económica, a sua sustentabilidade. Em Portugal a situação das dioceses é muito diferente umas das outras. E no mundo, a situação da Igreja Católica, nos vários países, também é muito diversa. E o Papa chama a atenção para aquilo que são os custos do funcionamento da máquina Roma, e daquilo que é a responsabilidade que todos devemos sentir”, assinalou D. Américo Aguiar.

O bispo de Setúbal explicou que economicamente uma diocese “vive da partilha das pessoas nas paróquias”, e as paróquias partilham com a diocese, enquanto a “sustentabilidade de Roma” deve ser daquilo que é a partilha das dioceses, afirmando que todos têm de “despertar para esta nova realidade, que convida a uma vida mais simples”.

CB/PR

 

Foto: Ricardo Perna

D. Américo Aguiar foi criado cardeal-presbítero, recebendo o título de Santo António de Pádua na Via Merulana (Sancti Antonii Patavini de Urbe), em Roma, igreja de que foram titulares, entre 1973 e 1998, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, e de 2001 a 2022 o cardeal brasileiro D. Claudio Hummes, uma figura muito próxima do Papa Francisco.

Cada cardeal é inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais.

D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, tornou-se o sétimo cardeal português do século XXI e quarto a ser criado no atual pontificado, a nomeação cardinalícia foi anunciada a 9 de julho de 2023; junta-se a D. José Saraiva Martins, D. Manuel Monteiro de Castro, D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino Mendonça no Colégio Cardinalício; D. José Policarpo, falecido em 2014, foi criado cardeal em 2011.

 

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Agência ECCLESIA

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